quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Os Descendentes












“Os Descendentes” – “The Descendants”, Estados Unidos, 2011

Direção : Alexandre Payne



Já se tornou um bordão falar que, de perto, ninguém é normal. Acrescente-se a isso a descrença na existência do paraíso terrestre e temos “Os Descendentes”, o último filme de Alexandre Payne, diretor do apreciado e oscarizado “Sideways” de 2004.

Vendo o filme concluímos que o Havaí pode ser o Haití em termos de natureza humana, se bem que em belas paisagens.

O que seria do Havaí se ainda fosse a terra do surf em grandes pranchas de madeira, princesas coroadas com flores e respeito à tradição? Nunca saberemos.

A natureza intocada do arquipélago em questão não ficou na mão dos havaianos e caiu nos dentes de empresários que erigiram construções, nem sempre bonitas, onde antes era o cenário natural.

Por que os descendentes dos donos originais da terra venderam suas propriedades? Ambição, claro. Que mais?

A última pristina praia branca, cercada por matas tropicais e um belo mar azul, corre perigo.

Esse é um dos temas de “Os Descendentes”,

adaptação do primeiro livro de uma havaiana,

Kui Hart Hemmings, editado no Brasil pela Alfaguara.

O diretor Alexandre Payne, que escreveu o roteiro, diz que respeitou a história mas que acrescentou uns toques de humor (negro, na minha opinião), para que o filme não caísse no pieguismo.

O protagonista Mattew King ou Matt (George Clooney), um cinquentão narcisista, é o narrador e um dos descendentes de uma princesa havaiana e um inglês de quem a família herdou a praia intocada.

A primeira coisa que ele fala é que todo mundo pensa que ele é feliz, já que vive em um paraíso e aí começa a narrativa de suas desgraças. Nada melhor do que culpar o mundo (mais exatamente sua mulher, em coma no hospital) pelos seus fracassos como pai e marido.

“Os Descendentes” é, principalmente, um veiculo para George Clooney, que aparece em todas as cenas. Ele já ganhou o Globo de Ouro, assim como o filme e não seria um espanto se ele ganhasse o Oscar. “Os Descendentes” foi indicado para cinco deles.

Todos esses holofotes em cima de George Clooney fazem ficar na sombra os bons atores juvenis coadjuvantes, Shailene Woodley, que faz Alexandra, a filha de 17 anos de Matt, o namorado antipático Sid, papel de Nicki Krause e a surpreendente Amara Miller que faz Scottie, a responsável pelo melhor momento do filme. São solenemente esquecidos pelo Oscar.

Diga-se de passagem, que convencem mais que Clooney, com suas expressões monocromáticas, eivadas de um único sentimento, ou seja, esforçar-se para ser um bom ator.

Além do final previsível, o filme é raso nas soluções de questões psicológicas e há um evidente endosso a uma maneira egoísta de ser.

Bem, pode ser que vocês gostem. Para mim foi uma decepção.


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