Direção: Manoel de Oliveira
Leonor Amarante, uma das atrizes preferidas de Manoel de
Oliveira, estava presente na sessão da Mostra Internacional de Cinema do ano
passado, quando fui ver o filme “O Gebo e a Sombra”. Ela contou para a plateia
que haviam pedido para o diretor fazer um filme sobre a miséria mas que ele
acabou fazendo um filme sobre a condição humana.
“O Gebo e a Sombra” é quase teatro filmado, com a câmera
praticamente imóvel, filmando grandes atores numa sala de uma casa pobre, em
pleno inverno.
Para mim foi um prazer rever Jeanne Moreau, que faz uma
velhinha charmosa e opinativa, a Candinha, Claudia Cardinalle, a que se lamenta
o tempo todo, Dorotea, mulher de Gebo e o grande Michael Lonsdale que é Gebo, o
contador. Ricardo Trêpa, neto do diretor, é o filho ladrão, de Gebo e
Dorotea.
A trama, baseada numa peça de teatro de 1920 do
dramaturgo português Raul Brandão, parece resumir a natureza humana em seis
personagens. Cada um deles vive a vida à sua maneira e, apesar de serem todos
muito pobres, em alguns há resignação, em outros revolta e em outro ainda, uma
saída dessa miséria pela escolha da arte como trabalho de uma vida. Outro mais,
vive a idealização do que seria uma boa vida.
A melhor frase do filme é de
Gebo:
“- Será que viemos a esse mundo para ser
felizes?”
Soa muito atual essa preocupação em buscar uma
felicidade que nos escapa, que está na vida dos outros e não na nossa e na ânsia
de entender por que ela foge assim de
nós...
“- Será que temos só essa vida?”, é a pergunta de Leonor
Amarante, que faz a nora de Gebo.
O velho contador é o personagem que aceita a vida como
ela se apresenta, mostra compaixão e, na longa vida que teve, parece que
aprendeu do que trata o tempo de uma existência humana.
Gebo parece ser o alter-ego do diretor, combinado ao
personagem que põe a arte no centro de seu mundo.
Manoel de Oliveira, ainda surpreende com seu filme no
qual o tempo e o que fazer dele é o tema principal.
Que ele continue a compartilhar conosco sua sabedoria
por quanto tempo ainda ele puder.
Anunciou-se que seu próximo filme será “A Igreja e o Diabo”, baseado num conto de Machado de
Assis.
Deve ser ótimo.
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