quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Esses Amores



“Esses Amores” - “Ces Amours- là”, França, 2010

Direção: Claude Lelouch










Uábadábadá, uábadábadá...

Esse refrão ritmado de Francis Lai soa aos ouvidos de toda uma geração como uma recordação de romance e sofisticação.

Faz parte da trilha sonora de um dos filmes que mais marcou a carreira do cineasta Claude Lelouch, que nasceu em Paris em 1937, filho de um judeu da Argélia.

Ele ainda não tinha 30 anos quando dirigiu “Um homem e uma mulher”(“Un Homme, une Femme”), com Anouk Aimée e Jean-Louis Trintgnant. Um piloto de corrida e uma bela mulher, ambos viúvos, se encontram, por acaso, no colégio interno onde seus filhos estudam.

O uso da cor para mostrar as cenas do presente e o preto e branco para o passado dos personagens, era um charme a mais no filme que tinha uma música de Vinicius de Mores e Baden Powell, “Samba da benção”.

“Um Homem e Uma Mulher” fez tanto sucesso que ganhou dois Oscars em 1967: melhor filme estrangeiro e melhor roteiro original. Já tinha levado a Palma de Ouro em Cannes em 1966. E Anouk Aimée ganhou o Bafta inglês e o Globo de Ouro como melhor atriz.

Houve uma continuação de “Um Homem e Uma Mulher”, 20 anos depois, com os mesmos atores, que levou ao cinema quem tinha visto e se encantado com o filme de 1966.

Mas Lelouch é um diretor de outros grandes filmes, também sucessos de público como “Viver por Viver”(“Vivre pour Vivre”) de 1967 com Yves Montand, Annie Girardot e Candice Bergen e “Retratos da Vida”(“Les Uns et Les Autres”), de 1981 com um grande elenco liderado por Nicole Garcia, Geraldine Chaplin, Michel Piccoli, Fanny Ardant, com dança (Jorge Donn, inesquecível no Bolero de Ravel), música e guerra, em um grande painel que começa em 1936 e vai até os anos 80.

Ao completar 50 anos de carreira e já com 43 filmes no currículo, Claude Lelouch resolveu fazer de novo o que sabe fazer como ninguém: acompanhar os acontecimentos da história do Ocidente e fazer com que se misturem à vida dos personagens que ele cria.

Dessa vez ele conta os amores de Ilva (Audrey Dana), uma bela francesa, durante os anos que antecedem, durante e após a Segunda Guerra Mundial.

Romance, sexo e intriga contracenam na França tomada pelos nazistas, onde é mostrado o papel da resistência francesa, vê-se os judeus sendo exterminados nos campos de concentração e presencia-se a invasão da Normandia com a entrada dos americanos na guerra, decidindo a vitória dos aliados em 1944.

Lelouch homenageia o cinema em ”Esses Amores”, começando pelos irmãos Lumière e o primeiro filme falado, “O cantor de Jazz”, passando pelos diretores que ele ama, nos trechos de filmes que passam no cinema ”Palace” que é um dos cenários por onde transitam os personagens, até “closes”dos atores que trabalharam em seus filmes no final de “Esses Amores”.

Como sempre, a música é central na trama que vai contar histórias paralelas que depois se encontram. Ouvimos assim, “Que Reste-t-il de Nos Amours?” cantada por uma francesa acompanhada de um acordeão, “Stormy Wheater” no Cotton Club em New York e o Concerto n. 2 para Piano de Rachmaninoff que se ouve no campo de concentração tocado por um dos prisioneiros e que abre e fecha o filme.

Ilva, que muito amou, vai ser condenada por um crime que não cometeu? Como diz o advogado/ pianista judeu, será que houve um suicídio disfarçado em assassinato?

A história dessa mulher, mesclada aos dramas de uma guerra cruel e um pós-guerra difícil para todo mundo, são os temas que veremos nesse filme, transbordante talvez, atordoante, mas certamente a síntese da obra do grande Claude Lelouch.

Todos os elementos dos outros filmes aqui estão presentes, contados da maneira talentosa com que Lelouch sempre encantou as platéias numerosas de seus fãs.

Claude Lelouch é um homem apaixonado pelo romance. Como ele mesmo diz no fim do filme, pela boca de um personagem, cineasta como ele:

“- E foi por causa daquele beijo que eu filmei tantas histórias de amor nesses 50 anos”.

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