sexta-feira, 4 de março de 2011
Incêndios
“Incêndios”- “Incendies”, Canadá, 2010
Direção : Dennis Villeneuve
Palmeiras ao vento. Alguém canta em uma língua que parece árabe. Janelas abertas para um vale verdejante e rochoso. Dentro da casa um menino de olhos tristes e vazios tem o seu cabelo cortado por um adulto. Outros meninos sofrem o mesmo destino. Rifles na mão de soldados. Que lugar é esse?
“Incêndios” é um filme que se desenrola em retalhos, criando um suspense emocionado. A história é contada por imagens que, aos poucos, vamos costurando em nossas mentes em busca de um sentido.
Há capítulos assinalados por títulos em letras vermelhas. Daresh, Le Sud, Deressa, Kfar Ryat, A mulher que canta, Nihad...
Mas o primeiro deles é : Os gêmeos.
Ficamos sabendo que a mãe dos gêmeos, Narwal Marwan, imigrante que vivia no Canadá, pede em seu testamento para ser enterrada nua, com o rosto sobre a terra. Sem pedra nem epitáfio.
Deixou duas cartas para seus filhos. Jeanne (Mélissa Désormeaux- Poulin) deve procurar um irmão deles e Simon (Maxim Gaudette), o pai.
Os gêmeos nunca tinham ouvido a mãe falar desse irmão, nem que o pai deles estava vivo...
Atônitos, escutam o tabelião (Rémy Girard) dizer que, só depois que atendessem ao pedido da mãe, é que ela poderia ter uma lápide em seu túmulo. Uma promessa teria que ser cumprida.
É essa procura e essa investigação que vamos acompanhar passo a passo, muitas vezes nos perdendo nos “flashbacks” e, logo depois, compreendendo melhor a história dessa mulher misteriosa, interpretada com paixão pela atriz belga Lubna Azabal.
Jeanne, a filha, ensina matemática pura na Universidade e escuta do professor a quem assiste:
“- Você descobriu que seu pai está vivo e que você tem um outro irmão. Vá procurar a verdade. Porque sem paz de espírito, nada de matemática pura.”
No segundo capitulo, Narwal, somos levados ao passado da mãe dos gêmeos.
Uma jovem abraça amorosamente um rapaz, debaixo de uma oliveira. É brutalmente afastada dele pelos irmãos que atiram nele e escuta da avó:
“- Você manchou a honra de nossa família!”
Ela é cristã. Ele era muçulmano.
Estamos em um lugar onde a lei do talião, “olho por olho, dente por dente”, é a única que existe. Por causa disso, já existem mortos no futuro.
É uma terra habitada por famílias de crenças religiosas diferentes, que se comportam como tribos primitivas. Cada ato a ser vingado, soma-se a outro e mais outro. Uma sucessão de represálias sangrentas.
Lá, o perdão e a compaixão ainda não nasceram...
E inocentes vão sofrer. Um bebê é arrancado de sua mãe e ela grita aos prantos:
“- Um dia vou encontrar você, meu filho!”
É essa promessa que Narwal quer que seus filhos gêmeos cumpram por ela.
Inspirado na peça teatral do libanês radicado no Canadá, Wadji Mouawad, “Incêndios” não nos diz qual é o nome do país onde tudo acontece. Adivinhamos ser o Libano mas poderia ser qualquer lugar onde o ódio norteia vinganças e separa famílias.
O mais estarrecedor final espera você, espectador de “Incêndios”, que foi indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro.
O diretor Dennis Villeneuve prepara esse final com cuidado e competência. Quando ele vem, deixa a platéia muda e comovida.
Vamos aprender uma lição de amor com “Incêndios”?
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