domingo, 13 de março de 2011

Em um Mundo Melhor





“Em um Mundo Melhor”- “Haevnen”, “In a Better World”,

Dinamarca / Suécia, 2010

Direção : Susanne Bier





Se Jesus Cristo, Buda ou Gandhi voltassem entre nós, pregando lições de amor, perdão e respeito ao próximo, como seriam recebidos?

Esses mestres privilegiavam a não-violência como uma resposta aos conflitos entre os seres humanos. Mas sabemos que poucos, muito poucos mesmo, a praticaram no mundo em que vivemos.

“Em um Mundo Melhor”, filme premiado com o Globo de Ouro e o Oscar desse ano para melhor filme estrangeiro, traz um médico (Mikael Persbrandt) que parece ser uma dessas pessoas raras. Mas não que seja um santo, pois seu próprio casamento vai mal por conta de um caso que ele teve e que a mulher Marianne (Trine Dyrholm) não perdoa.

Sueco, vivendo na Dinamarca, o médico Anton atende regularmente pacientes no Quênia, país devastado por guerras civis.

Seu quotidiano, quando lá está, é levantar-se ao amanhecer e receber, num dispensário improvisado, uma fila de africanos, principalmente mulheres e crianças, que vivem em condições precárias, em tendas no deserto, sofrendo a falta de tudo.

Vítimas da brutalidade de um chefe de uma gangue local, meninas estupradas tem suas barrigas cortadas à faca e seus bebês arrancados de seus ventres, para satisfazer apostas sobre o sexo desses fetos, frutos da violência sexual.

E é nesse mundo, onde o médico vive parte de seu tempo, que ele vai confrontar-se com a questão do mal e será pressionado a conhecer os seus próprios limites.

Mas mesmo quando está na Dinamarca, um mundo melhor se pensarmos que tanto questões materiais quanto de segurança já foram resolvidas, o médico terá também que enfrentar essa mesma questão, aqui disfarçada em racismo, preconceito, ódio, luta pelo poder, falta de compaixão, desejo de vingança e intolerância.

Seu filho Elias (Markus Rygaard) sofre “bullying” no colégio e um garoto novato, Christian (William Johnk Nielsen), que veio da Inglaterra com o pai, sai em sua defesa usando de uma violência brutal contra o agressor.

É que Christian perdeu sua mãe e, já na cerimônia de cremação, nos surpreendemos com o seu rosto severo, seus olhos duros dirigidos ao pai e a falta de lágrimas.

A perda de um ser querido pode gerar muito ódio no coração de quem não consegue lidar com isso.

Esse ódio, justificável para Christian, que crê que seu pai queria que a mãe dele morresse, vai ser dirigido contra outros alvos e até contra ele mesmo, antes que possa ser compreendido e contido.

A diretora Susanne Bier, além de uma excelente direção dos atores-mirins, é responsável também pelo roteiro, escrito em parceria com Anders Thomas Jansen. Contada com delicadeza, sem grandes diálogos e imagens que dizem tudo, a história do filme é um dos trunfos que trouxe todos os prêmios que ele ganhou.

“Em um Mundo Melhor”, que foi atacado como sendo moralizante por alguns, para mim tem o mérito de trazer questões importantes à tona, porque falam sobre a escalada da violência no mundo todo, sem preocupar-se em dar respostas cabais.

O certo é que aponta o coração do ser humano como o lugar onde o mal pode desabrochar a qualquer momento e fazer do homem o lobo do próprio homem.

E talvez sugira a natureza como sendo um lugar de regeneração. Reparem nas belíssimas imagens que Susanne Bier escolheu para finalizar o seu filme generoso.

Aceitar a própria natureza e conhecê-la, para dirigi-la pelo livre arbítrio, talvez seja a saída para os males da humanidade.

Utopia?

Nada entre os humanos é simples, pode ser também uma das conclusões de “Em um Mundo Melhor”.

Pensem e conversem depois do filme.




Trailer de EM UM MUNDO MELHOR - Legendado por claquete_com no Videolog.tv.

15 comentários:

  1. "O certo é que aponta o coração do ser humano como o lugar onde o mal pode desabrochar a qualquer momento e fazer do homem o lobo do próprio homem.

    E talvez sugira a natureza como sendo um lugar de regeneração.Aceitar a própria natureza e conhecê-la, para dirigi-la pelo livre arbítrio, talvez seja a saída para os males da humanidade."
    É BEM PARADOXAL que a saída para os males da humanidade, esteja tão distante (pelo menos, na minha opinião) do que se observa nos homens hj em dia.
    Talvez maior que a escalada da violência, seja a escalada das boas intenções, da religiosidade, do vai com Deus, fica com Deus e todo mundo fazendo aquele coraçãozinho com as mãos.
    Todos ignorando solenemente a existência do bem e do mal dentro de si mesmos.
    Me lembrei do Roberto Carlos, que diz "se o bem e o mal existem" em uma de suas músicas e a certa altura de sua vida, passou a não dizer mais a palavra mal. Ficou assim a música: "se o bem e o bem existem..."
    Entusiasticamente acompanhado de Hebe Camargo & Cia Ltda, que se recusam terminantemente a admitir que qq resquício de maldade exista em seus corações.
    O poema em linha reta do Fernando Pessoa, onde ele se pergunta "será só eu que sou vil nesta terra" fala bem disso.
    Hj em dia, todo mundo é tão bom, mas tão bom, mas tão bom, que todos ficam estupefatos quando as violências irrompem na mídia e têm que se deparar com a comprovação que o mal existe, sim, embora nunca seja autoria deles.
    O politicamente correto invade até a literatura infantil e não se pode mais dizer "atirei um pau no gato" ou que no coração da floresta existe um lobo mau ou que, por inveja, a rainha se traveste em uma boa senhora que entrega uma mação envenenada para a Branca de Neve, por pura inveja, pq ao perguntar para o espelho: "espelho, espelho meu, existe no mundo alguém mais bela do que eu", o espelho respondia o que sabemos que ele respondia.
    Eu tinha vontade de falar da taxa de lixo que a Marta Suplicy baixou em São Paulo, mas acho q estou delirando demais.
    MAS QUE FOTO LINDA É ESSA, HEIN ELEONORA?
    Quando a gente pensa que...

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  2. Sylvia querida,
    E que mulher de opinião firme vc é,ein?
    Gostei mt do que vc escreveu e assino embaixo. Aliás esse filme é rico também nesse sentido de fazer surgir essa questão negada na nossa sociedade:o mal existe em nós e se não tomarmos cuidado ele tende a crescer e dominar-nos. A repressão deve começar dentro de cd um para que melhore o nível de violência do mundo.
    E a foto é antiga. Foi tirada na Nova Inglaterra, região ao norte de Nova Iorque no outono. As folhas eram deslumbrantes e o cenário de filme.
    Bjs

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  3. ":o mal existe em nós e se não tomarmos cuidado ele tende a crescer e dominar-nos."

    então, eleonora, vc disse isso e voltando para roberto carlos, hebe camargo e ivete sangalo, e xuxa eu fico pensando que em nd os afeta o fato de acreditarem q neles nem o menor resquício de mal existe.
    estão sp "numa boa", não é?
    nd contra esses (e outros) famosos, apenas que eles são ícones e mestres na arte de negar q o mal existe neles e como são mto imitados, fico pensando para onde caminha a humanidade regida por essas mãos.

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  4. Querida Sylvia,
    Precisamos urgente de modelos mais conscientes e maduros. Concordo.Mas o ponto é que qto mais a pessoa se infantiliza e nega a própria maldade, mais se aproxima desses "idolos de pés de barro" que confirmam o auto-engano...A negação é uma defesa poderosa. mas sai debaixo qdo ela desmorona...
    Acho que só a duras penas as pessoas amadurecem. Quem não consegue...Talvez seja isso a causa de tanto Alzheimer na velhice...
    Bjs

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  5. Finalmente encontrei quem fala assim do Alzheimer.
    Eu sp pensava q uma vez amadurecida, a pessoa não consegue voltar pra trás e quem volta é pq não tinha saído da infância mesmo.

    Mas voltando à foto: e vc foi vestida com aquelas cores de propósito?
    Pq vc e a natureza se integram tanto, que...

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  6. Querida minha,
    Foi uma feliz coincidência.Estávamos de carro, apreciando as folhas de outono, quando eu vi o riacho e pedi para o meu marido parar o carro.Aí ele tirou foto.
    Um dos lugares mais lindos que eu já vi na minha vida! Por isso disse que parecia cenário de cinema.
    Bjs

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  7. Que bonitinho.
    vc falou em riacho e eu me lembrei q tenho uma poesiazinha assim:

    Riacho
    Acho
    que um dia
    ainda te acho!
    Ah! Se acho.

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  8. Só agora assisti O DISCURSO DO REI e MINHAS MÃES E MEU PAI e vou escrever aqui neste post, me perguntando: será que pode?
    Achei bem legal esse das 2 mães, mas não me conformo com o fato do pai ser crucificado no filme e um pouco pela Eleonora q o definiu como um "simpático e irresponsável sedutor".
    Talvez como os personagens do filme TEOREMA - inesquecível TEOREMA - eu tenha sido seduzida por ele, mas não vi nd de irresponsabilidade nele e não sei pq foi tão rechaçado por todos na família.
    Afinal, o "caso" entre ele e uma das mães aconteceu de forma natural e se aconteceu, tanto ele, quanto a mulher fizeram o que fizeram, pq quiseram.
    O final pareceu ser moralista ou coisa parecida, como se ele tivesse que ser punido por desfazer aquele lar tão "perfeito".
    E depois que ele sai de cena, tudo afinal, volta ao normal e todos serão felizes para sempre.
    Na minha opinião, ele foi a vítima na história.
    Tava lá quieto no seu canto.
    Foi procurado pelos filhos.
    Reagiu muito bem, aceitou os filhos, foi simnpático com todos e acabou sendo expulso dessa família, que se mostrou mais convencional que outra família comum, por assim dizer.
    ô dó.

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  9. Sylvia querida,
    Faz tempo que eu vi Duas Mães mas acho que o perfil do pai combina com uma pessoa menos responsável que o personagem da Annete Benning. Claro que o roteiro quer privilegiar a familia, mesmo que seja diferente.Aliás o objetivo é mostrar que aquela é uma família igual às outras.
    O filme é machofóbico. Tem razão. Mas um troco, os homofóbicos mereciam há mt tempo, não acha?
    Bjs

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  10. Acho q fiquei decepcionada com o final.
    Pasolini foi mais fundo no seu TEOREMA, né?
    Ele implodiu a família e aqui tudo continua igual depois da passagem do furacão.
    Ou, pelo menos, uma das mães e o pai pudessem viver o amor por um tempo, já que a relação das mães estava definitivamente desgastada.
    Ou não?

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  11. Correndo o rigor de ser considerado machista, quem me conhece sabe que não o sou, fico com a Sylvia, do lado do pai doador. Talvez sua única “sedução irresponsável” fosse, diria que mais inconsciente, de que aquela relação retornaria á situação original do casamento gay. Por isso ele facilita (explora?) a aproximação com Jules.
    Ser expulso da relação, talvez tenha lhe aliviado, mas o personagem expressou sofrimento pela separação, como que querendo ficar.

    Talvez prefira esse estar de bem a vida do pai, com a relação solta que ele cria com os filhos e as mães do que o quanto de estrago faz uma personalidade perfeccionista, controladora, possessiva até, como a de Nic, (Annette Benning). Que poderia tbém ser a de um homem, em vez de uma mulher no comando. Ela põe a perder a magia que estava se formando nesse novo núcleo familiar não convencional.
    Sem falar do estrago de uma personalidade com sentimento de culpa e mil ansiedades, como a de Jules, (Julianne Moore).
    Adorei o filme, mas como aprofundamento do tema, fico com a Sylvia e o trabalho de TEOREMA; afinal uma vez Pasolini, sempre Pasolini.

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  12. Um pitaco (é assim que se diz?).
    Quem sabe COPIAR esses comentários desse filme junto do texto correspondente. Há pessoas que buscam pelo filme após tê-lo visto posteriormente e encontrarão lá esses comentários pertinentes ao filme citado.
    Foi o que fiz, por ex. agora, para enviar a vcs esses "palpites" (in)felizes que postei logo acima.

    Ótimo final de semana de filmes e de outros tantos ótimos que a VIDA nos reservar com nossa ajuda. Bjs.

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  13. seramigo, já q vc é bem mais esperto q eu na internet, poderia copiar meus comentários lá tb.
    ou, então, leia-se: já q vc não é tão preguiçoso qto eu...

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  14. Será que a Diretora PresidentA do Blog acha uma boa idéia?
    Qto ao mais ou menos esperto e ou preguiçoso, todos nós temos um pouco, como diz o verso popular.

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