quarta-feira, 15 de julho de 2015

Samba

 
 
 
“Samba”- Idem, França, 2014
Direção: Eric Toledano e Olivier Nacache

Como é que uma parisiense branca de classe média alta fica conhecendo um imigrante negro senegalês que vive de trabalhos que duram no máximo uns dias?
A história desse par improvável é o miolo de “Samba”, drama bem humorado que trata menos da imigração africana ilegal na França, do que de pessoas solitárias que estão à margem e que não se integram à sociedade constituída.
Samba Cissé (o grande Omar Sy) está há dez anos na França, mora com um tio que é cozinheiro num restaurante de um bom hotel mas não conseguiu legalizar sua vida. É um “sans papier”, não tem documentos e, por isso, é preso numa batida da polícia e vai para o centro de detenção de imigrantes ilegais para que seu caso seja julgado.
Alice (a excelente Charlotte Gainsbourg, de quase todos os filmes de Lars von Trier) está desorientada, estressada. Teve um surto no trabalho numa grande companhia e está de licença médica. Toma remédios fortes mas nem assim consegue dormir.
Enquanto espera melhorar, ela começa um trabalho voluntário numa ONG que tenta ajudar imigrantes ilegais a conseguir papéis para que possam viver com mais tranquilidade na França.
Apesar do aviso de sua colega Manu (Izia Igelin), para não se envolver pessoalmente com os dramas que ela vai escutar, a primeira pessoa que cruza o caminho de Alice nesse lugar é Samba Cissé.
Ele conta sua história com sua voz calma e presença impressionante, sempre olhando Alice com olhos expressivos. E quando, por acaso, ficam a sós, a aproximação é imediata. Mas não somente na pele, principalmente na alma.
Aquele homem grande e complicado faz Alice pensar em si mesma. Quer ajuda-lo porque, no fundo, os problemas deles são parecidos. Estão excluídos, sem família, sem projeto, perdidos.
Ela oferece uma barrinha de cereal para a fome dele e remédio para dormir mas, isso não foi o principal da cena. O foco é na aproximação entre eles, que foi imediata. Alice e Samba reconheceram-se como membros da mesma tribo.
E, ao invés do clichê do casamento para conseguir cidadania, “Samba” vai mostrar a complexidade de seus personagens, suas dúvidas, seus medos, seus erros, suas esperanças.
Uma nota simpática é a participação do ator Tahar Rahim (César de melhor ator por “O Profeta”, 2009), como um argelino que se passa por brasileiro, porque ele acha que tudo dá certo para eles.
E “Palco”de Gilberto Gil e “Take it easy my brother Charlie” de Jorge Benjor animam uma dança de Alice e do “brasileiro Wilson”, para os olhos compridos de Samba.
Os diretores, roteiristas e diretores, Eric Toledano e Olivier Nacache, que assinaram o filme “Intouchables”, que arrecadou mais de 400 milhões de dólares mundo a fora, voltam a colocar em evidência o grande magnetismo de Omar Sy, que faz uma parceria brilhante com Charlotte Gainsbourg.
É um filme para o grande público, sem dúvida, mas que se serve de um humor que não é barato nem vulgar e que nos brinda com cenas comoventes nas mãos de um elenco afinado.
Sucesso garantido.

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