domingo, 16 de outubro de 2016

Kóblic


“Kóblic”- Idem, Espanha, Argentina, 2016
Direção: Sebastián Borenztein

Clima sombrio. Um homem, com ar pesado, olha por uma janela. Alguém o chama e ele caminha a passos largos para um hangar. Pessoas assustadas são levadas para um avião. O homem sobe à cabina. É o piloto. Para onde serão levadas aquelas pessoas?
Muitos filmes já foram feitos sobre a ditadura militar argentina que governou o país entre 1966 e 1973 e depois de um curto período, de 1976 a 1983, com mão de ferro e sem nenhuma piedade para com os opositores. Nesses filmes, há como que uma digestão lenta desse período amargo da História do país.
Ricardo Darín, 59 anos, o mais famoso ator de língua espanhola, protagonizou um dos mais comentados, “O Segredo dos Seus Olhos”, que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2009. Ele sempre escolhe muito bem os papéis que representa com sinceridade e talento.
Em “Kóblic”, Darín volta a ser dirigido por Sebastián Borenztein de “Um Conto Chinês” de 2011.
Estamos em 1977 e seu personagem é um homem que se debate para fugir de um passado do qual não se orgulha.
Tomás Kóblic, um homem que não sorri, fala pouco e usa uma máscara severa para olhar o mundo, está em permanente pesadelo. Atormentado por cenas assustadoras, tanto quando dorme como quando está acordado, ele não tem repouso.
Quando o vemos, está num vilarejo pobre e perdido, San Antonio de Areco no campo argentino, rebatizado de Colonia Elena no filme. Despede-se de uma mulher. Sem carinho. Ela parte de ônibus.
Guiando seu carro por uma estrada de terra, chega a um hangar onde vemos um aviãozinho de dois lugares, daqueles usados na pulverização das plantações locais. O horizonte é amplo nesse lugar plano, com nuvens espessas que não deixam ver o céu.
“- Sou amigo de dom Alberto. Espero aqui por ele”, diz Kóblic a Luis (Marcos Cartoy Diaz) o rapaz que trabalha no hangar.
Quando pousa um outro aviãozinho, o piloto corre para abraçar Kóblic:
“- Polaco querido! Que surpresa!”
Conversam e o amigo coloca o hangar à disposição de Tomás. Há roupa, comida e uma caminhonete para ele usar sem chamar a atenção com seu próprio carro. O principal é que é um esconderijo seguro. O amigo vai viajar por uns dias.
De noite, em meio a sonhos maus, escuta um barulho. De pronto, pega uma arma na cabeceira. Chove. Trovões e relâmpagos iluminam um cachorro ferido.
E vamos conhecer um Kóblic compassivo, que ama animais e não maltrata seus semelhantes. Fugiu de Buenos Aires porque não conseguia cumprir tarefas que iam além de seus limites éticos.
Mas Kóblic também não vai conseguir fugir do clima de terror da ditadura porque ele está presente em outros personagens no vilarejo, principalmente no odioso delegado Velarde (Oscar Martinez).
Vai haver o conflito que ele evitava.
E vai acontecer o amor, na pele da bela atriz espanhola Inma Cuesta, porque Kóblic anseia por liberdade e calor humano.
O final é antológico.

Outro ótimo filme de Ricardo Darín.

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