domingo, 3 de julho de 2011

A Missão do Gerente de Recursos Humanos




“A Missão do Gerente de Recursos Humanos”- “Le Voyage du Directeur des Resources”, Israel / Alemanha/ França, 2010

Direção : Eran Riklis



Quem viu “Lemon Tree” (2008) e se emocionou com o drama da viúva palestina que protegia o pomar de limoeiros dos seguranças de seu novo vizinho, o Ministro da Defesa do Estado de Israel, que queriam destrui-lo em nome da proteção ao chefe, vai ter curiosidade sobre o novo filme do cineasta israelense Eran Riklis, que levou cinco prêmios da Academia Israelense de Cinema, “A Missão do Gerente de Recursos Humanos”.

No titulo original, a “missão” da tradução brasileira é, na verdade, “a viagem”. Mas, vamos por partes.

Nascido em Israel, Eran Riklis, 56 anos, é um diretor de cinema sensível a temas que colocam em dúvida certezas íntimas. Estudou cinema na Inglaterra e faz filmes desde 1984. Apareceu com sucesso nos Festivais de Veneza e Berlim em 1991 com “Cup Final” e “Zohar” (1993) foi muito prestigiado pelo público em Israel. No Brasil passou também o seu “Noiva Siria” (2004).

O novo fime começa em 2002 em Jerusalém, a “Capital da Eternidade”, “A Cidade de David”, Yerushalaim. Uma bela vista com o Muro das Lamentações ao fundo, aparece no filme.

A história, adaptada do romance “A Mulher de Jerusalém” de Abraham Yehoshua, centra-se no gerente de recursos humanos de uma grande panificadora industrial da cidade.

O problema dele (Mark Ivanir, ótimo ator ucraniano) é que uma ex-funcionária, imigrante romena, Yulia Petracke (que só aparece em um filminho no celular de seu filho), morre em um atentado à bomba com outras 16 pessoas. Seu corpo está há dias no necrotério da cidade.

Um jornalista (Guri Alfi) descobre o acontecido e passa a fazer reportagens acusatórias sobre a panificadora e seu gerente. Clama por justiça para a funcionária, que não tinha sido demitida regularmente.

Para defender a empresa de pães, cabe ao mal-humorado gerente, cuja vida pessoal não caminhava bem, fazer uma viagem ao interior da Romenia, levando o corpo para o funeral.

Contada dessa maneira linear, a história perde o que tem de melhor: detalhes, olhares, cuidados, descobertas.

Ou seja, aquilo que se passa nos bastidores dos personagens é que é o mais importante e conduz a narrativa.

Assistimos à lenta transformação do que seria um trabalho meramente burocrático para o gerente, em uma viagem na qual ele vai ser tocado em seu território mais intimo.

É esse o material com que melhor trabalha o diretor Eran Riklis: a alma humana e sua possibilidade de surpreender, de superar fronteiras geográficas, culturais e religiosas.

Ele é um humanista e trata sempre disso em seus filmes.

Aliás, Eran Riklis é mestre em dizer, com cenas mudas, tudo o que passamos a saber sobre seus personagens. Em “Lemon Tree” a troca de olhares empáticos entre a palestina e a mulher do Ministro da Defesa de Israel dizia mais do que mil discursos sobre os conflitos entre esses povos vizinhos. Aqui, em “A Missão do Gerente de Recursos Humanos”, prestem atenção na neve que tomba sobre o gerente na cidadezinha em que Yulia nasceu, quase como que falando por ela, pedindo a ele um “milagre”.

É um filme que faz rir com situações tragi-cômicas enquanto convida a pensar sobre os limites auto-impostos à nossa possibilidade de sermos melhores do que somos.

7 comentários:

  1. Olá, Eleonora
     
    Do mesmo diretor do excelente "Lemon Tree", Eran Riklis dirige este filme israelense "A Missão do Gerente de Recursos Humanos" não alcançando a pretensão do filme.
     
    Os transtornos da burocracia nos são apresentados durante a narrativa do filme. O atentado sofrido pela personagem romena, Julia Petracke, torna-se mais dramático quando a sua identificação é apenas o número
     
    535 na panificadora onde trabalhou como simples faxineira  "Ela é uma pessoa qualquer, em qualquer lugar". Mas o que é bom no filme, é o que nos mostra o protagonista, cumprindo a sua missão de a qualquer
     
    preço dar a essa pessoa comum a dignidade humana e justa de um enterro decente. O filme passeia pelas aldeias romenas e outras tantas que certamente inspiraram Chagall. 
     
    A veterana atriz Gila Almagor tem forte personalidade e não se "intimida" com a câmera. Eran Riklis, rodou alguns 'takes" apenas com câmera de mão dando a impressão de um documentário.
     
    Esperava mais.
     
    Bjos,
     
    Sonia Clara 
     
     

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  2. Sonia Clara querida,
    Obrigada pelo comentário acima.
    Infelizmente só consegui copiar mas não introduzir como eu queria... Dia a dia esse blogspot vai tirando espaço da gente. Um abuso!
    Bjs

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  3. Eleonora
    Apesar da freqüente tirada de “tapete” do Blogger, acompanhamos e reconhecemos SEU esforço em manter esse espaço pra gente, se é que seus Simpatizantes me permitem expressar aqui de forma plural. Gratos e Solidários! Bjs

    Como gostei do filme anterior desse diretor Israelense e agora com Seu texto e comentários de Sonia Clara, fiquei curioso em visitar as paisagens “chagallianas” da Romênia ambientadas nesse filme. Quem sabe com um casal Romeno muito Amigo. Vou ligar pra eles e combinar. Grato!

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  4. Eleonora,
    Seus comentários são sempre com absoluta pertinência e embasamento. Transparecem o seu conhecimento e paixão pela sétima arte.
    FORWARD!
    Bjs,
    Sonia Clara

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  5. Sonia Clara querida,
    Que sucesso! Comentário postado!
    E vc como sp gentil e generosa.
    Obrigada!
    Bjs

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  6. GOSTO:...
    do inusitado,
    dos “monólogos e diálogos” do silencio,
    dos “detalhes, olhares, cuidados, descobertas”, que vc identificou como o melhor do filme,
    das transformações internas se revelando no exercício dos embates da Vida.
    da sensibilidade do diretor.
    do seu texto, ELEONORA, nos mergulhando “nos bastidores dos personagens” (sic), no outro lado da VIDA que temos e que nem sempre “viajamos”, talvez mesmo, pelas paisagens inóspitas e dificuldades burocráticas que evitamos enfrentar.
    Por isso tudo, GOSTEI dessa história que vai operando uma seqüência de milagres internos. Lindo o simbolismo da neve caindo que vc observou pela gente.
    O SABOR do embate entre belo e o feio interiores em contraste com o exterior.
    “Quando quiser entrar, traga flores” como que levando sentimentos a partilhar, em vez de coisas sò/ p/ impressionar.

    Preferia como título,“A Viagem...”, do original, em vez de “A Missão...” ou melhor ainda o do livro “A Mulher de Jerusalem”, que vc nos lembrou chamar de “Cidade da Eternidade”, onde Yulia, mesmo MORTA continua VIVA nas pessoas operando VIDA. Que é, enfim, o que ela tinha ido buscar bem longe de suas origens, mesmo que provisória/ arrastando seu diploma de engenheira na faxina da latrina, inclusive correndo riscos.

    Enfim, gosto de histórias como essa do filme que nos ajudam “a pensar sobre os limites auto-impostos à nossa possibilidade de sermos melhores do que somos”, que vc nos propôs PENSAR.
    Grato! Bjs.

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  7. Ser Amigo,
    Pensar a dois é sp melhor que pensar sózinho, não é mesmo?
    Por isso gosto de pensar com esses filmes e gosto mais ainda qdo alguém pensa sobre o que eu pensei, como vc faz.
    Seja sempre bem-vindo.
    Bjs

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