sábado, 10 de junho de 2017

Neve Negra


“Neve Negra”- “Nieve Negra”, Argentina, Espanha, 2017
Direção: Martin Hodara

Como é difícil julgar algo ocorrido no passado com outras pessoas... Mesmo porque, até que um fato novo aconteça, não há interesse em remexer em velhos segredos. E é o que ocorre aqui, nessa família infeliz.
A cena inicial do filme é intrigante. Vemos alguém de costas, caminhando na neve com uma espingarda. Ouvimos uma voz chamar:
“- Juan? ”
E um menino de olhos claros se vira e encara quem chama. Essa cena traz o segredo escondido que agora vai emergir entre dois irmãos.
Salvador (Ricardo Darín, sempre estupendo) vive só, há 30 anos, numa montanha da Patagônia, que é sua reserva de caça particular. A propriedade familiar, num lugar ermo, guarda só o chalé, agora decrépito, onde moraram, desde sempre. Mas por que ele parece um eremita, cabelos desgrenhados, jeito sujo, vivendo numa situação de quase penúria? Seu rosto exprime desgosto e raiva.
Marcos e Laura, o irmão de Salvador e sua mulher grávida (Leonardo Sbaraglia e Laia Costa, atriz espanhola), chegam à Argentina para enterrar o pai dele e ficam sabendo que, numa carta do pai, há um pedido para que Marcos o enterre ao lado de Juan, seu filho caçula, morto há muito tempo atrás, na montanha.
Entendemos que Salvador, Marcos e Juan são irmãos e que há uma irmã (Dolores Fonzi, numa ponta marcante) internada numa clínica psiquiátrica. Da mãe não sabemos nada.
O velho amigo e advogado do pai (Federico Luppi) conversa com Marcos sobre a oferta de 9 milhões de dólares para a compra da propriedade familiar pelos canadenses. Falta a assinatura de Salvador.
“- Já disse que não falo com ele”, responde Marcos, ríspido.
Laura fica surpresa sobre a quantia oferecida, que viria a calhar para pagar as despesas com a cunhada na clínica e o bebê a caminho. Ela sabe muito pouco sobre a família do marido.
Mas, pesquisando no apartamento que fora do sogro, ela encontra cadernos de desenho da irmã internada. São estranhos e há um tema sexual explícito: animais copulando, uma mulher nua, sangue na neve.
Na foto da família a figura da mãe estava rasgada. Quem fez aquilo? Por que?
Mas nada é perguntado e Marcos se cala. A única coisa que Laura percebe na visita à irmã do marido, é que o pai deles era violento. E que Marcos vai levar a urna funerária até a montanha, como ele queria.
O filme foi rodado em Andorra, nas montanhas com pinheiros escuros, neblina e tempestades de neve. O clima é propício para a trama que tem buracos negros, com um segredo sobre o qual não se fala.
A fotografia é bela e triste. A música poderosa e lúgubre. Tudo concorre para que a plateia seja seduzida para querer saber mais sobre aquela família, da qual restam dois irmãos em litígio mudo e uma irmã louca tirada de cena.
O suspense vai sendo alimentado por cenas em “flashback” que mais parecem sonhos, recordações, lembranças vívidas, que são como que fantasmas que perseguem Marcos e Salvador e que Laura adivinha.
O final é surpreendente.
“Neve Negra”, com um ótimo elenco, é mais um sucesso do cinema argentino.



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