“A Assassina”- “Nie Yin Niang”,
Taiwan
Direção: Hsiao-Hsien Hou
Se você gosta de ver beleza na tela do cinema, não perca
“A Assassina”, filme do diretor nascido na China continental e criado em Taiwan,
Hsiao-Hsien Hou, 69 anos.
Aparentemente, “A Assassina” é do gênero “wuxia”, ou
seja, filme que mistura fantasia e lutas marciais, basicamente lutas de espadas
em um mundo imaginário feudal. Este tipo de cinema foi e ainda é muito popular
em Taiwan mas aqui, o diretor despreza as lutas agressivas e com gritos. Porque
“A Assassina” usa dessa estética marcial para elevá-la a uma superioridade tal,
com relação aos outros filmes do gênero, que nem se pode realmente dizer que faz
parte dos “wuxia” tradicionais.
O que distingue “A Assassina” é o convite à contemplação
de quadros seja da natureza, seja de lugares íntimos de família.
Tudo muito sofisticado, não só na escolha dos lugares a
serem filmados, como na confecção dos materiais usados na recriação de
interiores e do vestuário. A câmara é quase sempre fixa, mesmo durante as lutas
e há velaturas da imagem, seja pela neblina, vegetação, luzes de velas ou panos
transparentes.
Apesar da lentidão de algumas cenas, a beleza é tamanha
que desconcentra o espectador da trama. Perdemos nossa vontade de ir além para
tentar entender melhor os detalhes, que são tantos, as cores e as coreografias.
E por que não citar aquela montanha de pedra da qual adivinhamos o tamanho e nos
enganamos? Lá estão, depois da primeira visão, homens e cavalos para que a
natureza adquira sua dimensão comparada ao humano. É fascinante esse
desconhecimento dos espaços do qual nos damos conta.
O filme conta a história de Nie Yinniang (Oi Shu,
belíssima, delicada e feroz como uma pantera negra), filha de um general,
sequestrada por uma monja taoísta aos 10 anos de idade, para treiná-la em sua
arte com espadas e torná-la uma justiceira. Seu alvo são os governantes
poderosos e corruptos.
E a aluna é considerada inigualável pela mestra que a
treinou. No entanto, enviada para uma missão que envolvia o assassinato de um
governador cruel que matara seu próprio pai e irmão, Yinniang não consegue
executar o que lhe foi pedido. Vemos que fica sem ação porque o homem estava com
o filho no colo.
“- Você deveria ter matado primeiro a pessoa que ele ama
e depois ele mesmo.”
E a mestra decide mandá-la para outra missão, que também
é um castigo. A jovem terá como alvo seu primo, Tian Ji-an (Chang Chen), a quem
fora prometida em casamento quando ainda criança. O primo era um importante
governante da província de Weibo, a mais poderosa da China no século IX, que
marca o final da dinastia Tang (618-907) .
E agora é muito mais difícil para Yinniang pois ela, que
nunca teve família, observa o primo com os filhos e a esposa. E seus sentimentos
vão se impor com tamanha força, que ela vai se deparar com um conflito sobre o
seu futuro.
Alguns dizem que é complicado entender a história porque
quase não há diálogos. Mas parece que foi de propósito. O diretor está mais
interessado em deslumbrar nossos olhos.
A história é um mero pretexto.
Quando passou no Festival de Cannes, levou o prêmio de
melhor direção para Hsao-Hsian Hou, do júri presidido pelos irmãos Cohen e foi
indicado para o Oscar 2016, na lista dos cinco finalistas, representando
Taiwan.
Belíssimo, o filme apresenta também uma grande
interpretação de Oi Shu, que faz com alma a justiceira sem direito à vida
afetiva. As coreografias das lutas são verdadeiras danças e ela se movimenta com
graça e agilidade.
“A Assassina” é um dos filmes mais bonitos que eu já vi.
Recomendo.
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