“O Preço da Verdade”- “Dark Waters”, Estados Unidos 2019
Direção: Todd Haynes
É noite. Três adolescentes resolvem tomar um banho no rio
depois de uma festa. São surpreendidos por homens que, dentro de um barco,
vaporizam algo nas águas onde os meninos estavam se refrescando. Estamos em
Parkersburg, Virgínia, na área rural.
“- Malditas crianças! Sumam daqui! ”, gritam os homens.
Um texto na tela conta que o filme se baseia em fatos reais,
que apareceram num artigo do New York Times, intitulado “O advogado que se
tornou o pior pesadelo da DuPont”.
Quem é esse advogado? É o que o filme de Todd Haynes vai
contar. Mas não vai ser de forma escandalosa, apesar de se prestar a isso.
Bob Billot (Mark Ruffallo, ótimo), que trabalhava num
importante escritório de advocacia, que atendia grandes empresas, acabara de se
tornar sócio, reconhecido o seu esforço no trabalho da firma. Ele é o tipo de
sujeito que se entrega de corpo e alma às causas que defende. Tem família,
mulher (Anne Hattaway, discreta e competente) e um bebê, que pouco vê, de tanto
trabalho que traz para casa.
Mal sabia ele que a causa de sua vida, que vai durar
décadas, estava para começar.
Dois fazendeiros o procuram. Um deles, Wilbur Tennant (Bill
Camp), conhecia a avó de Billot, moradora próxima da fazenda dele, na cidade
natal do próprio advogado, que não fazia alarde de suas origens caipiras.
“- Estão envenenando o rio. Você tem que ver.”
Billot fica incomodado com a situação porque sua firma de
advogados trabalha justamente no campo contrário. Defendia as fábricas de
produtos químicos. Mas vai com Tennant ao lugar dos acontecimentos, meio a
contragosto, mas sem ferir os brios do vizinho de sua avó.
E, para sua surpresa e horror fica estarrecido com a verdade
que ele tenta, no início, esconder de si mesmo.
Mas não consegue negar que algo naquele ambiente da fazenda
estava matando o rebanho de vacas do fazendeiro. Ao presenciar um surto numa
vaca muito magra e estranha e ver os estragos acontecidos nos bezerros que
nasciam com malformações congênitas, ele não consegue mais encontrar desculpas.
A DuPont estava lançando produtos tóxicos no rio e envenenando o meio ambiente.
Pior, mais tarde ele vai descobrir que o estrago era muito
maior e prejudicava a todos. Um produto vendido como uma novidade luxuosa, uma
panela antiaderente, chamada Teflon, continha o mesmo produto tóxico que matava
as vacas.
Mais criminoso ainda era o detalhe que a DuPont sabia desses
perigos e conhecia seus efeitos danosos, produtores de doenças graves em seres
humanos e escondia tais dados de seu público consumidor.
Homens como Robert Billot são raros e preciosos. Apesar das
dificuldades jurídicas que enfrentou com inteligência, de ter sua vida familiar
perturbada pelos acontecimentos e de ter abandonado a firma em que trabalhava e
ganhava um bom dinheiro, não hesitou em escolher defender as vítimas, pobres e doentes.
E enfrentar, ainda por cima, o fato de que a DuPont era a maior empregadora da
região.
Todd Haynes faz um filme denúncia, sem muitas cores nem
efeitos especiais. Bastou chamar o talentoso ator Mark Ruffallo e contar uma
verdade estarrecedora que toca a toda a humanidade.
Esse exemplo certamente será seguido por outros. Crimes
ambientais estão ocupando espaço e a atenção de suas vítimas, todos nós.
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