“Meu Rei”- “Mon Roi”, França,
2015
Direção: Maiwenn
Como explicar a paixão? É um sentimento avassalador que
prende com nó cego a possibilidade de pensar e agir com
liberdade.
Tony (Emmanuelle Bercot, tão verdadeira) fica refém
dessa armadilha e só vê Georgio (Vincent Cassel, convincente) na sua frente.
Ela, um pouco tímida, advogada, já tinha visto ele na boate e bar onde
trabalhava quando era estudante. Sempre cercado de mulheres
lindas.
Quando o encontra novamente, naquela mesma boate, toma
coragem e aproxima-se dele, repetindo o gesto que ele fazia, de respingar água
do balde de champagne no rosto das moças, parecendo
dizer:
“- Você vem para a cama
comigo!”
Surpreso, Georgio não se lembra dela. Mas esse gesto
dele, repetido por ela, tanto tempo depois, atraiu o narcisismo
dele.
Os olhos dela já brilhavam de paixão antes mesmo do
convite para a cama. E, depois, ele se torna “meu rei”, o dono de Tony e seus
desejos.
Ela ri encantada com tudo que ele diz. Drogada? É a
sensação.
Olhares cúmplices e orgasmos longos. Os olhos dela são
de devoção. O mundo era deles e era sempre uma festa.
Tony estava cega e imersa numa realidade fantástica
criada pela presença de Georgio. Em transe, o mundo dela desapareceu e ela se
inseriu no dele, ou assim pensava ela.
Mas, a realidade, que aparece aos poucos, primeiro
desprezada, vai ferir Tony de tal maneira, que serão precisos dez anos para que
ela possa acordar e lentamente recuperar-se.
Mas, antes disso, do alto dos Alpes nevado, com o rosto
e os cabelos batidos pelo vento gelado, ela lança-se na descida íngreme como se
algo terrível a perseguisse. Cai.
Na clínica à beira mar, com o diagnóstico de rompimento
total do ligamento cruzado anterior no joelho direito, ela vai ter um tempo para
voltar a andar e começar a limpar a cabeça daquilo que a
envenena.
A história é contada em “flashbacks” e entendemos, junto
com Tony, o que foi que aconteceu.
A decepção devolve a liberdade roubada pela
paixão.
O filme é de Maiwenn, jovem e bela diretora (“Polissia”
2011) e atriz francesa, 40 anos, que assina também o roteiro de “Meu
Rei”.
Emmanuelle Bercot, 48 anos, atriz e também diretora
(“De Cabeça Erguida” 2015), ganhou o
prêmio de interpretação feminina pelo papel em “Meu Rei” no Festival de Cannes
2015. Mereceu. Ela nos assusta e comove.
“Meu Rei” é um filme que pode ensinar uma ou duas coisas
sobre os perigos da paixão. Sem falsos moralismos, nem seriedade
demais.
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