segunda-feira, 13 de junho de 2011

Meia Noite em Paris



“Meia Noite em Paris”- “Minuit à Paris”, Estados Unidos/Espanha, 2011

Direção: Woody Allen





“Plus ça change, plus c’est la meme chose”, diz o dito popular francês que quer dizer mais ou menos isso: quanto mais se muda, mais fica a mesma coisa.

Woody Allen, o diretor americano que já tinha filmado Paris em belíssimas tomadas no Sena em “Todo Mundo Diz Eu Te Amo” (1996), em seu novo filme “Meia Noite em Paris” vai demonstrar a sabedoria do ditado francês, além de homenagear a “ville lumière” (cidade das luzes).

Mostrando-se claramente à vontade entre personagens da cultura e vida parisiense do começo do século XX, Woody Allen presenteia o público que gosta dele com uma deliciosa comédia. E, aproveitando para não deixar de ser ele mesmo, vem novamente nos falar sobre a condição humana e seus tropeços.

A insatisfação crônica é marca do homem contemporâneo?

Woody Allen diz que não. Em “Meia Noite em Paris” ele demonstra como sempre existiu, e existirá, essa vontade de estar em outro lugar, em outra época, para poder ser alguém diferente do que se é.

Sabemos como a saudade de um passado que não se viveu e o desejo de voltar no tempo são temas recorrentes na literatura e no cinema.

Nessa comédia sofisticada tudo isso vai ser revisto sem mau humor, nem castigos superegóicos, como acontece às vezes em outros filmes do cineasta Woody Allen.

Paris é uma festa? Depende de como você olha.

Para Gil (Owen Wilson), um frustrado escritor americano que só escrevia roteiros para Hollywood, Paris estava sendo um lugar chato, onde a família burguesa de sua namorada se divertia muito em férias.

Mas Woody Allen faz a fada madrinha e, como em um conto de fadas, à meia noite, em suas andanças às cegas por Paris, ele encontra por acaso a porta que o leva para os anos 20, numa cidade de sonho, freqüentada por todos os escritores e artistas que ele sempre admirou.

Qual Cinderela às avessas, é à meia noite que passa a carruagem de Gil, um Rolls Royce principesco.

Ele vai conhecer “le tout Paris” dos "anos loucos" à “Belle Époque” e vai se inspirar para escrever seu tão adiado romance.

“É a Paris mítica do imaginário de todos os americanos”, disse Woody Allen quando foi entrevistado em Cannes, onde seu filme abriu o festival e foi aplaudido de pé pela platéia seleta.

Conviver com Zelda e Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Gertrude Stein (uma ótima Kathy Bates) e de quebra, Picasso, Luis Buñuel, Man Ray, Josephine Baker, faz o americano Gil (o alterego de Woody Allen dessa vez), querer abandonar o século XXI e sua noiva (Rachel McAdams) para se apaixonar e se perder na Paris dos sonhos dele.

E a musa de todos os pintores da Paris dos anos 20, encarnada por Marion Cotillard (“Piaf”), brilha no filme de Woody Allen, que assim fala dela:

“Marion é maravilhosa. No início, a personagem era uma norte-americana em Paris. Mudei só para tê-la no elenco.

Ela chegou vacilante, estressada, sem saber se conseguiria fazer o papel. Eu tinha certeza. Marion representa a própria sedução da França na tela.”

E Carla Bruni-Sarkosy? Sim, ela também está no filme “Meia Noite em Paris”. A primeira dama da França faz um pequeno papel de guia dos americanos e, nos poucos minutos que ocupa a tela, é ela mesma, com aquele jeitinho sedutor com que canta suas canções.

Porque ninguém diz não a Woody Allen que, aos 76 anos, parece ter se rendido à sabedoria que a idade traz, podendo fazer tudo que quer na tela do cinema.

E como todo ano tem um novo Woody Allen, vamos ver esse com delícia e esperar pelo próximo que será rodado em Roma, “The Wrong Picture”, com Penélope Cruz e Alec Baldwin.

Porque a gente sempre quer mais em se tratando de Woody Allen.

7 comentários:

  1. Será que o novo filme do Woody Allen é tão bom assim ou é a crítica da Eleonora que o faz parecer tão bom assim?
    Na dúvida, eu vou assistir.
    De resto, adoro o Woody Allen e adoro Paris em 1920, quando parecia uma festa: um tempo que se tornou mítico.
    Sylvia 

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  2. Sylvia querida,
    Postei seu comentário tão gostoso acima. Esse horror de blogspot está com seus dias contados,viu? Aí será um lugar sem restrição nenhuma!
    Bjs

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  3. OI, querida,
     
    Aguardando pelo Blog, segue o comentário  sobre o filme..
     
     
     
    Woody Allen abre o filme "Paris à Meia Noite" mostrando em cartões postais a Cidade Luz. Não se preocupou se essas imagens ficariam explícitas ou simples demais.
     
    O filme é a cabeça dele vivida pelo protagonista. Já começa mostrando os dois atores na ponte em Giverny,  onde morou Monet.
     
    É um filme sofisticado como é a cultura de Woody Allen. De uma forma extremamente original, ele situa-se num passado culturalmente importante onde os personagens se encontram e fazem a festa para nós
     
    espectadores.
     
    Percebe-se que ele optou pelo velho mundo onde está situado não somente no filme como na sua própria vida. Woody Allen traduz para nós os seus encantos culturais através  de Josephine Baker,
     
    Gauguin, Lautrec, Braque, Dali (Adrien Brody fantástico), Hemingway, Scott Fitzgerald, Gertrude Stein, cujo quadro pintado por Picasso vê-se na parede ao fundo onde a maravilhosa atriz Kathy  Bates aparece em
     
    suas cenas.
     
    São imagens literárias num  tom quase impressionista nas cenas noturnas dos "momentos oníricos" do personagem. Tudo é  elegante. Elegante tb a discreta participação da primeira dama francesa Carla
     
    Bruni que de maneira natural transgride a liturgia do seu cargo  e se apresenta para o público em 35mm. Woody Allen ridiculariza com sutileza o casal americano supostamente chic mas desconfortável com o "boeuf
     
    bourguignon" parisiense. Woody Allen alinhava o seu filme homenageando Cole Porter dizendo-nos que continua americano, porém  ultrapassando esses limites com a cultura abrangente que acumulou.
     
    Et pourtant, Paris je t'aime
     
    Bjo,
    Sonia Clara
     

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  4. Obrigada querida Sonia Clara!
    Seu comentário é chique e cool como vc!
    Espero que logo, logo eu possa oferecer um espaço para comentários valiosos "comme il faut".
    Bjs agradecidos

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  5. Ver "Paris, mesmo que meia noite", com sua indicação, Eleonora, mais intervenções valiosas, como vc se referiu, da Sylvia e Sonia Clara, sendo Woody Allen nosso anfitrião, trazendo em sua cia a 1ª dama francesa Carla B. Sarkozy, Marion Cotillard, Cathy Bates, entre outras, mais o xará Owen Wilson, é um apelo e tanto.
    Haja fantasia e desfrute!

    Sempre que leio sobre a produção de cinema de Woddy Allen, agora com mais de 70 anos, fico cada vez mais esperançoso por ser ele mais uma prova viva de que produtividade com prazer qualitativo não tem idade.

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  6. Agora, visto filme, inspirado pelo seu texto, Eleonora e comentário da Sonia clara, diria que a “porta mágica” inventada pelo diretor para conviver com seus (nossos) personagens históricos favoritos, mais a abertura do filme com a sequencia sofisticada de cartões postais da cidade, confirma um Woody Allen cada vez mais "DELICIOSO", numa Paris, “ville lumiére” e onde tudo pode ou podia acontece!

    Mas apesar das luzes mágicas badaladas da meia noite, nós, os personagens centrais de nossa História pessoal, nos “tropeçamos em nossa condição humana.”(sic)

    “plus ça change...”, para lidar com esse anseio “eterno de mudar sempre”, “essa vontade de (estar) em outro lugar, em outra época, para poder ser alguém diferente do que se é.”(sic),
    talvez o segredo para não estar deslocado de seu tempo, de sua realidade, seja mudar, mas sempre privilegiando a mudança no presente, que afinal será nosso futuro,lembrado quando for passado.

    Quanto a essas lembranças, insatisfações, talvez seja melhor lidar com elas apenas como exercício de imaginação, exatamente como fazemos assistindo a um filme como esse. Altamente inspirado e imaginativo.

    Conviver com as imagens de Paris, na companhia de Woody Allen, seus personagens, na interpretação de seu vasto e eficiente elenco, com as figuras históricas do século XX e as fictícias de épocas anteriores é realmente um privilégio sedutor.

    ”Que venga entonces el prossimo” “The Wrong Picture” com cenário de Roma como vc divulgou e disse, Eleonora,- “a gente sempre quer mais em se tratando de WA”, - curiosos em saber qual vai ser seu criativo fio condutor por Roma “che noi tutti piacemo”..e depois desse filme, quem sabe, nosso Rio de Janeiro como cenário.

    Não que não gostasse do diretor interpretando seu personagem principal nos seus filmes, mas essa decisão recente de renovar o elenco a cd fita e principalmente de substituir-se por outro ator sendo-lhe alter ego é ótima, dando até mais graça. Vcs devem ter reparado nos maneirismos, roupa e fala a la Woody Allen, intepretados pelo Owen Wilson. Quase um dublê. Perfeito e Divertido!
    Bj

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  7. Ser amigo,
    Como é bom ver um filme de Woody Allen!
    Ele nos inspira sp. Mas esse "Meia Noite em Paris" é imbativel.
    Todo mundo comenta, falando ou escrevendo, como nós.
    Repito: quero mais!
    Bjs

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