“Bingo - O Rei das Manhãs”,
Brasil, 2017
Direção: Daniel Rezende
Nos anos 80, o apresentador
do jornal da TV pergunta:
“- Quem é o homem por trás da
máscara? ”
Referia-se ao famoso palhaço
Bingo (o nome Bozo não foi usado no filme por problemas de marca), que dominava
a audiência das manhãs com seu programa infantil. Por contrato, o palhaço não
podia revelar sua identidade.
E esse foi o problema central
na vida de Augusto (Arlindo Barreto na vida real) que conseguira o lugar do
famoso palhaço da TV americana. Porque atrás da maquiagem e peruca de cabelos
azuis, existia um ex ator de pornochanchadas que queria ter sucesso também como
ele mesmo. Os holofotes iluminavam o palhaço e feriam cada vez mais o
narcisismo de Augusto, levando-o a extremos no uso de drogas, bebida e
frequentação da mulherada.
Pior. Isso também ocorria a
poucos passos das câmaras de TV, nos intervalos do programa.
E foi o descontrole que
empurrou o pobre Augusto de volta ao lugar de onde tinha vindo, o anonimato. Um
dia, chegou no estúdio e foi avisado pela diretora do programa (a ótima Leandra
Leal), que um outro já vestia a fantasia. Estava despedido.
Por causa da fama que lhe
subira à cabeça, tanto que queria mais, sempre mais, numa compulsão poderosa,
afastara-se do filho pequeno (Cauã Martins) e da mãe (Ana Lúcia Torre, que faz
o papel de Marcia de Windsor, atriz que acabou decadente, como jurada na TV).
Essa compulsão por fama e
falta de crítica, fez Augusto inserir piadas e falas fora do roteiro e mais,
até convidar Gretchen (a única que aparece com seu nome real, interpretada por
Emanuelle Araújo), uma de suas namoradas, a rebolar e cantar “Conga, Conga,
Conga” para as crianças.
Vladimir Brichta faz muito
bem o homem ávido por fama e reconhecimento. Em sua atuação, transparece
claramente a complexidade da personalidade de Augusto. Aparecem as camadas
infantis que facilitavam sua comunicação com as crianças e um outro lado
perverso, que também passava através das palhaçadas e que acabaram produzindo
uma atitude onipotente que foi a sua ruina.
Uma nota de tristeza é a
presença de Domingos Montagner que faz a plateia sentir saudades desse ótimo
ator que nos deixou de forma trágica e a quem o filme é dedicado.
Daniel Rezende, em seu
primeiro longa, mostra sua familiaridade com o cinema, montador que foi de
diretores famosos como Fernando Meirelles (“Cidade de Deus”, montagem indicada
ao Oscar), Walter Salles (“Diários de Motocicleta”2004), José Padilha (“Tropa
de Elite”1 e 2, 2007 e 2010) e mesmo o diretor americano “cult”, Terrence
Malick (“Árvore da Vida”2011).
Auxiliado por Lula Carvalho e
sua fotografia talentosa, uma reconstituição de época excepcional e o roteiro
do excelente Luiz Bolognesi, o filme de Rezende se destaca na filmografia
nacional porque mostra que, para agradar às plateias mais diversas, não precisa
apelar para a vulgaridade.
Excelente trabalho.
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