sábado, 1 de fevereiro de 2020

Jojo Rabbit



“Jojo Rabbit”- Idem, Estados Unidos, 2019
Direção: Taika Waititi

Quem não sabe nada sobre o filme leva algum tempo para entender o que se passa. Como? Um menino de 10 anos, fardado, que jura lealdade a Adolf Hitler? E o que é aquilo? O próprio Hitler está no quarto do menino? Conversa com ele e o incentiva?
Claro que é uma comédia. Aliás é mais uma sátira. Mas não como as outras que já vimos. Ao som dos Beatles cantando “I Wanna Hold Your Hand” em alemão, passam na tela cenas reais de multidão e jovens com o uniforme do exército da juventude, o Jungvolk, fazendo a saudação fanática.
O garoto vai ao campo de treinamento nazista, comandado pelo Capitão (Sam Rockwell), um sujeito que esconde insegurança atrás da arrogância. Tem também uma gorda agressiva, Fraulein Rahm (Rebel Wilson) que promete ensinar as meninas a fazer bebês para Hitler e descreve os judeus como tendo chifres e escamas de peixe pelo corpo. À noite, a diversão é queimar livros na fogueira.
Mas de onde vem esse apelido Jojo Rabbit ? Os outros meninos riem e chamam Johannes Betzler assim. Só entendemos quando vemos a cena onde ele se recusa a matar um coelhinho com suas próprias mãos.
Daí em diante compreendemos melhor o objetivo do diretor Waikiki, que faz o amigo invisível de Jojo (Roman Griffin Davies). Ele não pretende só ouvir risos na plateia. Quer fazer pensar como uma criança de 10 anos pode ser levada a acreditar em inverdades tolas, assim como o resto do país:
“- Os judeus são assustadores. Eu mataria um se o visse na minha frente”, diz Jojo a seu único amigo, Yorki (Archie Yates).
“- E como você vai saber que é um judeu? Eles são como nós”.
“- Esqueceu dos chifres que escondem com o chapéu?”
E Jojo precisa da companhia de seu amigo invisível, o próprio Hitler (personagem do próprio diretor Waititi), visto pelo olhar infantil, maneiroso, exagerado, bufão. Sente falta do pai. Ninguém sabe onde ele está. Nem a mãe (doce Scarlett Johansson). Ou assim pensa Jojo.
Nada é o que parece na vida de Jojo. Mas ele vai descobrindo e amadurecendo aos poucos. Leva algum tempo para entender porque a mãe dele abriga Elsa (Thomasin McKenzie), uma judia, escondida no sótão.
Jojo ficou ferido no rosto e na perna, durante um exercício na floresta. Com o amigo invisível tenta jogar uma granada e ela explode em cima dele.
Agora, sentido-se mais inseguro ainda, fica mais tempo em casa. E é aí que vai ocorrer um fato inédito na vida de Jojo. Uma amiga de verdade, apesar de ser uma judia.
Esse contato real com o diferente e o imaginado monstruoso, como tinham ensinado a Jojo, é o que vai fazer a diferença. Elsa é de carne e osso, sem chifres, mais velha do que ele, bonita e inteligente. Ele vai se apaixonar, como a mãe havia dito a ele.
Os momentos mais emocionantes do filme são os que marcam as descobertas das verdades. Ele passa da infância à puberdade durante a Segunda Guerra, da qual foi poupado para viver uma vida com liberdade para dançar, como prega o poeta Rilke que Elsa apresenta para ele.
O filme é uma adaptação do livro de Cristine Leunens, “Caging Skies”, pelo diretor neozelandês, que se diz “o judeu da Polinésia”, e está na lista dos indicados ao melhor filme de 2019, além de mais outras 5 indicações.

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