“Vidas à Deriva”- “Adrift”, Estados Unidos, 2018
Direção: Baltasar Kormákur
Mal dá para acreditar que estamos vendo uma história real.
Porque o filme já começa em meio ao pesadelo de um veleiro perdido num mar
cinza e bravo, com ondas chacoalhando tudo e água dentro do barco.
Ela (Shailene Woodley) luta para ficar em pé entre coisas
que flutuam na água onde está mergulhada. Madeiras rangem fazendo um ruído
ameaçador.
“- Richard! ”, ela grita desesperada. Mas só o rugir das
ondas responde.
Tami luta contra a escotilha que a tranca no interior do
veleiro. Com muito custo ela consegue sair. Ondas invadem o deck e o barco está
ao sabor de um mar ainda bravo. Ela olha em todas as direções mas não vê
ninguém. Onde está ele?
Há um flashback e voltamos para 1983, seis meses antes.
Tami saiu de casa com 16 anos e uma mochila nas costas. Morava
em San Diego, Califórnia, com os avós e a mãe, que a tivera aos 15 anos. O pai
hostilizado pela família dela, tinha parado de vir vê-la. Ela resolve sair pelo
mundo.
E aos 24 anos, loura e bela, na Polinésia francesa, pega
ondas, surfando sem medo e com prazer. Ali, um paraíso terrestre, cercado de um
mar azul transparente e praias brancas protegidas por recifes de coral,
ela conhece Richard (Sam Caflin) , um rapaz inglês de 33 anos. Ele tem um
veleiro, o Mayaluga (aquele que atravessa o horizonte) e é amor à primeira
vista.
Durante o jantar naquela mesma noite, eles trocam
confidências e olhares ternos.
“- Como é navegar só? ”, pergunta ela.
“- É horrível. Ou você está com frio, ou queimado, sempre
molhado, com fome e depois de alguns dias começam as alucinações. ”
“- Mas se não é divertido por que você navega só? ”
“- É um sentimento que não consigo descrever. Intenso. O
horizonte infinito. Começa assim e depois me sinto renascer. Quer vir comigo? ”
E os dois estão em pleno romance quando aparece um convite
para levar um veleiro para San Diego, com um bom pagamento e passagens de volta
de primeira classe. Eles topam a aventura.
Mal sabem que os espera uma grande tormenta em alto mar. O
furacão Raymond, de força 4, espreita atrás do por do sol vermelho. E vai ser o
pior dos pesadelos.
Tami encontra forças em si mesma que não suspeitava que
existiam. E depois de ficar só por alguns dias, pedindo socorro pelo rádio
surdo e mudo e procurando Richard com binóculos, encontra o amor de sua vida,
muito ferido.
Consegue trazê-lo para o veleiro mas é ela que tem que fazer
tudo a bordo. Ele não consegue se mexer.
O barco vai ficar 41 dias à deriva antes de acontecer o
milagre da terra firme.
“Vidas à Deriva”, baseado no livro da protagonista e
produzido pela atriz que a interpreta, é um belo filme emocionante que conta
uma aventura perigosa da vida real, mostrando que vale a pena enfrentar a quase
morte e sobreviver.
Poderia ser apenas mais um filme de superação mas não é. E
isso graças ao talento dos atores e do diretor islandês, Baltasar Kormákur, 51
anos, que conseguiu filmar cenas difíceis e poéticas com maestria.
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