terça-feira, 9 de agosto de 2011

A Árvore da Vida





“A Árvore da Vida”- “The tree of Life”, Estados Unidos, 2011

Direção : Terrence Malick





O diretor de cinema e roteirista Terrence Malick, que é filósofo formado em Harvard, filmou apenas cinco longas em sua carreira iniciada nos anos 60. E são todos obras primas.

Em Cannes, ganhou o prêmio de melhor direção por “Cinzas no Paraiso” de 1978, e foi lá que ele deu sua última entrevista sobre cinema.

Perfeccionista, brilhou em Berlim em 1999 com o seu “Além da Linha Vermelha”, um libelo definitivo contra a guerra, que ganhou o Urso de Ouro.

Uma lenda viva, considerado um tímido porque não fala sobre seus filmes, esperando que o público descubra por si mesmo o seu cinema, ele não apareceu em Cannes esse ano para receber a Palma de Ouro para “A Árvore da Vida”.

A beleza do filme é impactante e envolve o espectador em um clima de poesia e metafísica que seguimos, quase sem respirar, como se estivéssemos numa catedral.

Esse estado de espírito nos prepara para as reflexões de Malick sobre o ser humano, através da vida de uma família comum, nos anos 50 do século XX, no Texas, onde o diretor nasceu, até os nossos dias em New York.

O diferencial será a maneira como é narrado o filme, sem muitos diálogos, com um ir e vir no tempo e frases ditas em “off”, em quase sussuros, que é a marca registrada de Malick.

Além disso, ele consegue atuações memoráveis de seus atores Brad Pitt, Jessica Chastain, Sean Penn e do jovem Hunter McCracken.

O filme começa com uma colocação intrigante e ao redor da qual vai girar a trama simples do filme:

“Existem dois caminhos na vida: a maneira da Natureza e a maneira da Graça. Nós temos que escolher qual deles seguir.”

A familia, que tem Brad Pitt como o pai de temperamento duro e a mãe, Jessica Chastain, suave e doce, amante da vida e da alegria, vai ser mostrada primeiramente em um momento de perda e luto. Um dos três filhos morreu.

Preparem-se. Porque mais que um filme, “A Árvore da Vida” é uma experiência única, se você se deixar envolver pela proposta de Terrence Malick.

O diretor nos convida a pensar nos nossos começos. E para isso, nos coloca para ver o seu “big bang”, o começo de tudo no universo.

Fogo, água, ar e terra, os elementos fundamentais dos antigos, fazem-se presentes.

Belissimas imagens de visitas a mundos longínquos antecedem a chegada ao nosso planeta. A tela é invadida por fotografias e montagens tão maravilhosas quanto assustadoras, se imaginarmos a dimensão do ser humano frente às forças do universo.

Tudo isso com uma trilha sonora não menos espetacular que traz trechos de Smetana ( The Muldau), Bach, Brahms, Mahler, Berlioz, Mussorgsky, Mozart (Lacrimosa) e muitos mais.

Os efeitos especiais são de Douglas Trumbull de “2001- Uma Odisséia no Espaço”, amigo de Malick, que lhe pediu para não usar imagens geradas por computador. Assim, foram utilizados os mais diversos materiais para recriar o universo, desde pinturas, corantes, fumaça, até chamas, pratos giratórios, luzes e fotografia em alta velocidade. O resultado é mágico.

Aqui na Terra, o primeiro mundo que é visitado é o microcosmo, de onde surgiu o elemento gerador da vida, essa combinação misteriosa de forças e circunstâncias únicas.

E de repente, sem que a gente espere por isso, hipnotizados que estamos por aquelas paisagens do mundo invisível, Terrence Malick faz-se nosso guia para uma viagem extraordinária, que nos leva em um salto no tempo/espaço até os dinossauros.

E quão comovente é esse contato com o animal primevo que já contém em si a experiência afetiva da maternidade!

Nas praias do começo do mundo, os elos sagrados entre mãe e filhote, fazem sentir a sua presença.

E, quando o olho do feto se abandona ao escrutínio da câmara, sabemos que estamos em território conhecido: já é o nosso mundo.

Os elementos dos antigos continuam conosco na bela natureza que se oferece aos nossos olhos nos vulcões, rios de lava, desertos de areia, o sol se pondo em horizontes carregados de nuvens e água que cai em torrentes ou em tímidos pingos sobre paredes de musgo que escoram os meandros de um rio.

E compreendemos que a viagem está chegando ao seu ponto alto. Aproximamo-nos do humano em toda a sua grandeza, falhas e complexidade.

Aqui, as forças cósmicas estarão presentes de uma maneira diferente mas não menos produtora de embates conflitivos:o pai e a mãe, a casa, os irmãos. O mundo no qual gravitam pessoas em torno de pessoas.

Malick nos faz aterrissar nos Estados Unidos, Texas, anos 50, para viver os pequenos e grandes dramas de uma família.

A história de um homem (Sean Penn), vai ser contada em episódios que nos fazem revisitar a nossa própria vida.

Amores e ódios, tristeza e alegria.

Na saga dos três irmãos, o mais velho e o do meio vão dramatizar o ciúme e a inveja, bem como uma adoração e fidelidade total à mãe. O pai será desafiado...

Terrence Malik escolheu o Livro de Jó da Bíblia, como epígrafe para o seu filme. Assim, a fé e o perdão são os elementos para a compreensão de tudo que vamos ver acontecer.

E Malick pergunta:

“Será que a desilusão e a desgraça são castigos de Deus para os maus? Ou pura casualidade?”

É um filme surpreendente que coloca mais interrogações do que respostas.

Uma delas aflige a todos os seres humanos quando descobrem o poder acachapante da culpa:

“Desejos matam?”

E aí vamos nos lembrar da criança que fomos um dia.

A fotografia deslumbrante de Emmanuel Lubezki, que usa apenas luz natural, combina bem com esse diretor que não acredita em pessimismo mas sim na esperança e no perdão, como força redentora do ser humano.







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