Direção: Denis Villeneuve
Numa cidade com perfis de edifícios envoltos em uma
sinistra luz amarelada, Adam Bell guia por uma rodovia.
Escuta no viva-voz o recado de sua
mãe:
“- Foi bom você me mostrar seu apartamento novo. Estou
preocupada com você. Vamos voltar a falar como antes?”
Ele tem um vislumbre de uma mulher
grávida.
E um ritual erótico tem início: homens sentam-se numa
sala onde uma mulher nua geme. Usa sómente sandálias de salto
alto.
Outra mulher entra, vestindo um “peignoir” branco. Uma
travessa de prata com tampa é colocada no pequeno palco, centro dos olhares
masculinos. Uma aranha negra escapa quando a travessa é aberta. O salto da
sandália da mulher aproxima-se perigosamente da aranha.
Sonho? Metáforas? Alucinação? Não
sabemos.
O tímido professor Adam Bell (Jake Gyllenhaal), na sala
de aula, discorre sobre ditaduras e suas formas de
controle:
“- Umas, como na Roma antiga, davam pão e circo para o
povo. Outras exercem o controle através do baixo nível de educação, censura às
informações e limitação de acesso à cultura. É importante que percebam que esse
é um padrão que se repete ao longo da História.”
E a vida do professor também tem um padrão que se repete
com monotonia. De casa para a universidade, de novo para casa e a namorada que
chega. Transam sem emoção e Mary (Mélanie Laurent) se
vai:
“- Ligo pra você amanhã.”
Tudo debaixo daquela luz estranhamente amarelada que
borra todos os contornos. Há um clima sufocante, que oprime a cidade e as
pessoas.
Logo vai instalar-se claramente uma paranoia na mente de
Adam, que fica obcecado com seu duplo. Um homem idêntico a ele aparece de
passagem num filme que foi sugerido para ele ver.
Denis Villeneuve ( “Os Suspeitos”2013 e “Incendios”
2010),o diretor e Javier Guillón, o roteirista, tentaram passar ao espectador as
emoções que sentiram ao ler o livro do escritor português José Saramago
(1922-2010), já que a única condição que ele impôs, foi que o filme fosse uma
adaptação totalmente livre do livro.
E o espectador terá que responder às perguntas que o
filme provoca. O professor Adam Bell está louco? Procura na cidade as
confirmações de suas alucinações e acredita nelas? O duplo de Adam, o ator
Anthony Saint- Claire existe?
Tudo indica que a leitura à luz da paranoia
esquizofrênica de uma mente dividida, explica melhor os
acontecimentos.
E a aranha que paira pela cidade e assusta Adam em seus
sonhos?
Talvez perguntar à obra da falecida artista plástica
francesa Louise Bourgeois (1911-2010), que plantou enormes aranhas negras pelo
mundo a fora? Simbolo do feminino
proibido e exaltado (a obra chamou-se “Maman”), ela assusta Adam, que se
perturba com a gravidez da mulher dele como Anthony, Helen (Sarah Gadon) e tem
que transar com outra, a namorada Mary, para se
proteger?
Quem sabe?
Isabella Rossellini, numa ponta importante, pode ser o
centro dos problemas do filho.
“O Homem Duplicado” é um filme para
quem gosta de pensar em como a mente humana pode deixar-se levar por defesas
perigosas para controlar aquilo que não quer ou acredita não poder
viver.
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