“O Contador”- “The Accountant”, Estados Unidos,
2016
Direção: Gavin O’Connor
Todos se lembram de Dustin Hoffman no filme “Rain Man”
de 1988, interpretando Raymond, o irmão mais velho e esquecido de Tom Cruise,
internado num hospital psiquiátrico e a quem o pai lega sua
fortuna.
Os irmãos vão se aproximar mas o que ficou na nossa
memória foi a estranha e extraordinária memória fotográfica de Raymond. Ele era
um autista e pouco se falava sobre isso na época.
Dustin Hoffman ganhou o Oscar e o Globo de Ouro de
melhor ator, interpretando um homem adulto que apresenta o quadro da síndrome de
Savant, uma condição clinica na qual as pessoas desenvolvem tanto habilidades
extraordinárias quanto graves. Raymond foi um personagem inspirado num caso
real, o de Kim Peek, de 55 anos, que possuía a habilidade de decorar 98% de tudo
que lia ou ouvia.
No filme “O Contador”, dirigido pelo irlandês Gavin
O’Connor, Ben Affleck interpreta um personagem que apresenta um caso de autismo
de alto grau de funcionamento, a síndrome de Asperger. Essas pessoas tem QI
normal, leves problemas de coordenação motora e os problemas de comunicação, de
interação social e comportamento repetitivo só são detectados pelos pais ou
professores depois dos 5 anos de idade. Desenvolvem interesses específicos e
obsessivos.
No caso do filme, Christian Wolff é altamente dotado
para a matemática e se interessa por armas.
E no campo das lutas marciais, um estilo específico, o
“silat”, torna-se uma especialidade e ele desenvolve habilidades de um
super-herói. Seu pai, um ex-militar problemático, ensinou ao filho que ele era
“diferente” e que, por isso iria assustar as pessoas. Era necessário que
soubesse se defender porque o medo que ele causaria nas pessoas seria o pretexto
para um ataque.
Vemos Christian e o irmão, que não tinha problemas,
serem instruídos por um professor de artes marciais que, incentivado pelo pai
dos meninos, levava os treinos aos limites do sadismo.
A mãe deles discorda das ideias do marido,
principalmente desse treinamento que o pai considera indispensável para o filho
e se vai chorando, numa cena que se repete muitas vezes no filme, quando
Christian relembra a mãe indo embora e ele quebrando vários objetos da casa, num
sério ataque de raiva, que também é uma das características da síndrome
autista.
Ben Affleck torna-se um contador excepcional, devido à
sua habilidade extraordinária com números. Mas se envolve com a máfia e a
lavagem de dinheiro e aí começa o filme de ação. Uma matança, já que Chris é
“expert”em armas e lutas corpo a corpo. Os cortes são rápidos e quase sempre
tudo se passa no escuro da noite, com muito pouca luz.
Mas o roteiro de Bill Rubesque é complexo e mostra cenas
muito boas, como a da descoberta das tramoias contábeis da empresa “Living
Robots”, que Chris entende em apenas uma noite de trabalho, escrevendo números
em todas as paredes da sala, para surpresa da contadora interpretada por Anna
Kendricks. Ela mesma participa de uma outra cena que mostra a dificuldade de
interação de Chris, quando se trata de afetos.
E uma das melhores é bem curta. Uma arma na nuca de
J.K.Simmons, que faz um policial, mostra de onde vem um dos maiores traumas de
Chris Wolff.
Tudo indica que vai ter uma continuação. Evitando o
olhar da câmara, na cena final, Ben Affleck esboça um sorrizinho matreiro.
Tomara. Bom para quem gosta de filmes de ação menos
simplórios.
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