sábado, 26 de abril de 2014

Eu, Mamãe e os Meninos


“Eu, Mamãe e os Meninos”- “Les Garçons et Guillaume à Table”, França, 2013
Direção: Guillaume Gallienne

Muitas vêzes é difícil para um menino ou menina conhecer sua identidade sexual. E a família sempre tem um papel decisivo para que essa dificuldade se instale.
“Eu, Mamãe e os Meninos” dirigido e interpretado por Guillaume Gallienne conta a história dele mesmo, com os pormenores de um caso complicado de determinação da identidade de gênero.
Ele escreveu um monólogo para o teatro e depois resolveu dirigir seu primeiro longa, onde essas memórias são encenadas com graça e inteligência.
E o sucesso foi enorme. Além da bilheteria de 2 milhões e 300 mil espectadores, ganhou cinco Césars, o Oscar francês 2013, incluindo melhor filme, ator e roteiro adaptado.
Por que será que Guillaume Gallienne caiu no gosto do público? Claro que ele é talentoso. Seu filme é divertido, intrigante e nunca vulgar. Mas sua maior qualidade é a facilidade com que nos envolve e como seguimos Guillaume em suas aventuras e dificuldades de entender quem ele é. Menina ou menino?
O título em francês é uma frase da mãe dele, uma de suas primeiras lembranças, chamando os filhos para a mesa e que traduz a ambiguidade, até mesmo a certeza, que ele vivia. Era diferente de seus irmãos homens, portanto deveria ser uma menina: “Guillaume e meninos, venham para a mesa”.
Essa frase perseguiu Guillaume e se somou às outras que ouviu de seus irmãos, seu pai e seus colegas de internato.
Ele explicava o uso de roupas masculinas, que a mãe comprava para ele, como um maneira de não desagradar o pai. Mas até ele confundia a voz de Guillaume com a voz da mãe. E odiava a situação. Queria que o filho fosse macho.
Filho caçula de uma mãe que queria uma filha, muito cedo Guillaume sintonizou com esse desejo da mãe adorada e tudo que ele fazia era para agradar a ela. Mais. Ser igual  ela.
Ótimo ator, Guillaume Gallienne, 42 anos, interpreta ele mesmo e a mãe, com tanto talento, que custa um pouco para o espectador perceber que não são dois atores.
E as peripécias vividas e trazidas em cenas hilariantes e comoventes, levam o cinema a rir com ele e a se emocionar com sua ingenuidade e temperamento amoroso.
A frase contundente e feliz de um de seus psicanalistas, o último, faz com que Guillaume comece a ver o mundo com olhos virados para si mesmo e não mais para a mãe  maravilhosa ou para o que os outros pensavam dele.
Saimos do cinema ainda rindo e relembrando cenas como a da massagem na Baviera, o internato inglês, a boate gay, a mãe aparecendo em todos os lugares, vinda da imaginação dele para opinar em tudo, a bela cavalgada ao som de Wagner e aquele jantar em Paris.
Faça como os francêses. Vá ver, rir e sorrir com Guillaume Galienne, um diretor sensível e ator talentoso.


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