Direção: Gabriele Muccino
Há um amor imenso entre aqueles dois. Abraços e beijos
entre pai e filha pequena acontecem com espontaneidade e carinho. Aliás, todos
os pais e filhas tem um pouco ou muito disso.
Mas a vida foi dura com esses dois. Ele (Russel Crowe,
muito bom) e ela (a ótima atriz mirim, Kylie Rogers) sofreram juntos um acidente
de carro que matou Patrícia, mãe de Katie e mulher de Jake Davis, escritor de
sucesso, que sofre um sério trauma na cabeça.
O luto vai ser pesado. O pai, destroçado, porque no
fundo sente-se culpado pelo acidente, só encontra forças para cuidar da menina
de cinco anos que perdeu a mãe. A depressão atinge os dois
profundamente.
Mas Jake é muito mais frágil do que pensa. Seu talento e
criatividade sofrem um bloqueio com a tragédia e ele começa a apresentar
sintomas graves de tremores que levam a convulsões. É internado num hospital
psiquiátrico para tratamento, onde fica quase um ano.
E a pobrezinha da Katie, que já tinha perdido a mãe,
agora perde também o pai adorado, porque não tem idade para entender o que está acontecendo. Ela fica
na casa da tia (Diane Kruger) que não gosta de ver a menina sendo criada pelo
pai e tenta adotá-la.
Tudo isso é a primeira parte da história que acontece em
Nova York em 1989. A segunda parte, em 2014, intercala-se com a primeira em
“flashbaks”. Nela, Katie já está formada na universidade, na área de psicologia
e mostra um lado perigoso de comportar-se, frequentando bares e transando com
homens desconhecidos.
Katie (Amanda Seyfried, linda e talentosa) é
auto-destrutiva. Procura um castigo, inconscientemente.
Mas por que? A morte da mãe e a internação do pai teriam
causado tantas feridas graves em sua mente?
Nem ela mesma compreende essa compulsão para o sexo
perigoso, no qual não se envolve.
Não há prazer nem liberdade naquilo que ela faz ou deixa
os homens fazerem com ela. É impulsionada por algo destrutivo que está dentro
dela e que ela tenta controlar fazendo terapia:
“- Não sei porque faço isso... Acho que é para
sentir...algo. O resto do tempo não sinto nada...”
Ou seja, não há um movimento de sedução induzido por
narcisismo. Katie não quer alimentar seu ego, sentir-se bela ou atraente. Nada
disso. Ela não é dona do próprio corpo. Dentro dela, um inimigo a empurra para o
abismo. Procura a morte.
Num nível mais superficial, ela tem medo de envolver-se
com alguém. Medo de amar e perder novamente. Mas há claramente algo mais
tenebroso nela.
A escolha da profissão, ligada a ajudar pessoas,
explica, de certa forma, a vontade de entender a si mesma e
ajudar-se.
A menina negra que não fala, desde que a mãe foi
assassinada, vai levar Katie a experimentar sentimentos que ela nega em si
mesma.
O filme é bem conduzido pelo italiano Gabriele Muccino
(“À Procura da Felicidade”2006). E o elenco, muito bom, tem também as ganhadoras
do Oscar, Jane Fonda e Octavia Spencer.
A trilha sonora de Paolo Bonvino vai de Schubert a Burt
Bacharach que, com sua canção “Close to you”, faz até os corações mais duros
amolecerem com o dueto do pai e da filha.
“Pais e Filhas” é um filme para quem gosta de derramar
uma lágrima no cinema.
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