terça-feira, 24 de maio de 2016

Certo agora, errado antes


“Certo agora, errado antes”- “Right Now, Wrong Then”, Coreia do Sul, 2015
Direção: Hong Sang-soo

Esperem surpreender-se com esse último e, aparentemente, banal filme do diretor sul-coreano famoso, para quem Isabelle Huppert trabalhou em “A Visitante Francesa – In Another Country” de 2012.
A história é simples. Um diretor de cinema ainda jovem, atraente e famoso, vai exibir seu filme em Suwon, uma cidade da Coreia do Sul. Quando ele chega, vai para o hotel e, ao lado, existe um antigo palácio. Ele vê da janela  de seu quarto uma mocinha bonita entrar e também vai ao local. Fica conhecendo a garota, conversam e ele descobre que ela é pintora. Visitam o ateliê dela e ele opina sobre o quadro que ela está pintando.Vão a um restaurante, bebem muito e depois seguem para um café de uma amiga da mocinha. O diretor tem só essa noite na cidade, porque, no dia seguinte, logo depois da exibição do seu filme e perguntas dos espectadores, ele volta para casa em Seul.
Só que o espectador vai ver essa mesma história se repetir na tela. São os mesmos personagens, as mesmas cenas mas com uma ligeira modificação de gestos, posturas e conversas. E o resultado é completamente diferente nessa segunda vez que vemos a história.
É quase como se o diretor nos mostrasse uma lição de moral. Com apenas pequenas modificações, os personagens tornam-se mais naturais, espontâneos, mais maduros até.
Em uma entrevista, o diretor Hong Sang-soo, 55 anos, conta que filmou a primeira parte, editou e mostrou para os atores. E apenas sugeriu que, na segunda vez, o diretor de cinema iria ser um homem bom para aquela garota.
O jeito desse diretor trabalhar é bem diferente dos outros. Ele se inspira com pouca coisa no início das filmagens e vai construindo a história a cada dia que passa. Mas foi a primeira vez que teve a ideia de contar a mesma história com poucas modificações e resultados diferentes.
O filme é bem original e leva o espectador a comparar, em seu íntimo, as duas história e escolher a melhor. Porque a plateia pode julgar pelos resultados. Pela maneira como os personagens acabam se envolvendo.
O filme ganhou o Leopardo de Ouro no Festival de Locarno, como o melhor filme. O ator Jung JaeYoung recebeu o prêmio de melhor ator.

Se a vida fosse como o filme de Hong Sang-soo, teríamos sempre uma oportunidade de vive-la de uma maneira um pouco diferente. Talvez com mais flexibilidade, menos egoismo e uma maior aceitação dos outros como eles realmente são. Mas, sabendo que é impossível, o melhor é acertar na primeira e única chance que temos. É difícil mas não impossível aprendermos a ser melhores pessoas conforme a vida passa e ensina.

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