“Lembranças de um Amor Eterno”- “La Corrispondenza”,
Itália, 2016
Direção: Giuseppe Tornatore
O amor é sempre generoso?
Depende.
No caso do professor de astrofísica Edward Phoerum
(Jeremy Irons) e sua aluna Amy Ryan (Olga Kurylenko), o amor dele por ela, faz
com que ele queira transpor a barreira do tempo/espaço e eternizar essa
relação.
Eles estudam estrelas. E sabemos o quanto pode ser
romântica a ideia de que uma estrela que já morreu, ainda brilha no céu, para os
nossos olhos, devido ao tempo de viagem da luz dessa estrela até nós na Terra.
Nossa vida é muito breve diante do tempo do universo.
Quando o professor Ed começa um caso amoroso com sua
aluna, ele está encantado por ela e ela por ele. Fazem amor escondidos num hotel
e isso parece que estimula os dois.
Amy, em suas horas fora da universidade, trabalha como
dublê em filmes de ação, em cenas que envolvem perigo. São carros que ela tem
que capotar em barrancos íngremes, explosões, incêndios. Há nela algo que
podemos chamar de namoro com a morte, como se inconscientemente se sentisse
culpada de algo. É como se merecesse a morte como
castigo.
Quando ficamos sabendo de um acidente de carro ocorrido
no passado, no qual ela dirigia e seu pai encontrou a morte, descobrimos o elo
que a prende ao perigo e talvez mesmo a atração pelo professor mais velho que
ela.
Amy é uma pessoa com problemas e, por isso, presa fácil
de um amor/prisão.
Quando o professor Ed descobre que está com uma doença
fatal, ele não conta nada para Amy. E desenvolve um esquema complicado,
envolvendo pessoas que o conhecem, que se tornam mensageiros do além túmulo, sem
o saber.
Ela recebe cartas, e-mails, mensagens no telefone,
vídeos, tudo que o faz presente na vida dela, mesmo depois de sua morte, que ela
descobre com um grande choque.
O amor de Ed por Amy é egoísta, possessivo, não a deixa
viver uma vida sem ele.
Esse amor é como uma maldição recebida como uma benção.
A garota que, inconscientemente se sente culpada pela morte do pai, merece um
amor sem o amado.
Amy é a mulher ideal para Ed entreter por toda a
eternidade, ou seja, enquanto durar a vida dela. Ele chega ao cúmulo de dar para
ela a casa na ilha de Borgo Ventoso, seu lugar preferido no mundo, repleto da
presença dele em tudo que ela toca.
Quando a vemos sentar-se na pedra onde ele se sentava
para olhar o lago e pensar nela, vemos a melancolia começar a ganhar terreno no
coração de Amy e tememos por sua vida.
Em nenhum momento Ed pensou em Amy como uma mulher
amorosa que mereceria ser amada por alguém de carne e osso, ao invés de um
fantasma tecnológico.
Giuseppe Tornatore, 60 anos, diretor do famoso “Cinema
Paradiso”de1988, “Malena”de 2000 com a bela Monica Belucci e do intrigante “O
Melhor Lance”de 2013, onde havia um homem velho apaixonado por uma mocinha, tem
sempre como colaborador na trilha sonora o premiado Ennio Morricone. Em
“Lembranças de um Amor Eterno” a música nos envolve em belas locações na Escócia
e Itália (com destaque para o encantador Lago d’Orta).
A direção dos belos e bons atores faz a história ganhar
certa credibilidade. Olga Kurylenko, que já foi uma Bond-girl, é bonita e
expressiva e Jeremy Irons tem o “physique du role” par atrair uma mulher bem
mais jovem do que ele.
E essa história de amor, apesar de todos os estratagemas
para conquistar a eternidade, serve para pensar que o amor só sobrevive quando é
generoso.
Porque o verdadeiro amor liberta, não aprisiona. O resto
é ingenuidade e auto-destruição.
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