Direção: Kogonada
Só vai gostar de “Columbus”
quem aprecia arquitetura?
Prefiro pensar que talvez,
quem vai apaixonar-se pelo filme de estreia de Kogonada, será quem tem uma
queda por experiências estéticas que sejam vividas através das emoções e não da
razão.
Ou seja, olhos que conduzem
ao coração. Não é coisa só de gente sofisticada e viajada. Não. “Columbus” é
para os sensíveis à arte e à complexidade da natureza humana. Porque os
personagens principais vivem, em meio à beleza da cidade, uma experiência
simples e, ao mesmo tempo marcante, um com o outro.
Jin (John Cho) e Casey (Haley
Lu Richardson) encontram-se por acaso em Columbus, cidade americana no estado
de Indiana, que possui edifícios assinados por grandes arquitetos modernistas
como o finlandês Eliel Saarinen (1873- 1950) e seu filho Eero Saarinen (1923-
1961) e I.M.Pei.
Casey trabalha como guia que
leva os turistas a conhecer tais edifícios célebres. E Jin, que é tradutor na
Coréia do Sul, teve que viajar para Columbus porque seu pai, famoso professor de Arquitetura, após um desmaio,
entrou em coma e está no hospital em Columbus, sem poder viajar de avião de
volta para Seul.
Os dois passeiam pela cidade,
seus prédios, ruas, parques e jardins e conversam. Dessas trocas, tímidas a
princípio, vai surgir uma amizade e um querer bem que irá ajudar aqueles dois a
vencer obstáculos em suas vidas atuais.
Jin sempre achou que seu pai
não se interessava por ele e que nunca conseguiram conversar. Casey, garota
brilhante, passou por um período ruim em sua vida de adolescente quando sua mãe
viciou-se em anfetaminas. Ela parou os estudos e trabalha agora como guia e
também na biblioteca. Não pode pensar em sair da cidade para fazer uma
faculdade de arquitetura, sua paixão, porque não tem dinheiro mas
principalmente porque acha que precisa cuidar da mãe (Michelle Forbes).
Casey é quem traz para a
conversa com Jin a ideia de que a arquitetura seria “curativa”. Para ela, desde
os tempos de menina, a visão de uma certa obra de Saarinen pacificava suas
angústias. Essa qualidade “curativa” da arquitetura se aliaria ao abrigo e
acolhimento aos seres humanos que as obras modernistas ofereceriam em seus
interiores, sejam casa, banco, igreja, ponte, escola ou hospital.
“- Meu pai iria te adorar”,
diz Jin que desenvolveu uma defesa afetiva contra a paixão do pai, que parece
ir diminuindo com os passeios com Casey.
Cada um deles tem outro amigo
mais antigo. Casey gosta da companhia de Gabe (Rory Culkin) que é um aluno com
mestrado e é colega dela na biblioteca. Enquanto que Jin tem a antiga aluna e
companheira do pai dele, Eleanor (Parker Posey), por quem teve uma paixonite
aos 18 anos.
Rogonada, que nasceu na
Coréia do Sul mas foi criado nos Estados Unidos, dirigiu, escreveu o roteiro e
montou seu primeiro longa. Ele, que era crítico de cinema, estreia como
cineasta assinando esse filme independente, belo e original.
A fotografia de Elisha
Christian convida à contemplação da beleza dos edifícios e seus ângulos mais
inusitados, a descansar a vista nos jardins de gramados manicurados, salgueiros
melancólicos e composição de árvores, tanto como interiores com objetos
escolhidos a dedo e um surpreendente rio cor de chá.
Mas captura também o instante
que vivem os personagens, na pele dos atores, em seus “closes” emoldurados de
luzes, refletidos em espelhos e até mesmo desaparecidos na tela e presentes no
som de suas vozes. Há sempre uma imagem com detalhes interessantes que nosso
olhar quer descobrir.
Aventure-se e vá viver no
cinema momentos de emoção e pura contemplação com esse singelo e extraordinário
“Columbus”.
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