terça-feira, 9 de abril de 2019

Três Faces




“Três Faces”- “Se rokh”, Irã, 2018
Direção: Jafar Panahi

Quando o filme “Três Faces” foi exibido em competição no Festival de Cannes 2018, o diretor não estava lá. Também não apareceu para receber pessoalmente o prêmio de melhor roteiro da competição oficial, a Palma de Ouro. Uma cadeira vermelha vazia sinalizava a ausência do cineasta.
Por que? Porque Jafar Panahi (“O Balão Branco”) está proibido de viajar para fora do país, o Irã, e também não pode fazer filmes. O regime dos aiatolás o considera um inimigo.
Mas ele conseguiu não obedecer e já são três filmes depois da proibição, que chegam até nós: “Isto Não é um Filme", "Taxi Teerã” e esse “Três Faces”. Todos filmados quase que sem nenhum orçamento e escondido.
“Três Faces” tem um subtexto tocando sutilmente nos problemas do país no que diz respeito à falta de liberdade de expressão. E nada melhor que mostrar como as mulheres são tratadas. O filme se passa numa zona rural na fronteira do Irã com a Turquia e o Azerbaijão. A população tem problemas com a infraestrutura não tendo acesso livre à eletricidade, por exemplo, tendo que conviver com cortes inesperados. Também não há médicos que atendam à população, entregue à própria sorte.
As três faces de que fala o título e, em torno às quais é contada a história, são faces femininas.
A primeira, é a de uma atriz muito conhecida no Irã, Behnaz Jafari que viaja para o interior do país com o diretor do filme. Aqui todos os personagens são eles mesmos, usando seu próprio nome.
Acontece que a atriz está muito preocupada não sabendo se é verdade ou mentira um vídeo que lhe chegou às mãos. Trata-se da jovem Marziyeh, desesperada, pedindo sua ajuda e parecendo querer suicidar-se porque não a deixam estudar no Conservatório de Teerã. A família quer impedir que ela realize seu sonho de ser atriz e quer casá-la contra sua vontade. Ela é a segunda face.
A terceira é a de uma antiga atriz, Sharzad, que atuava como dançarina nos filmes de antes da revolução dos aiatolás e que vive isolada e só na mesma aldeia. É considerada mau exemplo para as meninas de lá.
O diretor, que também é tolhido em seus direitos de expressão, identifica-se com essas mulheres que sofrem ao serem subjugadas pelas famílias tradicionais através do machismo reinante.
A população da zona rural visitada ainda obedece a regras não escritas e acredita em crenças supersticiosas.
Jafar Panahi não julga. Apenas retrata o estado de coisas nessa região e mostra como o Irã ainda guarda uma cultura fechada a inovações, o que interessa ao governo do país.



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