“O Grande Circo Místico”, Brasil, 2018
Direção: Cacá Diegues
Tudo começou em 1910 quando o cometa Halley passava pelos
nossos céus, trazendo pânico e comoção.
Naquele casarão da família Knieps, o patriarca (Antonio
Fagundes) morre, enquanto sua amante, a Imperatriz Teresa, exilada no Brasil,
satisfaz o desejo de seu filho bastardo Frederic Knieps (Rafael Lozano),
dando-lhe de presente um circo.
O exótico pedido foi concedido a Fred que, encantado, deu o
circo à sua amada Agnes, na verdade Beatriz, já que ela adotara o nome de sua
mãe, que era a mulher-bala, no circo onde abandonou a filha.
A bela Beatriz (Bruna Linzmeyer), olhos azuis e corpo
sensual, era dançarina contorcionista e tornou-se um dos atrativos do Grande
Circo Místico. Em meio às suas elaboradas posições, as pedras que adornavam
seus véus tilintavam e brilhavam à luz dos refletores.
Mas a pobre Beatriz morre no parto em pleno picadeiro,
iniciando assim uma série de mulheres malfadadas. Sua filha Charlotte (Marina
Provenzzano) herda o circo mas não é amada como fora sua mãe. O mímico bem
dotado casa com ela por interesse (Vincent Cassell), a trata mal, tem outras
mulheres e dissipa sua fortuna.
Eles tem dois filhos e a bailarina Clara é a primeira sábia
deserção. Ela decide ir para o Rio e tornar-se artista de televisão, largando o
circo com o irmão Oto. Não sem antes dançar ao som da música dela, cantada por
Chico Buarque e coro de crianças, num belo e inspirado momento.
É nesse momento que percebemos a presença de Celavi (Jesuita
Barbosa), com um nome que é a pronúncia em francês de “c’est la vie”, e é um
personagem que não envelhece e tem humor em suas falas. Ele é o mestre de
cerimônias do circo e testemunha os infortúnios que sofrem as cinco gerações da
família Knieps até o século XXI.
A última e mais profunda sofredora é Margarete (Mariana
Ximenes), filha de Oto e de uma cantora drogada, que abandona a filha
bebezinha. Ela quer ser freira mas o pai é contra essa ideia, já que é uma
trapezista admirável. Margarete elabora então uma estranha vingança.
Cacá Diegues, cineasta e membro da Academia Brasileira de
Letras se disse encantado desde a juventude pelo poema de Jorge de Lima,
escrito em 1930, e que o inspirou a fazer o filme.
Belíssimo em certas passagens, como aquela da entrada em
cena de Beatriz (com a voz de Milton Nascimento cantando seu tema, uma das
músicas que Chico Buarque e Edu Lobo compuseram para o balé de 1983, do mesmo
nome do poema e do filme), em seu todo o filme perde em ritmo e clareza,
confundindo o espectador. A fotografia de Gustavo Hadba cria cores e luzes
fascinantes que distraem mais do que a história que está sendo contada.
“O Grande Circo Místico” se desfaz diante dos nossos olhos
não só em sua decadência mas na falta de interesse. O final é
tecnicamente perfeito mas de mau gosto, longo demais, com as gêmeas nuas e
rindo sem parar.
Fica a sensação de que a família dona do circo se
especializou em ser infeliz, especialmente as mulheres. O circo teria sido uma
espécie de presente de grego da Imperatriz para o filho bastardo. Uma maldição.
Pena. Cacá Diegues, que já nos deu filmes como “Bye Bye
Brasil”, se perdeu no filme que vai representar o Brasil no Oscar. C’est la
vie?
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