“Cinco Graças”- “Mustang”,Turquia, França,
Catar, Alemanha, 2015
Direção: Deniz Gamze Erguven
Elas são adoráveis. Cinco irmãs orfãs, criadas
pela avó, numa aldeia no norte da Turquia, longe de Istambul. Todas
adolescentes, entre 13 e 17 anos, morenas, pele clara, cabelos compridos e
esguias.
Aliás, o titulo original do filme, “Mustang”,
faz uma alusão aos cavalos selvagens da América, que corriam livres pelos amplos
campos e pradarias do oeste, quando os primeiros colonos os conheceram. Os
indios montavam a pelo esses animais, descendentes dos cavalos trazidos pelos
espanhois. Fortes, crinas ao vento, viviam em liberdade, até que foram
capturados e amestrados. Assim como os mustangues, as meninas vão passar por um
adestramento cruel.
No início do filme as vemos felizes e
brincalhonas, festejando o último dia de aula com uma ida à praia. Elas e os
meninos, seus colegas.
Não resistem ao apelo do mar azul e caem na
água, com roupa e tudo. Duas sobem nos ombros dos meninos e lutam para ver quem
cai primeiro. Tudo risos, liberdade de ser e ingenuidade infantil. Elas já são
mulheres nos corpos de pequenos seios e longas pernas, mas estão longe de ser
adultas.
Quando chegam em casa, a avó as espera com cara
severa. Sonay (Ilayda Akdojan), Selma (Tugba Sunguroglu), Ece (Elit Iscam), Nur
(Doga Doguslu) e Lale (Gunes Sensoy), tornaram-se a vergonha da
família:
“- A sra Petek me contou que minhas netas são
umas depravadas! Vocês se esfregaram no ombro dos meninos!”
Em seguida, o tio Erol (Ayberk Pekcan) leva as
meninas ao posto de saúde local para um exame de virgindade. Inútil dizer que
tais exames apenas comprovaram a inocência das meninas. Mas foi um
aviso.
“- Tudo que pudesse nos perverter, foi
proscrito”, ouvimos Lale, a narradora e menor das irmãs, dizer em
“off”.
E, a partir desse momento, a casa vira uma
prisão, na qual as meninas aprendem a ser boas donas de casa. Para isso é que
elas servem. Não vão mais à escola. O destino comum é o casamento arranjado
pelos pais e parentes.
Ainda hoje em dia, existem culturas que impõem
total obediência às mulheres. A maioria delas, como bem mostra o filme, não tem
escolha. E o machismo leva os homens a pensar que tem toda a liberdade para
dirigir a vida delas.
O machismo, entretanto, tem duas faces. No
filme, há uma cena onde se vê o tio, tão preocupado com a exigência da
virgindade, entrar à noite no quarto das sobrinhas menores. Não vemos o que
acontece ali mas Lale, a menor, esconde o rosto no travesseiro. Há portanto, uma
conduta masculina perversa e cruel, para não dizer imoral e
criminosa.
Mas não é só nas culturas exóticas que vemos
acontecer barbaridades com as mulheres. Muito perto de nós acontecem casos
semelhantes.
“Cinco Graças” foi o filme escolhido para
representar a França no Oscar 2016, apesar de ser falado em turco e passar-se na
Turquia. A diretora nasceu lá mas vive na França, de onde veio a maior parte dos
recursos para a execução do filme.
“Cinco Graças” além de mostrar atrizes
talentosas e de uma beleza sedutora, defende a luta pela liberdade de escolha.
Por tudo isso merece ser visto e apreciado.
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