Direção: Bahnan Ghobadi
Beleza e dor.Um grande amor não pode ser vivido por
causa da injustiça e da inveja.
Essa é a história real de um poeta iraniano, Sadegh
Kamangar, que passou injustamente quase 30 anos como prisioneiro político, por
causa da Revolução Islâmica no Irã, que tirou o Xá Rezha Pahlevi do trono em
1979 e instituiu o governo religioso dos aiatolás.
Sahel ( Behraz Vossoughi), como é chamado no filme, era
casado com a filha de um coronel do regime do Xá e, portanto, ambos são
considerados inimigos pelo governo religioso.
Ela, Mina, interpretada com silêncio e doçura por Monica
Bellucci, é uma “mater dolorosa”. Feliz e apaixonada pelo marido poeta, ela é
jogada numa cela, torturada e obrigada a gerar filhos de seu carrasco, Akhbar
Rezai (Ylmaz Erdogan).
Esse homem, cruel e desprezível, era chofer na casa do
pai dela e cobiçava a bela filha do patrão. Nunca perdoou aquele casal
apaixonado que ele olhava com rancor pelo espelhinho do motorista, quando os
conduzia por Teerã.
Conseguiu sua vingança aliando-se aos adeptos do novo
regime.
Se antes os porões da monarquia do Xá estavam repletos
de opositores, o mesmo aconteceu quando o tirano foi deposto. Só que agora, os
prisioneiros eram os privilegiados pelo antigo governo.
Tudo começa no filme com a alegria do lançamento do
livro de Kamangar, “O Último Poema do Rinoceronte”, com muito sucesso. O casal
feliz é conduzido no carro pelo chofer porque o poeta quer mostrar algo à sua
bela amada, vestida com roupas ocidentais e maquiada.
Chegam à beira de uma estrada que entra pela floresta e
descem do carro, num lugar onde impera uma estranha árvore muito
antiga:
“- Acredite se quiser, eu falo com essa árvore e ela me
responde. Ela me inspirou.”
Mas a felicidade dos dois dura pouco e logo o povo nas
ruas grita contra o Xá e ouvem-se rajadas de
metralhadoras.
A partir da prisão do casal, o diretor e roteirista
curdo-iraniano Bahnam Ghobad muda a maneira de contar a história, valendo-se de
imagens escuras e distorcidas para falar do sofrimento, da dor no corpo e na
alma. São corações que sangram, impedidos de se ver e constantemente
brutalizados.
E os poemas de Kamangar são recitados em “off” pela
filha do poeta, que os diz com uma voz suave e grave, enquanto na tela, vemos
com horror as imagens da prisão:
“Anunciaram sua morte.
Se você está vivo ou morto,
Ninguém sabe.”
Mina foi solta depois de 10 anos e mudou-se para a
Turquia, alquebrada pelo luto da notícia da morte do marido. Mas nunca esqueceu
seu grande amor. E faz sua poesia ser conhecida de uma maneira
surpreendente.
O filme tem Martin Scorsese como produtor e foi premiado
por sua fotografia em festivais por onde passou.
De inegável beleza, mas com uma narrativa difícil, “O
Último poema do Rinoceronte” vai agradar a quem ama ver arte no cinema.
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