terça-feira, 23 de outubro de 2018

O Primeiro Homem




“O Primeiro Homem”- “First Man”, Estados Unidos, 2018
Direção: Damien Chazelle

Como é dura a vida de um astronauta. É preciso muita coragem para entrar naquele primeiro módulo que aparece. Tão frágil. Chacoalhando tanto que parece que vai desintegrar. O perigo é palpável.
Estamos em 1961. Começou a corrida espacial e os Estados Unidos quer bater a União Soviética. Quem vai chegar primeiro à Lua?
Neil Armstrong (1930-2012) é Ryan Gosling (no tom exato) e no começo do filme vive um drama pessoal. Sua filha Karen, de dois anos, tem um tumor cancerígeno. Ele e a mulher, Janet (Claire Foy, ótima) demonstram a dor e a impotência diante da filha que chora no colo do pai.
Depois do enterro, durante o jantar tradicional, vemos Neil com a pulseirinha de contas da filha na mão e, pela janela, a Lua branca no céu. Chora copiosamente.
Esse é o começo do trajeto do homem que vai ser o primeiro a pisar na Lua. Todos nós sabemos onde estávamos naquele momento. 400 milhões de pessoas ao redor do mundo estavam na frente da TV, vendo o espetáculo. E ele disse para nós ouvirmos: “Foi um passo pequeno para o homem mas um salto gigantesco para a humanidade. ”
Mas não foi fácil. Nem para a NASA nem para os homens que sonhavam com essa missão. Muitos ficaram pelo caminho, em acidentes terríveis. Todas as mulheres de astronautas eram viúvas em potencial.
Em 1962, Neil Armstrong, que era piloto de provas e engenheiro, foi selecionado pela NASA, mesmo sendo civil, para fazer parte da equipe que vai ser treinada para o projeto Lua, primeiro o Gemini e depois o Apollo II, que só vai acontecer em 1969.
O diretor Damien Chazelle, o mais jovem a ser premiado com o Oscar com seu filme “La La Land”, aos 32 anos, no ano passado, mostra sua sensibilidade em “O Primeiro Homem”, ao trazer o espectador para dentro do módulo espacial. Sentimos o mesmo medo de Neil Armstrong quando as coisas não vão bem. A câmera colada no capacete do astronauta faz a gente se sentir lá dentro, com ele, passamos pelo suspense todo e, ao mesmo tempo, percebemos a mente trabalhando para recuperar o controle da nave.
E a música de Justin Hurwitz, colaborador de Chazelle em “La La Land”, quando ganhou também seu Oscar, é perfeita. Até na escolha da valsa quando o módulo gravita em torno à Terra e lembramos de Kubrik e seu “2001”.
As cenas na Lua são rápidas mas grandiosas. O imenso deserto cinza com crateras negras, a Terra azul lá embaixo e o pé de Neil pousando sobre um pó fino. Silêncio. E ele vai deixar uma lembrança amorosa na Lua.
O filme é inspirado no livro de James R. Hansen mas o roteiro de Josh Singer privilegia o lado íntimo do homem Neil Armstrong, de poucas palavras mas afetivo com os filhos e mesmo com os outros astronautas, seus companheiros.
Com sua mulher Janet, existe uma liga forte, ela dando a impressão de ser em casa tão corajosa quanto o marido nos céus. Ela verbaliza as emoções caladas do marido e tanto o estimula quanto recua. E a cena final do casal é linda e marcante.
“O Primeiro Homem” é um filme que é uma vida e uma aventura fantástica compartilhadas.


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