Direção: Alejandro Inarritu
Imagens iniciais fascinantes. A câmara mostra
uma floresta de árvores enormes, raízes seculares, invadida pela água. Uma
floresta escura. Dois homens armados caminham à espreita da caça. Eis aí os
temas principais de “O Regresso”.
Já estamos frente ao medo e o perigo, o homem e
o animal sempre ameaçados e a natureza imponente, majestosa e impávida frente à
fraqueza dos seres que a habitam. Pensamos com receio na pequenez das criaturas
que lutam para sobreviver nesse cenário selvagem.
O filme é uma adaptação feita por Inarritu e
Mark L. Smith do livro escrito por Michael Punke, em 2002, que conta, com toques
de ficção, as aventuras de Hugh Glass, um personagem real que trabalhava em
1823-24 para a “Mountain Fur Company”, guiando caçadores de peles de castor num
terreno hostil. Com ele está o filho adolescente, Hawk (Forrest Goodluck),
descendente da tribo dos Pawnee, pelo lado da mãe. Aliás, vamos ver, no decorrer
da história, representantes das várias tribos que habitavam a região e viam o
homem branco como usurpador.
Hugh Glass sonha muito com essa bela mulher,
morta quando a tribo dela foi atacada. As cenas dessas lembranças sonhadas são
belíssimas. O filho Hawk é fictício e empresta um toque amoroso ao caráter de
Glass, dando uma direção emotiva à sua luta pela sobrevivência.
Há cenas de arrepiar mas a mais horripilante
vem logo no início de “O Regresso” e ficará na história do cinema. Uma mãe ursa
e seus dois filhotes são surpreendidos pela presença de Hugh Glass. A fêmea
ameaçada ataca com ferocidade. É um “grizzly”, urso conhecido por sua
agressividade. Filmada num único “take”, faz o espectador afundar na cadeira,
tal a veracidade com que o enorme animal é concebido. O ataque só não é fatal
porque Glass consegue atirar e ferir mortalmente o animal. Mas Glass fica muito
machucado. As garras e os dentes do animal, ferido e pesado, fazem um estrago no
homem frágil frente a uma força muito superior à dele. Depois da morte da ursa,
Glass jaz debaixo do corpanzil e os homens pensam que ele está morto.
Ele está vivo mas não consegue mais falar, nem
andar. Seu corpo está retaliado e o pescoço tem cortes profundos. Glass não pode
mais ser o guia dos caçadores. É deixado com o filho e dois outros para que
possam dar a ele um enterro digno. Todos estavam certos de que ele não
resistiria.
Mas esta é a surpresa. Em inglês, “revenant”
quer dizer “o que voltou dos mortos” e Glass sobrevive quando todos o
acreditavam morto.
Ele vive para uma vingança.
A dificuldade que o diretor mexicano Inarritu e
sua equipe tiveram que enfrentar para filmar em locação foram terríveis. Todo
dia, duas horas de carro até as montanhas no Canadá (Alberta) e uma temperatura
de muitos graus abaixo de zero.
O mago das lentes, Emmanuel Lubeski, além de
belas imagens da natureza, acompanha com sua câmara os esforços de Leonardo
DiCaprio para lutar contra o frio, sua dificuldade de caminhar e encontrar
abrigo, comida e segurança. Há momentos em que está tão perto da ação que fica
embaçada pela respiração do ator enquanto em outras é respingada pelo sangue que
jorra.
Leonardo DiCaprio mostra ser um ator completo.
Emoção, medo, desespero e força de vontade, vemos em seus olhos. Arrastando-se,
abrigando-se numa carcaça para se aquecer, lutando contra águas revoltas, tudo
que ele faz mostra um empenho de seu corpo e mente para fazer justiça ao homem
que ele interpreta com seu imenso talento. Já ganhou o Golden Globe e está na
lista dos indicados a melhor ator no Oscar 2016.
“O Regresso – The Revenant” é um filme
excepcional que homenageia o cinema verdade, aquele de antigamente, com locações
em regiões perdidas e uma luta não só do ator mas de toda a equipe para fazer
aquele filme e levar o espectador muito longe e, assim fazendo, nos confrontar
com nossa fragilidade mas também com a insuspeitada força que nos garante a
sobrevivência quando tudo está contra nós.
O filme ganhou o Golden Globe de melhor diretor
e melhor filme e tem 12 indicações para o Oscar 2016.
Bravo Inarritu!
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