segunda-feira, 30 de março de 2020

Scarface



“Scarface”- Idem, Estados Unidos, 1983
Direção: Brian De Palma

Como numa tragédia grega, “Scarface” comenta sobre o perigo da não existência de limites em certos personagens. É em torno a eles que se desenrolam os dramas e seu destino final será fruto de uma avidez nunca saciada.
Tony Montana (Al Pacino, admirável) vai ser o centro dessa história infeliz porque ele não só a promove, como será fatalmente o principal atingido.
Ele já era assim quando chega aos Estados Unidos no início dos nos 80, num barco que traz refugiados cubanos para a Flórida, muitos saídos das prisões e malquistos em Cuba. Assim Fidel Castro se vinga dos americanos colocando criminosos entre os imigrantes.
Montana é um desses e executa friamente um político de Cuba, que estava entre os outros cubanos que esperavam documentos para entrar nos Estados Unidos. Ele era um matador profissional e gostava do que fazia.
Mas o começo foi difícil. Com seu amigo Manny Ribera (Steven Bauer) vão lavar pratos num restaurante mambembe em frente a uma famosa discoteca, onde toda noite desfilavam belas mulheres saídas de carros de luxo. Tony imediatamente se seduz pela noite glamurosa, ainda longe dele.
Mas logo os dois amigos largam os pratos e passam a cometer assassinatos por encomenda e traficar drogas. Tony é impetuoso e cruel. Quando fica conhecendo o dono da quadrilha local, já era famoso pelo assassinato do político cubano. Frank Lopez (Robert Loggia) toca no assunto e Tony responde:
“- Foi divertido.”
E percebemos o fascínio que ele sente quando vê uma bela loura (Michelle Pfeiffer) num provocante vestido verde descer as escadas da casa de Lopez. É a namorada do chefe mas isso não era empecilho para Tony que começa a cercá-la com olhares e elogios.
Quando ele promete para ela casamento e filhos, Elvira já tinha caído na teia de sedução de Tony que não mede os riscos de conquistar tudo que cobiça.
Ele vai abrir seu caminho para o topo pisando no sangue de quem se colocar em seu caminho. Está cego pela ambição e pela sensação inebriante do poder, turbinado por quilos de cocaína, que o ajudam a não pensar no que faz. Não percebe que destrói tudo que conquista. A ganância nunca satisfeita traz o tédio e a impressão de nada valer nessa vida que ele leva.
E ele se engana confundindo proteção com o sentimento de posse, quase incesto, que envolve sua relação com a irmã Gina (Mary Elizabeth Mastrantonio).
Brian De Palma dirigiu e Oliver Stone escreveu o roteiro desse filme que é mais do que um remake do dirigido por Howard Hawks com roteiro de Bem Hecht, em 1932, a quem o diretor dedica seu filme. Era baseado na história de Al Capone e se chamava “Scarface - A Vergonha de uma Nação”, mal visto pelos censores da época e proibido em alguns estados americanos, acusado de incitar à violência.
Já o filme de 1983 é mais do que um filme de gangster. É um retrato de um homem dirigido pelo seu egoísmo, avidez, enorme poder de autodestruição, agressividade exaltada e um tremendo sentimento de solidão.
“Scarface” não pode ser confundido com elogio à violência. E merece ser assistido pela atuação de Al Pacino, fantástica e comovente.


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