Direção: Alexandros Avranas
Algo muito errado acontece naquela
família.
A menina que faz aniversário, onze anos mostram as velas
do bolo, se suicida durante a festinha, jogando-se pelo terraço do
apartamento.
A violência aparece sem ser anunciada, de forma
intrigante e assustadora.
Por que Angeliki fez aquilo? E com um sorriso nos
lábios, que só o espectador vê?
Todos se perguntam sobre isso na escola onde ela
estudou, na polícia que registra o ocorrido, no serviço social que aparece para
entender o que aconteceu, nos vizinhos que cochicham.
As relações de parentesco entre os membros daquela
família, só ficamos sabendo mais tarde. Há um homem de meia idade, uma mulher
mais velha, outra que é mãe de Angeliki e está grávida, uma menina de 14 anos,
Myrto, que era muito próxima daquela que se matou, uma menina de uns 10 anos e
um menino de 9.
Na família ninguém fala sobre o
acontecido.
Aquele que todos chamam de pai dá remédios fortes para a
mãe de Angeliki (Eleni Possinou), que parece muito deprimida. Mas ela só pode
chorar trancada no banheiro.
Todos moram juntos num apartamento agradável. Mas o
estranho vai se anunciando pelas brechas. Pelo
silêncio.
À mesa de refeições, todos se sentam eretos e calados,
esperando Phillipos, o chefe daquela família, muito rígido e
controlador.
As crianças são mandadas para a escola no dia seguinte
da tragédia, para espanto dos professores. É como se aquilo que aconteceu
tivesse que ser esquecido. O clima é de negação. Todos se anestesiam perante
algo que, de tão perturbador, tem que
ser expulso da mente.
Parece que todos temem o pai (magistral interpretação de
Themis Panou, que ganhou o prêmio de melhor ator em Veneza 2013), apesar de
algumas demonstrações mínimas de afeto.
“Miss Violence” é o segundo longa do jovem diretor
grego, Alexandros Avanas, 36 anos, que ganhou o Leão de Prata de melhor direção
em Veneza 2013. Aparentemente é um filme que trata de segredos de família bem
guardados que são revelados quando,
inesperadamente, a violência explode naquele suicídio
infantil.
O diretor, que escreveu o roteiro em dupla com Kostas
Peroulis, vai induzindo o espectador a imaginar o que acontece ali, diante de
pequenos sinais. O enquadramento fechado da câmera ajuda a criar sobressaltos e
inquietação. Portas que se abrem e fecham. Silêncios e poucas
palavras.
E quando nos confrontamos com a perversão crua, o horror
nos prende e sufoca.
É a natureza humana em seu pior estado. Autoridade e
submissão doentias.
Alguns viram no filme uma intenção de chocar. Outros uma
metáfora sobre o estado dos valores morais e éticos na Grécia, que passa por uma
grave crise econômica. Outros ainda, como uma leitura ampliada do núcleo
familiar contemporâneo, com seus desmandos e
manipulações.
“Miss Violence” é sobretudo, um filme pesado e brilhante
na maneira como mostra toda nossa impotência e
fragilidade.
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