Direção: Paco León
A abertura do filme ilustra,
com belas imagens, que o sexo é natural porque os homens e mulheres fazem,
leões e leoas também fazem, flores se abrem em frutos, onças procuram seus
pares e lobos uivam.
Nelson Rodrigues, o grande
autor de teatro brasileiro, dizia que, se todos conhecessem a intimidade sexual
uns dos outros, ninguém se cumprimentaria. É uma frase de efeito que aponta
para a tara. Mas ele também dizia que o tarado é toda pessoa normal pega em
flagrante.
O roteiro de “Kiki” traz mais
nesse sentido, porque às vezes é difícil falar sobre o próprio desejo. Há uma
censura interna que nos faz ter vergonha. Certos desejos são então, difíceis de
satisfazer.
O filme se passa no quente
verão de Madri mostrando histórias de casais que tem esse problema em comum:
desejos secretos.
Assim, Ana (a argentina Ana
Katz) e Paco (Paco León, o diretor e co-roteirista) vão parar na terapia de
casais porque falta algo naquele casamento que eles não conseguem entender.
Será que não seria o caso de explorar melhor a sexualidade? E Belén (Belén
Cuesta), que é garçonete num bar, onde o sexo rola solto, vai ajudar o casal.
Já Natalia (Natalia de
Molina) e Alex (Alex Garcia) namoram e pensam em casamento, até que ela é
vítima de um assalto numa loja. A lâmina da faca em sua garganta, o ladrão
segurando seu corpo e Natalia sente algo que nunca havia sentido na vida. O
namorado fica preocupado.
E o cirurgião plástico (Luis
Bermajo), que é rejeitado na cama pela mulher (Maria Paz Sayaso), numa cadeira
de rodas depois de um acidente, que descobre um meio de satisfazer seus desejos
frustrados usando gotas mágicas? A empregada deles ganha uns peitões para ficar
calada.
Outro casal ainda, quer
filhos, mas não consegue porque o orgasmo da mulher está intimamente ligado às
lágrimas.
Para não falar na bela ruiva
(Alexandra Jimenez) que tem uma atração irresistível por seda. O orgasmo dela
na estação de trem depois de tocar uma certa camisa é bombástico.
Tudo isso, tratado com muito
humor e situações divertidas que mostram que os espanhóis estão se soltando,
porque o desejo se impõem. É mais forte que a censura.
Paco León que dirige e atua
no filme, fez uma refilmagem de um filme australiano, “The Little Death”, de
Josh Lawson, de 2014. Fernando Pérez e o próprio diretor escreveram o roteiro,
passando a ação para o verão em Madri, onde personagens dos mais variados, tem
desejos eróticos, os mais estranhos, com nomes pomposos: Dacrifilia, Elifilia,
Somnofilia, Arpaxofilia, Herbofilia.
“Kiki – Os segredos do
desejo” brinca com a dificuldade de realizar o prazer sexual e aponta
certamente para a culpa que envolve a sexualidade em nossa cultura ocidental.
Assistindo ao filme, o riso
contagia o público e liberta um pouco dos preconceitos as mentes menos abertas
para o assunto.
Tolerância para com os
desejos humanos que não fazem mal a ninguém, é o lema de “Kiki – Os segredos do
desejo”.
Se você não se escandaliza
muito facilmente, vá se divertir com essa boa comédia espanhola.
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