sábado, 21 de maio de 2016

Pais e Filhas


“Pais e Filhas”- “Fathers and Daughters”, Estados Unidos, 2015
Direção: Gabriele Muccino

Há um amor imenso entre aqueles dois. Abraços e beijos entre pai e filha pequena acontecem com espontaneidade e carinho. Aliás, todos os pais e filhas tem um pouco ou muito disso.
Mas a vida foi dura com esses dois. Ele (Russel Crowe, muito bom) e ela (a ótima atriz mirim, Kylie Rogers) sofreram juntos um acidente de carro que matou Patrícia, mãe de Katie e mulher de Jake Davis, escritor de sucesso, que sofre um sério trauma na cabeça.
O luto vai ser pesado. O pai, destroçado, porque no fundo sente-se culpado pelo acidente, só encontra forças para cuidar da menina de cinco anos que perdeu a mãe. A depressão atinge os dois profundamente.
Mas Jake é muito mais frágil do que pensa. Seu talento e criatividade sofrem um bloqueio com a tragédia e ele começa a apresentar sintomas graves de tremores que levam a convulsões. É internado num hospital psiquiátrico para tratamento, onde fica quase um ano.
E a pobrezinha da Katie, que já tinha perdido a mãe, agora perde também o pai adorado, porque não tem idade  para entender o que está acontecendo. Ela fica na casa da tia (Diane Kruger) que não gosta de ver a menina sendo criada pelo pai e tenta adotá-la.
Tudo isso é a primeira parte da história que acontece em Nova York em 1989. A segunda parte, em 2014, intercala-se com a primeira em “flashbaks”. Nela, Katie já está formada na universidade, na área de psicologia e mostra um lado perigoso de comportar-se, frequentando bares e transando com homens desconhecidos.
Katie (Amanda Seyfried, linda e talentosa) é auto-destrutiva. Procura um castigo, inconscientemente.
Mas por que? A morte da mãe e a internação do pai teriam causado tantas feridas graves em sua mente?
Nem ela mesma compreende essa compulsão para o sexo perigoso, no qual não se envolve.
Não há prazer nem liberdade naquilo que ela faz ou deixa os homens fazerem com ela. É impulsionada por algo destrutivo que está dentro dela e que ela tenta controlar fazendo terapia:
“- Não sei porque faço isso... Acho que é para sentir...algo. O resto do tempo não sinto nada...”
Ou seja, não há um movimento de sedução induzido por narcisismo. Katie não quer alimentar seu ego, sentir-se bela ou atraente. Nada disso. Ela não é dona do próprio corpo. Dentro dela, um inimigo a empurra para o abismo. Procura a morte.
Num nível mais superficial, ela tem medo de envolver-se com alguém. Medo de amar e perder novamente. Mas há claramente algo mais tenebroso nela.
A escolha da profissão, ligada a ajudar pessoas, explica, de certa forma, a vontade de entender a si mesma e ajudar-se.
A menina negra que não fala, desde que a mãe foi assassinada, vai levar Katie a experimentar sentimentos que ela nega em si mesma.
O filme é bem conduzido pelo italiano Gabriele Muccino (“À Procura da Felicidade”2006). E o elenco, muito bom, tem também as ganhadoras do Oscar, Jane Fonda e Octavia Spencer.
A trilha sonora de Paolo Bonvino vai de Schubert a Burt Bacharach que, com sua canção “Close to you”, faz até os corações mais duros amolecerem com o dueto do pai e da filha.

“Pais e Filhas” é um filme para quem gosta de derramar uma lágrima no cinema.

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