“Potiche – Esposa Troféu”- “Potiche”, França, 2010
Direcão: François Ozon
Dessa vez, o jovem diretor francês François Ozon, deixou de lado o tema da perda, tão presente em seus filmes sempre originais e escolheu fazer uma comédia em tom de farsa sobre a mulher no final dos anos 70, na França.
“Potiche” segue o filão explorado em “Oito Mulheres” (2002) do próprio Ozon, também com Catherine Deneuve: comédia e canções. E mulheres como prato principal.
Como sempre, o tradutor se engana, passando uma idéia que nada tem a ver com o filme, embarcando na tradução americana. “Potiche” é um objeto de decoração, belo mas inútil.
Então, é sobre a esposa decorativa que Ozon quer contar uma história. Mas, ele vai além dessa intenção, porque o papel de “potiche” pode mudar de um personagem para outro, conforme o desenrolar da trama do filme. Não é uma exclusividade feminina.
Em entrevista a Luiz Carlos Merten, Ozon assim falou sobre “Potiche”, um dos seus maiores sucessos de público na França:
“Em tom leve e divertido, este é um filme que me permite falar de tudo. Do amor, da família, dos negócios, das diferenças entre homens e mulheres. Mas o que realmente me encantou foi a mudança da personagem. Catherine (Deneuve) evolui de esposa para administradora e política. Mostrar essa transformação foi estimulante.”
Sim, porque no começo do filme, uma Catherine Deneuve alienada, saltita alegrinha por um caminho no bosque, vestida de roupa de ginástica vermelha. Uma música assobiada a segue. Sapatinhos brancos e cabelo enrolado preso numa redinha, ela é uma Branca de Neve de contos de fada. Conversa com os animais, manda beijinhos para os passarinhos e saca do bolso um caderninho para escrever um poema.
De avental, na cozinha amarela de sua casa bela casa, serve o café da manhã para o marido arrogante e mal humorado, que preside a fábrica de guarda-chuvas que Susanne trouxera ao casar-se com ele:
“- Não se esqueça de que você é Mme Pujol”, diz ele ao saber que a empregada não estava.
“- Todo dia eu repito para mim mesma: Eu sou Mme Pujol. Eu sou Mme Pujol”, responde Suzanne compenetrada e com uma ponta de ironia.
Catherine Deneuve, 67 anos, a sempre “Bela da Tarde” de Buñuel, está à vontade no papel de esposa submissa e mulher objeto que vira a mesa com elegância. Diz ela nas entrevistas que riu muito durante as filmagens.
Seus vestidos “chemisier”com laço no pescoço, conjuntos de saia e blusa coordenados, com casaquinho nos ombros e cabelo armado e duro de laquê, nos fazem viajar para os anos 70.
Seu belo rosto e seu talento de atriz fazem o resto. Ela domina o filme. É a estrela.
Sendo que, de quebra, assistimos em “Potiche” a um reencontro histórico: Deneuve e Depardieu.
Ele, enorme de gordo, não perde o charme que o consagrou. Ela contracena com ele com carinho e verve. Velhos amigos.
O elenco é ótimo e a direção de Ozon, direção de arte e fotografia irretocáveis.
Todos os estereótipos dos anos 70 estão presentes: o marido que tomou a fábrica da mulher (Fabrice Luchini), a secretária amante do patrão (Karen Viard), a filha conservadora e interesseira (Judith Godreche), o filho com idéias de esquerda que não se decidiu a “ sair do armário” (Jeremie Renier), o deputado de esquerda que virou prefeito da cidade (Gérard Depardieu) e que tem uma história antiga com Suzanne, os operários encenando a luta de classes.
A mistura é boa e o final surpreende.
A trilha sonora composta pelas músicas mais populares dos anos 70 na França tem seu apogeu na cena final, em que, dona de todos os holofotes, Catherine Deneuve canta
“C’est beau La Vie”, depois de pregar a volta do matriarcado e das Amazonas.
“Potiche” é uma comédia satírica que consegue tratar de assuntos sérios com humor, colocando a mulher em primeiro plano.
Ozon sabe das coisas. E mostra isso mesmo quando quer brincar.
Tive que copiar o comentário da Sonia Clara pq o blogspot não autoriza...Leiam:
ResponderExcluirOlá, querida
Acredite, mas não consegui outra vez! Fiz duas tentativas e não vai. Por que será??
Segue então o comentário.
"Potiche" é um filme baseado em uma comédia, do mesmo nome, que se inclui no gênero do Theatre de Boulevard que, na França, além de Feydeau, teve como expoentes comercialmente bem sucedidos nos anos 50 e 60 os autores Barillet e Grédy. Entre suas peças adaptadas para o cinema lembramos "Flor de Cactus" com Ingrid Bergman e Walter Mathau, e "40 Quilates", com Liv Ullman e Gene Kelly.
São peças leves, naives, características do gênero com seus finais inusitados. Madame Pujol (Catherine Deneuve) é a mulher que aparentemente "enfeitava a prateleira", mas ao deslocar-se do enfadonho cotidiano mostra-se eficiente como diretora-executiva da fábrica de guarda-chuvas e nos surpreende com seu passado de "moleca da breca".
O filme tem para nós uma ingenuidade proposital daquilo que era assim e fez questão de continuar assim até chegar às telas.
A presença de Gérard Depardieu é simplesmente magnética apesar do seu generoso peso. É um contínuo prazer vê-lo de novo ao lado de Catherine Deneuve e apreciar a maturidade dessas duas criaturas tão emblemáticas.
Catherine Deneuve nos seus 67 anos continua a bela da tarde e da vida.
O filme é apenas um divertissement.
Bjs.
Sonia Clara
Eleonora
ResponderExcluirBrincando-sério c/ seus comentários, como vc observou o diretor Ozon ter feito nesse filme.
Lendo e refletindo seu Comentário depois de ver o filme, ousei esse "brincar".
Evitei aplicar aspas em suas palavras, que aliás são sempre muito bem geradas, porque ficaria muito carregado, e o blogger não nos acessa a ferramenta italic, essas “coisas que” estão todas em seu texto. Vamos lá, então.
COISAS QUE....
.....que APRENDI:
- que Ozon mudou o tema da PERDA dos filmes anteriores adotando o tom de farsa;
- o significado de potiche, incrível mas eu não sabia, olhe só!
- a moda 70 através de sua descrição; nada como ser expert!
- que Depardieu e Deneuve são velhos amigos;
.....que ANOTEI?
Alugar e ver “Oito Mulheres”
....que acrescentei?
Catherine Belle DEPUIS TOUJOURS Deneuve
.....que também VI:
Deneuve virando a mesa de seu personagem, com elegância
.....que senti:
- o contágio do riso que la Deneuve nos traz dos bastidores
- O resgate da empatia do carismático Depardieu cuja figura astrix e obelix poderia desandar em desamor
....que sujiro (do verbo sugerir):
- aos e às que servir a carapuça – embora tenhamos dificuldade de nos reconhecer em papéis “não reconhecidos” – dizer “je sui M. ou Mme potiche” no “dia nosso de cd dia”.
- que muitos patrões e sindicalistas poderiam aprender com o personagem Mm. Pujol.
...... que GOSTEI:
- potiche mudando de personagem e que isso não é uma exclusividade feminina. EstimulanteI
- a declaração do diretor que vc postou. Adorei!
- do “final surpreendente”, - concordo cvc “C’est beau La Vie”,
- Catherine Deneuve, encarnando deliciosa/ uma das raras revoluções que certamente continua vencedora e avançando, a das Mulheres: Vive La Femme!.....avec les hommes; e “versa-vice”!
bjs
P.S. diga a SONIA CLARA, se me permite, que tbém GOSTEI, da "bela da Tarde e da Vida" c/ que ela finalizou seu comentário.
Ser amigo,
ResponderExcluirAdoro esse seu jeito de leitor atento e aprendiz de feiticeira!
Bjs