“Paraíso
Perdido”, Brasil, 2017
Direção:
Monique Gardenberg
Uma cortina
vermelha iluminada e um bolero romântico são a apresentação sedutora do filme
que vamos ver.
O grandão
Erasmo Carlos docemente apresenta seu cabaré:
“- Esqueçam
a vida lá fora e sejam felizes aqui no Paraíso Perdido, lugar para aqueles que
sabem amar. “
Mas a cena
corta para um “flashback” que só vamos entender depois. Uma mocinha grávida,
com o rosto machucado, dá um tiro em alguém que está numa cama, flagrada por um
menino que se esconde.
Há um amor
que exige vingança? Violência gera violência.
E somos
reconduzidos ao palco onde canta Ímã (Jaloo) num vestido longo cor de rosa,
peruca de cabelos escuros e franja. Doçura e sensualidade nos envolvem,
atraídos pela voz suave. Olhares são trocados com um rapaz na plateia (Humberto
Carrão) que segue o vestido rosa até a rua. Trocam beijos que vão se tornando
mais quentes. Mas o rapaz empurra o objeto do seu desejo e foge.
E lá, no
espaço fora do ninho, irrompe a violência covarde. No chão, Ímã, agredida por
homens anônimos, é acudida por um anjo da guarda, como diz o avô José (Erasmo
Carlos). Odair (Lee Taylor) é policial de dia e é contratado para proteger Ímã
à noite.
Aparece
outro tipo de violência, aquela que não admite o diferente que exerce o desejo
proibido.
Aos poucos,
vamos conhecendo a família de José: o filho Ângelo (Júlio Andrade) que canta
tão bem as músicas de amor magoado é pai de Celeste (Júlia Konrad) que está
grávida do namorado. Ângelo é também irmão de Eva (Hermila Guedes), que vai
aparecer depois, mãe de Ímã. Seu Jorge faz o irmão adotivo.
O cabaré no
Baixo Augusta é o refúgio dessa família que viveu e ainda vive dores de amores
e violências. Mas há entre eles muita solidariedade e respeito. É como se nos
ensinassem que cada qual precisa aprender a viver a própria vida e perdoar,
porque o amor não existe sem desencontros. Nessa família, vítimas de todo tipo
de violência apontam para a tragédia da vingança e a necessidade de perdão que
quebra esse ciclo perverso.
Monique
Gardenberg conseguiu reunir um elenco extraordinário e todos tem seu momento de
protagonista. E a música romântica, de gosto popular, costura as histórias
através das canções que são apresentadas no palco iluminado por cores de
Almodóvar e David Linch. São sucessos como “De que vale tudo na vida” e “Todo
sujo de batom” na voz bonita de Júlio Andrade, grande ator e até agora
desconhecido como cantor. Ou “Amor Marginal” que Jaloo interpreta com um
vestido prateado e peruca platinada num lindo visual, sem esquecer de “You’re
so vain” sucesso dos anos 70 traduzido do inglês que virou “Você vem”. Isso
para não falar de Erasmo em “Quem tudo quer nada tem”, fazendo tão bem o
personagem do avô e pai amoroso.
A luz de
Pedro Farkas cria o clima de paraíso com cores delicadas e pinta de realidade o
espaço fora do palco.
Os figurinos
de Cassio Brasil são originais e vestem cada personagem de acordo com sua
personalidade. Destaque para o paletó de veludo com rosas de Seu Jorge e a
jaqueta de couro azul turquesa que veste Júlio Andrade e todos os visuais de
Ímã.
Zeca Baleiro
é dono da produção musical que ajudou a diretora a achar a trilha sonora ideal
para o sonho dela.
Saímos
felizes de “Paraíso Perdido”, um filme bem Brasil, que traz esperanças e nos
encanta nesses tempos tão difíceis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário