terça-feira, 30 de abril de 2019

Border



“Border”- “Grans”, Suécia, Dinamarca, 2018
Direção: Ali Abbasi

Estranhamento, repulsa, desconforto. É o que as pessoas geralmente sentem quando confrontadas com outro ser humano diferente delas mesmas. A polidez social manda que façamos de conta que não estamos perturbados. Apenas desviamos o olhar, seja da incapacidade, seja da deformação.
“Border” é uma fábula sobre esse fato que reconhecemos em nós mesmos. Vamos encontrar Tina, uma agente de alfândega (interpretada por Eva Melander, atriz fantástica), que no mínimo, é muito feia. Seu rosto de testa larga e curta, a pele grossa e com cicatrizes, o cabelo hirsuto e a expressão estranha, sempre com a boca aberta mostrando dentes grandes e amarelos, causa repulsa.
Ela parece um ser selvagem, saído de uma fotografia antiga ou desenho, mas não existente no mundo real. Diga-se de passagem que o trabalho de maquiagem é excepcional.
E, no entanto, ela é uma agente alfandegária indispensável naquele porto onde atracam navios e balsas vindas de outros países, trazendo toda sorte de passageiros. Tina funciona como um detector de coisas proibidas nas malas que eles trazem consigo. Mais, sabe quem tem um sentimento de culpa, raiva ou qualquer outro sentir inadequado. Seu nariz capta tudo isso com facilidade.
Tina vive numa casa na floresta próxima com um companheiro com quem parece não se dar bem. E é hostilizada pelos cães dele que vivem presos num canil ao lado da casa.
Assim que chega do trabalho, descalça, corre para a floresta onde finalmente se sente em casa. Raposas e alces não se assustam com a sua presença. Lá ela está livre de olhares hostis.
Um certo dia, um homem estranhamente parecido com Tina passa pelo posto que ela ocupa. Ela sente algo indefinível nele. Seu faro não sabe distinguir o que é que ela não está identificando em Vore (Eero Milonoff).
Claro que se reencontram e Vore parece libertar Tina da sensação de ser um monstro, porque ele conta para ela quem ela é. Pertencem os dois a um mesmo povo e ele a convida para se juntar a eles.
A cena de sexo entre os dois é curiosa e estranha para quem só acha normal o que conhece.
E mais não digo porque o espectador precisa ver para crer nas surpresas que o diretor Ali Abbasi, de origem iraniana, preparou na tela, inspirado pela história escrita e adaptada para o cinema por John Ajvide Lindquist, o mesmo autor do roteiro de “Deixa ela Entrar”.
Qual a fronteira que define o que é ser humano? Essa é a questão central do filme, que remete à empatia com o diferente e à pluralidade de gêneros.
Se você quer ver um filme criativo e estranho mas com uma mensagem contemporânea, não perca “Border”, que encantou a plateia do mais recente Festival de Cannes, onde ganhou o prêmio da Mostra “Un Certain Regard”.


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