Direção: Adam McKay
Sabe aquele sonho da casa própria que todo
mundo tem?
Pois é. Pode virar um pesadelo, quando a
ambição aumenta e encontra pessoas de má fé, prontas a emprestar força perversa
para uma avidez desmedida.
“A Grande Aposta” mostra que vivemos num
sistema financeiro alimentado por ganância e corrupção, com total desprezo pelo
cidadão comum que precisa de bens para viver e sentir-se feliz assim.
Mais. Existem saqueadores que seduzem e tiram o
que podem das pessoas mais ingênuas. Ricas e pobres.
Todo mundo já ouviu falar da crise de 2008, nos
Estados Unidos, que jogou na rua milhares de desempregados e deixou outros
tantos na penúria, sem um teto para cobrir a cabeça. Pois bem, o filme mostra
como tudo começou, como ninguém prestou atenção, nem teve juízo.
“A Grande Aposta” demonstra como as pessoas não
abrem o olho se tudo está, aparentemente, correndo bem para elas. Não notamos ou
esquecemos daquilo que pode toldar o brilho dos nossos dias. E aí começa a
encrenca.
Quem não entende, como eu, de economia, pode se
atrapalhar bastante com o jogo dos corretores e dos representantes dos bancos
frente à bolha no mercado imobiliário americano. São muitos personagens e termos
em “economês” que a pessoa comum mal sabe que existe. E essa é mais uma das
espertezas desse sistema: o uso de termos complicados e siglas estranhas, de
propósito, para enganar os ingênuos que não querem passar por
ignorantes.
O diretor Adam McKay, que adaptou o livro de
Michael Lewis, de 2010, usa de um estratagema divertido e eficaz quando chama
pessoas conhecidas para explicar o “esquema”, através de exemplos fáceis, que
todo mundo entende. O “chef” Anthony Bourdon, por exemplo, explica para o
público como se vende um peixe encalhado de três dias, transformando-o em um produto novo, o
ensopado. É o que fazem esses corretores inescrupulosos.
A maneira de contar essa história real é com a
câmara agitada e cortes abruptos e uma introdução de cenas que ilustram o
espírito do que está se passando com os personagens. E a trilha sonora acompanha
com comentários musicais.
Christian Bale, um dos envolvidos, é aquele que
vê, antes de todo mundo, o que vai acontecer e aposta contra o sistema, que ele
sabe que vai terminar mal. Considerado louco, é o único que viu o tsunami anos
antes, só fazendo o que ninguém faz, ou seja, prestando atenção nos números.
Ryan Gosling, um dos narradores e participantes
da história, apesar de compreender o que está acontecendo, o drama que vai
acontecer para muitas pessoas, aproveita-se bem da situação e faz sua conta
bancária engordar. Enquanto que Steve Carell, é o personagem mais angustiado e
indignado com o que vê acontecer.
Brad Pitt, que também é um dos produtores do
filme, faz uma ponta e é aquele que vive de acordo com o que todo mundo sabe
como deveria viver nos dias atuais. O ex-banqueiro é fã de comida orgânica da
própria horta e pomar, vive longe das grandes cidades mas está ainda ligado ao
mundo financeiro como uma espécie de consultor, apesar de não concordar com o
que fazem seus colegas.
O filme foi indicado para cinco Oscars: filme,
diretor, ator coadjuvante (Christian Bale), roteiro adaptado e montagem. E já
ganhou o prêmio de melhor filme do Sindicato de Produtores dos Estados Unidos,
que também votam no Oscar. Pode surpreender?
“A Grande Aposta” expõe uma chaga do mundo
contemporâneo. Tudo isso aconteceu mais de uma vez e vai acontecer novamente, se
deixarmos.
Saímos do cinema perplexos.
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