Direção: James Gray
Nunca é fácil ser um imigrante. O que leva uma pessoa a
deixar sua terra natal é sempre um motivo triste e mesmo dramático.
Esse é o tema que o diretor e roteirista James Gray
explora com habilidade em “Era Uma Vez em Nova York”, seu quinto filme em 20
anos de carreira. Já dá para perceber que não vamos ver um filme
simplório.
Marion Cotillard, a bela e talentosa atriz francesa,
vive uma polonesa, Ewa Cybulska, que chega em Nova York com sua irmã Magda, em
janeiro de 1921. Na Europa, a Primeira Guerra dizimara a família delas, que
pensavam poder ter uma vida melhor na América.
Mas, já na chegada do navio, um pesadelo as espera. São
colocadas na fila de imigrantes rejeitados em Ellis
Island.
“- Esse endereço de seus tios é inexistente. Não
aceitamos mulheres sozinhas na América. Especialmente as de moral duvidosa.
Soubemos que teve problemas no navio... Vai ter uma audiência e, provavelmente,
serão deportadas”, diz o encarregado da imigração para
Ewa.
Ela, que era enfermeira na Polônia, fala inglês e isso
as salva da temida deportação. Implora a um homem jovem e atraente, que se
aproxima, que as ajude. Magda terá que ficar no hospital da ilha porque tosse
muito, visivelmente doente, mas Ewa pega a balsa que vai para Nova York com
Bruno Weiss, que promete um lugar para ficar e trabalho como
costureira.
Assim começa a história dramática de um triângulo que
vai envolver Ewa, Bruno e o primo dele, Emil.
Numa parte pobre da cidade, Ewa terá que passar por
coisas que nunca sonhara viver. Será em nome da própria sobrevivência e do amor
pela irmã, que essa valente e ingênua polonesa enfrentará tormentos que serão
motivo para envergonhar-se de si mesma. Católica praticante e fervorosa, a culpa
vai perseguí-la e amedrontá-la.
Costureira, dançarina e prostituta. O calvário de Ewa é
desesperador.
Marion Cotillard ganhou um Oscar por sua Piaf. Aqui, ela
usa seu talento para passar ao espectador a complexidade de sentimentos que Ewa
vive ao longo de sua história em Nova York. Seu rosto toma toda a tela em longos
“closes” sem palavras. Só olhos sofridos.
Aliás, todos os personagens são assim como Ewa.
Torturados e divididos, o bem e o mal os habita e a luta pela sobrevivência nem
sempre é uma guerra limpa.
Bruno Weiss (Joaquin Phoenix) ,o cafetão, tem momentos
de perverso egoísmo e outros de intensa paixão. Sua cena final é de arrepiar.
São imagens belíssimas. Quadros de museu.
“Era Uma Vez em Nova York”, dramático mas sem apelações
baratas, é um filme que não se esquece com facilidade. Suas imagens de sonho e
pesadelo se impregnam em nossa memória, à nossa
revelia.
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