quarta-feira, 1 de julho de 2015

O Último Poema do Rinoceronte


“O Último Poema do Rinoceronte”_ “Fasie kargadan”, Irã, Iraque, Turquia, 2012
Direção: Bahnan Ghobadi

Beleza e dor.Um grande amor não pode ser vivido por causa da injustiça e da inveja.
Essa é a história real de um poeta iraniano, Sadegh Kamangar, que passou injustamente quase 30 anos como prisioneiro político, por causa da Revolução Islâmica no Irã, que tirou o Xá Rezha Pahlevi do trono em 1979 e instituiu o governo religioso dos aiatolás.
Sahel ( Behraz Vossoughi), como é chamado no filme, era casado com a filha de um coronel do regime do Xá e, portanto, ambos são considerados inimigos pelo governo religioso.
Ela, Mina, interpretada com silêncio e doçura por Monica Bellucci, é uma “mater dolorosa”. Feliz e apaixonada pelo marido poeta, ela é jogada numa cela, torturada e obrigada a gerar filhos de seu carrasco, Akhbar Rezai (Ylmaz Erdogan).
Esse homem, cruel e desprezível, era chofer na casa do pai dela e cobiçava a bela filha do patrão. Nunca perdoou aquele casal apaixonado que ele olhava com rancor pelo espelhinho do motorista, quando os conduzia por Teerã.
Conseguiu sua vingança aliando-se aos adeptos do novo regime.
Se antes os porões da monarquia do Xá estavam repletos de opositores, o mesmo aconteceu quando o tirano foi deposto. Só que agora, os prisioneiros eram os privilegiados pelo antigo governo.
Tudo começa no filme com a alegria do lançamento do livro de Kamangar, “O Último Poema do Rinoceronte”, com muito sucesso. O casal feliz é conduzido no carro pelo chofer porque o poeta quer mostrar algo à sua bela amada, vestida com roupas ocidentais e maquiada.
Chegam à beira de uma estrada que entra pela floresta e descem do carro, num lugar onde impera uma estranha árvore muito antiga:
“- Acredite se quiser, eu falo com essa árvore e ela me responde. Ela me inspirou.”
Mas a felicidade dos dois dura pouco e logo o povo nas ruas grita contra o Xá e ouvem-se rajadas de metralhadoras.
A partir da prisão do casal, o diretor e roteirista curdo-iraniano Bahnam Ghobad muda a maneira de contar a história, valendo-se de imagens escuras e distorcidas para falar do sofrimento, da dor no corpo e na alma. São corações que sangram, impedidos de se ver e constantemente brutalizados.
E os poemas de Kamangar são recitados em “off” pela filha do poeta, que os diz com uma voz suave e grave, enquanto na tela, vemos com horror as imagens da prisão:
“Anunciaram sua morte.
Se você está vivo ou morto,
Ninguém sabe.”
Mina foi solta depois de 10 anos e mudou-se para a Turquia, alquebrada pelo luto da notícia da morte do marido. Mas nunca esqueceu seu grande amor. E faz sua poesia ser conhecida de uma maneira surpreendente.
O filme tem Martin Scorsese como produtor e foi premiado por sua fotografia em festivais por onde passou.
De inegável beleza, mas com uma narrativa difícil, “O Último poema do Rinoceronte” vai agradar a quem ama ver arte no cinema. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário