“Por Lugares Incríveis”-”All The Bright Places”, Estados
Unidos, 2020
Direção: Brett Haley
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Era noite, ele vinha correndo pela rua deserta, ouvindo
música com seus fones de ouvido. De repente, ele estanca. Ela estava de pé no
parapeito da ponte e olhava para baixo. Iria pular? Mas aquela não era a sua
colega de escola?
“- Violet Markey? “
E, sem pensar duas vezes, Theodore Finch salta também para o
parapeito da ponte, lado a lado com Violet:
“- Puxa! É bem mais alto do que eu pensei! ”
Ela olha ele através dos óculos e quando ele faz uma
gracinha e tenta ficar num pé só, ela se assusta. Qualquer pensamento de pular
daquela altura sumiu da cabeça dela, se é que havia pensado mesmo seriamente
nisso.
Ele puxa conversa com ela e, de mau humor, ela responde a
tudo com monossílabos. Ele parece animado. Certamente pensa o que vai dizer
depois, quando estiverem mais íntimos:
“- Salvei sua vida. ”
O fato é que os dois estão vivendo fases difíceis. Aos 17
anos, deveriam estar se formando e se preparando para a universidade. Mas o
luto impede Violet (Elle Fanning, ótima) de viver plenamente. Sua irmã mais
velha morrera num acidente de carro, onde estavam as duas e a irmã dirigia.
Bateram na coluna da ponte. Daquela ponte onde Finch a encontrara. Violet
sente-se culpada por estar viva e amarga uma tristeza e um afastamento da
companhia dos amigos. Seus pais estão preocupados.
Já Theodore, que é considerado estranho pelos colegas da
escola, falta muito nas aulas e não coopera nas sessões de aconselhamento que
deveria assistir.
Esses dois vão se aproximar depois da noite da ponte por
causa de um trabalho da escola. Vão se conhecer melhor e namorar. Ou melhor,
Violet é que se engana ao pensar que Finch é um garoto como os outros. Afinal
riem muito juntos e foi ele que tirou Violet da tristeza e do medo de andar de
carro.
Mas ela está enganada. O luto necessita mesmo de um período
de afastamento do mundo e reflexão sobre a perda. Violet tinha reações talvez
um pouco exageradas mas perfeitamente aceitáveis. Aos poucos ela volta a sorrir
e até a poder entrar no quarto da irmã, ver as fotos delas duas e sentir
saudades.
Mas quando Finch começa a sumir sem dar notícias, Violet
sofre e percebe que algo muito errado está acontecendo com ele.
O filme, baseado no livro de Jennifer Niven tem ótimas
atuações e trata de temas sérios. Mas deixa no ar o que está acontecendo com
Finch. Ele teve uma infância difícil, um pai abusivo, uma mãe que viaja muito
por causa do trabalho e tem apenas a irmã mais velha e um melhor amigo. Mas é
fechado e não gosta de falar sobre si.
O problema de Finch é mais sério do que parece, se pensarmos
na necessidade que ele tem de sumir sem dar notícias, nem tentar explicar o
porquê do seu comportamento. Ele precisaria de toda a ajuda com que pudesse
contar. O psicólogo da escola faz de tudo para que ele venha às sessões de
aconselhamento mas Finch vem poucas vezes, ironizando as falas daquele que
tenta ajudá-lo, escondendo sua extrema carência e fragilidade com piadinhas e
dando a entender que não leva nada a sério.
A adolescência é um período complicado da vida, com muitas
angústias aparecendo frente à perda da infância e das responsabilidades que
esperam.
Infelizmente nem todos aguentam as pressões. Falar sobre o
que nos aflige sem criar tabus é saudável e necessário. O filme cumpre essa
função.
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