domingo, 15 de junho de 2014

Versos de um Crime


“Versos de um Crime”- “Kill Your Darlings”, Estados Unidos, 2013
Direção: John Krokidas

As imagens iniciais são belas e cruéis. Ao som da canção “Lili Marlene”, cantada por Marlene Dietrich, que lembra que estamos em plena Segunda Guerra, a água do Hudson serve de última morada para um homem.
Essa introdução leva à história que vai ser contada, que tem como centro Allen Ginsberg, o maior poeta americano da geração “beatnik”.
Esses poetas e escritores fundaram o movimento “New Vision” inspirados nos versos de W. B. Yeats, que propunha a ideia de matar o velho para criar novos modelos. Sentindo-se presos num circulo sem fim, os criadores precisavam quebrar essa reiteração de temas e propor a novidade.
O crime cometido não é a coisa mais importante dessa história. Faz parte da vida infeliz de Lucien Carr, um jovem carismático mas que se rebela mais por causa de sua inclinação sexual, que não é aceita pelos costumes e leis da época, do que por seus ideais.
É ele o sedutor que apresenta o inocente Ginsberg ao “País das Maravilhas”, o apartamento do professor David Kammerer (Michael C. Hall), onde não há proibições e nem tabús e onde cultua-se a liberdade para experimentar tudo que aparecer pela frente.
Lucien Carr (1925-2005), o excelente ator Dane DeHaan, bonito e desequilibrado, Jack Kerouac (1922-1969), interpretado por Jack Huston, que vive fugindo de casa e voltando para sua mulher Edie (Elizabeth Olsen) e William Burroughs (1914-1997), na pele de Ben Foster, que vai ser o mais radical em suas escolhas de vida, são o grupo de amigos que Allen Ginsberg (1926-1997), vivido por um ótimo Daniel Radcliffe, encontra na Universidade de Columbia em Nova York, em meados dos anos 40.
Nas aulas de literatura, Ginsberg contesta o modelo tradicional de fazer poesia, como inclusive seu pai, Louis Ginsberg (David Cross), continuava fazendo e é apelidado de “Walt Jr” pelo professor por causa de Walt  Whitman, ídolo de Ginsberg.
Mas o jazz, a boemia, as drogas e as experiências sexuais, vistas pela sociedade da época como criminosas, inspiram mais à Ginsberg e sua geração do que as aulas que pregavam: “imitação precede à criação”.
A frase que dá título ao filme é atribuída à William Faulkner e tem aqui o duplo sentido de matar os amores e esquecer o que se viveu para exercer a criação literária.
Esses poetas e amigos viveram para detonar as idéias antigas e pensar com as próprias cabeças. São os pais de toda a rebeldia que veio com eles e depois deles. Mas escreviam sobre suas experiências vividas e por isso, também, buscavam viver o novo.
John Krokidas, 41 anos, diretor e co-roteirista de “Versos de um Crime” faz um primeiro filme com algum atrevimento mas não quer superar os retratados e sim apresentá-los a uma nova geração que os desconhece.
Mas o filme não é para qualquer um. Exige um mínimo de curiosidade por literatura e isenção de preconceito.
Totalmente inadequado para os jovens neo-conservadores do momento.

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