“Vox Lux - O Preço da Fama”-“Vox Lux”, Estados Unidos, 2018
Direção: Brady Corbet
Num filminho caseiro aparecem duas meninas, a mais velha em
primeiro plano, com chapéu de cowboy, dançando. Celeste, a menor e Eleanor, a
maior.
A voz de Willem Dafoe faz a narrativa e diz que Celeste
nasceu na América em 1986. Ela não era especial nem talentosa mas possuía
aquele “algo” que chamava a atenção. “No começo era gentil e cheia de graça”
diz, “mas olhem bem para ela. Já tem o jeito de uma empresária.”
Entendemos que o filme vai contar a história de Celeste. E
somos surpreendidos com um ataque a tiros na sala onde iria acontecer uma aula
de música, depois dos feriados de Natal.
Celeste (Raffey Cassidy) pede ao menino armado que poupe as
crianças. Sugere ficar com ele na sala:
“- Para orarmos juntos.”
Então o adolescente começa a atirar com fúria. Atinge
Celeste que se salva por milagre.
Estamos em 1999 e esse é o “Prólogo” da história. Passamos
ao “Gênesis 2000”.
Na cerimônia “in memoriam” aos alunos mortos, Celeste
encanta com uma voz de anjo, acompanhada no teclado pela irmã (Stacy Martin). A
TV mostra e um empresário aparece (Jude Law).
A canção torna-se um sucesso e Celeste inicia uma carreira
como cantora. Aos 14 anos ela já se mostra sexy. Mas logo começa a surgir uma
outra Celeste que aprende a gostar de beber e misturar com os analgésicos
fortes que tem que tomar por causa das dores causadas pela bala alojada na
cervical, lembrança cruel do tiro que levou na escola.
Em Los Angeles onde grava um vídeo encontra um roqueiro e
acontece a primeira transa. Sobre as músicas que canta diz:
“- É isso que eu gosto na música pop. Não quero que as
pessoas pensem muito. Quero que se sintam bem.”
Mas ela mesma tem pesadelos recorrentes sendo duas,
dirigindo num imenso túnel, “onde jaz um corpo não morto mas sem vida.”
O 9/11 acontece. E as irmãs se afastam.
Vem agora o “Ato II Regênesis 2017”.
Celeste tem 31 anos e uma filha adolescente (Raffey Cassidy,
em papel duplo) que mora com sua irmã. Elas se odeiam ou pelo menos é isso que
Celeste diz para a filha:
“- Ela nunca encontrou o que eu encontrei. Por isso tem
inveja.”
Natalie Portman interpreta com raiva e intensidade a Celeste
que chegou onde queria mas que pagou um preço alto. Nunca se refez do trauma do
atentado da escola com o qual se beneficiou e, por causa da culpa, parece
impedir-se inconscientemente de desfrutar da fama alcançada. Bebe muito, vive
drogada e o companheiro a abandonou por uma mais nova. Seu belo rosto está
quase sempre contorcido.
É agora que vai acontecer o terceiro atentado que marca a
vida de Celeste. Numa praia da Croácia, terroristas usando a mesma máscara
dourada que aparecia no vídeo dela, matam centenas de turistas.
E o jornalista pergunta a Celeste:
“- Você diria que houve uma mudança em nossa cultura que fez
com que grupos niilistas tenham cada vez mais interesse em ser vistos como
“superstars”?”
O sucesso da violência é uma marca de nossos tempos Fazem as
maiores manchetes na mídia.
Esse é o “Finale XXI” do filme que Brady Corbet escreveu e
dirigiu. É o seu segundo longa, aos 30 anos. Dedicou-o ao diretor Jonathan
Demme (1944-2017) de “O Silêncio dos Inocentes”.
E a gente sai meio zonza do cinema pensando em tudo isso e
tentando encontrar um sentido no talvez ainda inexplicável. Tudo ficou pior?
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