Direção: Lucía Puenzo
Nos anos 60, ficou célebre a caçada que agentes
israelenses fizeram a Adolf Eichmann, um dos maiores criminosos nazistas da
Segunda Guerra, o responsável pela chamada “solução final”, ou seja, a
organização estratégica do transporte de judeus para os campos de extermínio.
Ele conseguiu fugir da Alemanha e vivia na Argentina com a família. Foi levado
para Israel, onde foi julgado e condenado à morte.
Outro criminoso nazista, Josef Mengele, também procurado
pelo serviço secreto de Israel, soube da prisão de Eichmann em Buenos Aires e
fugiu para o Paraguai. Nunca foi encontrado e na versão oficial ele morreu
afogado em 1979, em Bertioga, Brasil.
Mas onde estava Mengele antes de fugir para o
Paraguai?
Lucía Puenzo, 37 anos, interessou-se pelo asssunto e
escreveu um livro de ficção. Da adaptação desse livro surgiu seu terceiro longa,
“O Médico Alemão”, produzido por seu pai, Luiz Puenzo, que ganhou o Oscar de
melhor filme estrangeiro em 1984 com “A
História Oficial”. Essa família talentosa tem também um excelente diretor de
fotografia, Nicolás Puenzo, responsável pelas belas cenas do filme da irmã.
Tudo começa quando uma família argentina, a caminho de
Bariloche, vai atravessar a Rota do Deserto, na Patagonia. Um médico alemão, que
se apresenta como Helmut Gregor, pede para segui-los em comboio, com medo de ir
sózinho.
Quem chamara a atenção desse médico (Alex Brendemuhl)
fora a menina da família (Florencia Bado). Ele se aproxima dela e conversam
sobre sua boneca:
“- Chama-se Walkoda e foi meu pai quem a fez. Ela é
especial porque nesse buraco no peito vai ter um coração. Não brinco com
bonecas. Estou acostumada que pensem que tenho nove anos. Mas tenho doze”, diz
Lilith, uma garota bonita, loura, de olhos azuis.
Através da menina, que é a narradora da história,
ficamos sabendo e, vemos na tela, as páginas desenhadas de um diário, com muitas
anotações:
“- Nesse dia, ele escreveu que eu era um “especimen”
perfeito, a não ser por minha altura.”
Para quem sabe um pouco de história, surge a primeira
suspeita sobre quem é aquele alemão.
Eva (Natalia Oreiro), mãe de Lilith, fala alemão e conta
para o médico que estão voltando para a hospedaria dos pais dela, com a intenção
de reabri-la.
“- As crianças também falam
alemão?”
“- Não. Mas entendem” responde
Eva.
“- E eu não falo nem entendo,” interrompe o pai (Diego
Peretti) que olhava com desconfiança para o
estrangeiro.
O fato é que chegando ao destino, o alemão arranja um
jeito de aproximar-se mais dessa família, sendo o primeiro hóspede do belo chalé
frente ao lago.
A casa vizinha tem um entra e sai de hóspedes num
hidroavião. E no jardim, pessoas com cabeças enfaixadas são acompanhadas por
enfermeiras uniformizadas.
“- Sinto-me como se voltasse para casa”, comenta o
médico com Eva, que está grávida de gêmeos.
Com que intenção esse homem se aproxima da menina e da
mãe dela? Tememos por elas.
A tensão dramática que Lucía Puenzo cria é eficiente,
apesar de não ser difícil identificar o médico como Josef Mengele, conhecido
como “Anjo da Morte”, por suas experiências cruéis com judeus presos em
Auschwitz, especialmente com gêmeos.
“O Médico Alemão” foi indicado como o concorrente da
Argentina ao Oscar 2014. Não foi selecionado.
Mas é um ótimo filme na recriação de época, belas
paisagens, atores excelentes e, principalmente, pela narrativa através dos olhos
de uma criança crédula, que se decepciona intensamente e que adivinha crueldade
onde vira apenas carinho e proteção.
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