terça-feira, 26 de junho de 2018

O Amante Duplo



“O Amante Duplo”- “L’Amant Double”, França, Bélgica, 2017
Direção: François Ozon

Imagens desconcertantes na tela. Uma mocinha tem o cabelo longo cortado. Ela olha sedutora para a câmera. Há um close de uma vagina cor de rosa que parece uma flor. A imagem de um olho enorme se segue.
Chloé (Matina Vacth de “Jovem e Bela”) está na ginecologista. Que a avisa:
“- Se você emagrecer muito, suas regras não vão voltar...”e acrescenta, “acho que as dores abdominais que você tem são psicológicas. Procure fazer uma terapia. ”
E vemos Chloé subindo as escadas para o consultório do Dr Paul Meyer, indicado pela médica. E, na primeira vez que vê o terapeuta sentado na frente dela, um rapaz bonito, louro, de óculos (Jérémie Renier), ela diz:
“- Tenho dores na barriga. Fiz regimes especiais. Cortei o glúten. Fui a especialistas. Dizem que o intestino é o segundo cérebro. Tenho 25 anos. Moro sozinha com meu gato Milo. Fui modelo. Tive histórias de amor. Meu trabalho me estressa. Acho que sou incapaz de amar. Sinto-me vazia. Algo me falta. Choro sem razão. Você pode me ajudar? ”
“- Sua dor fala por você, vamos ver juntos do que se trata ”, responde ele.
E começam as sessões. Numa delas ela diz:
“- Quando eu era criança, eu imaginava que tinha uma irmã gêmea. Um duplo para me proteger. ”
Em outra:
“- Fui educada por meus avós. Minha mãe não me ama e isso me faz mal. No enterro dela eu me via no caixão...  Quando você me olha assim, digo a mim mesma que eu existo. “
Já dá para ver que estamos frente a uma mocinha muito doente. E, quando o terapeuta encerra as sessões porque se apaixona por ela e vão morar juntos, Chloé vai ficar desprotegida.
Será através dos olhos dela que vamos conhecer o desenrolar da história. E vamos nos perguntar: mas o que é sonho ou alucinação e o que é realidade? Os limites estão borrados. Vamos acompanhando Chloé e percebendo que tudo fica cada vez mais confuso e amedrontador.
François Ozon, 60 anos, é um diretor francês muitas vezes premiado por seus filmes originais. Podemos citar “Frantz”2016, “Uma Nova Amiga”2014, “Dentro de Casa”2012, “8 Mulheres”2010, ”Ricky”2009, “Sob a Areia”2000. Ele gosta de desafiar a inteligência do espectador e surpreender.
Em “O Amante Duplo”, inspirado por Joyce Carol Oates no seu “Lives of the Twins” (com o pseudônimo de Rosamond Smith), usa a sexualidade para falar de dissociação de personalidade, duplicidade, alucinação do duplo. Mas tudo isso com um erotismo a um passo da pornografia leve, que não é ofensivo nem de mau gosto.
Espelhos de todos os tamanhos e vidros que refletem as pessoas estão em toda parte onde Chloé vai. Dentro dela, um labirinto onde ela se perde.
O filme vai montando um suspense e lembramos de Hitchcock em “Marnie, confissões de uma ladra” e Paul Verhoeven em “Elle”.
Exótico, Ozon seduz pela beleza das imagens, dos corpos dos atores e pelo apelo à excitação que alimenta a libido da plateia.
Mas, nem todos vão gostar. Eu digo: experimente.

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