Direção: Abel Ferrara
Todo mundo ouviu falar desse escândalo acontecido em
maio de 2011. Afinal, o homem era presidente do Fundo Monetário Internacional,
casado com uma jornalista famosa, herdeira de uma grande fortuna e possível
candidato à Presidência da República na França, pelo Partido Socialista, nas
eleições de 2012. Professor da Universidade de Paris, sua atuação política
incluía o cargo de deputado a partir de 1986, Ministro sob vários presidentes,
reeleito três vezes para a Assembleia Nacional.
Como entender que um homem com essa carreira brilhante
tenha sido preso em Nova York sob acusação de abuso sexual, cometido em um
hotel, com uma camareira humilde?
O filme de Ferrara, 62 anos, começa com os habituais
letreiros negando que a história do filme tenha a ver com Dominique
Strauss-Kahn. Tudo para evitar processos.
Compreensível.
Mas o que diferencia o filme de uma cinebiografia
qualquer é o depoimento de Gérard Depardieu, no início. O ator, que não faz
muito tempo se indispôs com o governo francês e naturalizou-se russo, em
“close”, afirma que odeia políticos, que não gosta do personagem que interpreta
no filme, mas que prefere atuar na pele de alguém que odeie porque assim passa
mais verdade para o público. E ele está brilhante no papel desse
homem.
Ao som de “America, the Beautiful”, numa versão
tristonha, a face escondida de Georges Deveraux (Gérard Depardieu) começa a ser
mostrada pela câmara de Abel Ferrara. Um debochado homem gordo recebe um alto
funcionário da segurança em seu gabinete parisiense, em meio a mulheres
vulgares, que se sentam à vontade em seu colo e também no colo do funcionário
espantado. Corpos são apalpados por mãos rechonchudas que, sem cerimonia,
parecem conhecer bem o caminho. Serviços sexuais explícitos são oferecidos ao
homem que não está nada à vontade e são recusados:
“- Estou aqui à trabalho.”
Corte para o aeroporto. Vemos Georges chegar a Nova
York. Físico avantajado, feições inexpressivas, ele faz o “check-in” no hotel,
recebido com rapapés.
E começa a espantosa noite de orgia. Georges serve-se de
mulheres que estão à sua disposição. Bebida e drogas à granel. Ele bufa como um
touro, ruidoso e desagradável. Mais um “voyeur” que um
garanhão.
No dia seguinte, a camareira bate à porta do quarto
dele, sem imaginar o que a espera. Ele sai do banho, deixa cair a toalha e a
ataca, submetendo-a, ajoelhada e assustada.
O resto sabemos.
Preso quando já estava no avião para Paris, ele é
mantido em prisão domiciliar, sob vultosa fiança, num apartamento que custa
60.000 dólares por mês, à esposa rica (Jacqueline Bisset,
esplêndida).
E, adivinhamos na convivência hostil do casal, motivos
para a conduta auto-destrutiva de Georges, que foge às responsabilidades que não
quer assumir e com isso submete a esposa a seus desejos,
derrotando-a.
Com a ajuda de ótimos atores, o diretor americano Abel
Ferrara, sugere que atrás de um vício pelo sexo pode esconder-se uma angústia
tremenda, da qual se quer escapar e que em todo monstro existe um desejo
inconsciente de auto-destruição e morte.
Nesse caso em especial, podemos supor que Georges
Deveraux mergulhava em sua carne para fugir de seu espírito atormentado,
decepcionado em seu idealismo por um mundo que não quer
mudanças.
Um filme pesado e
impressionante.
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