Direção: Darren Aronofsky
A Biblia da tradição cristã ou aTorah dos judeus, é um
livro, ou melhor, um conjunto de livros que contam histórias muito antigas sobre
o homem.
Uma delas é a do patriarca Noé, no livro do Gênesis, que
teria atendido a uma ordem do Criador: construir uma Arca que salvasse os
inocentes, ou seja, todos os animais aos pares, ele e sua família, pois haveria
uma destuição total da humanidade com a água, o
dilúvio.
O Criador estava zangado com suas criaturas humanas que
se desviaram da tarefa de cuidar da Criação, dada a Adão e
Eva.
Essa história sempre fascinou Darren Aronofsky, 45 anos,
que já nos deu “Requiem para um Sonho”2000, “A Fonte”2006, “O Lutador”2008 e
“Cisne Negro”em 2010.
Ele precisou de tempo para realizar esse sonho de
infância com “Noé”, superprodução que custou U$130
milhões.
Em cenas grandiosas, vemos o patriarca levar adiante o
pedido do Senhor.
Ajudado pelos anjos caídos, os gigantes de pedra que
vemos no filme, Noé construiu a Arca e, quando chegaram as águas mortais, salvou
a quem o Senhor ordenara que salvasse. Uma fumaça, que envolvia os animais na
Arca, fazia com que dormissem durante todo o dilúvio.
Mas, longe de ser uma criatura sem conflitos, vemos
Noé, interpretado por Russell Crowe,
debater-se em sonhos e mesmo acordado, com essa missão que levaria à morte toda
a humanidade.
Ao longo do cumprimento dessa tarefa cruel, vemos ele
usar de sua força e convicção, mas também transformar-se num fanático e depois
em um ser atormentado pela culpa.
A família de Noé, no filme, mostra a bela Naameh
(Jennifer Connelly) e seus filhos Shem (Douglas Booth), Cam (Logan Lerman) e
Jafeh, além da filha adotiva de quem salvou a vida, Ila (Emma Watson). Eles
ajudam Noé a cumprir sua promessa ao Senhor mas estranham quando ele assume o
papel trágico de destruidor da humanidade. Assim Noé entendera a ordem do
Senhor, que lhe falava em sonhos, por imagens.
Na tradição judáica, os estudiosos da Torah preenchem as
lacunas das histórias com explicações mais detalhadas. São as “midrash”. O
diretor Darren Aronofsky, judeu não religioso, valeu-se dessa tradição e incluiu
na história de Noé alguns pontos que não estão no Gênesis, que traz uma
narrativa curta sobre o dilúvio.
Por exemplo, o diretor criou para Noé uma família
vegana, que não comia carne de nenhuma espécie e mostra o personagem como o
primeiro defensor do meio ambiente.
Mas, em assim fazendo, também seguiu a tradição popular
que dá muitas faces a Noé. Do velhinho bondoso das histórias infantís ao homem
culpado que aparece em outras narrativas e no filme.
Russell Crowe disse em entrevista que o diretor Darren
Aronovsky é um “ativista vegetariano” e que ele ama os animais. E
acrescenta:
“Acredito que a forma como olhamos os bichos explica a
nossa sociedade. Se mudarmos o jeito com que os tratamos, mudaremos também o
modo como nos relacionamos."
E essas posições, defendidas por muitos, mundo afora,
faz de “Noé” um personagem contemporâneo.
Vá ver o filme e mergulhe nessas questões. Pense nelas
porque são importantes.
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