terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Tetro
“Tetro”, Estados Unidos, 2009
Diretor: Francis Ford Copolla
Pode a sombra de um pai poderoso anular o talento de um filho? Há uma história bíblica terrível que fala sobre o castigo exemplar reservado ao anjo mais brilhante que quis superar a luz do Deus/ Pai...
Certamente entre um pai e uma filha as coisas são mais doces e ela pode subir nos ombros do pai e querer ser tão famosa quanto ele. Falo de Copolla, o pai e Sophia, a filha, irmanados pela mesma profissão e sucesso.
Já em “Tetro”, que Copolla veio lançar aqui no Brasil, o tema é mesmo a relação pai/filho tempestuosa, que volta a ocupar o centro da história, combinada à rivalidade entre irmãos. A saga do “Poderoso Chefão” era calcada também nesse assunto. Em “Tetro”, o diretor retoma a rivalidade masculina, a hierarquia imposta como teocracia, a inveja e o ciúme. Considera-o seu filme mais pessoal e é responsável pelo roteiro.
Copolla disse em entrevista no Brasil que “Tetro”, apesar de não ser autobiográfico, é um filme inspirado na sua família. Alude a diferenças entre ele próprio e seu irmão mais velho e à disputa existente entre seu pai Carmine e seu tio Anton.
Em “Tetro” tanto o pai quanto o tio são interpretados pelo célebre ator alemão Klaus Maria Brandauer (“Mephisto”, 1981) que diz em uma das cenas mais marcantes:
“- Só tem lugar para um gênio nessa família!”
A história em “Tetro”centra-se no encontro de dois irmãos: um deles, Angelo, o mais velho, foge da família e de New York, para refugiar-se na Argentina e o outro, Bennie, o mais novo, vai ao seu encontro pois não o vê há 10 anos.
Angelo tornou-se Tetro (abreviação do nome da família, Tetrocini) e mora em La Boca, o bairro boêmio de Buenos Aires. Namora Miranda (Maribel Verdú), psiquiatra que gosta de dançar e é um escritor fracassado. É sombrio e torturado. Vincent Gallo brilha nesse papel.
Bennie (Alden Ehrenreich), tem só 17 anos e ama e admira o irmão mais velho, intuindo que ele tem a chave do mistério da família, separada por conflitos não compreendidos pelo jovem tão ingênuo quanto belo.
Com a chegada do benjamim, o passado vai ser trazido à tona. Ele é o fruto de todos os dramas que ignora mas pressente.
Bennie, o mais puro, quer saber a verdade e vai enfrentar-se com sua luz que pode tanto cegar e até matar, quanto salvar, se temperada pela descoberta do amor e do perdão.
A luz ocupa um lugar importante em “Tetro”, tanto metafóricamente, como por exemplo, quando no início do filme atrai a mariposa que vai morrer, quanto como artifício, ao fazer um jogo de sombras e aludir a mistérios, na fotografia em magnífico preto e branco. As cores são usadas com parcimônia pelo diretor, para cenas do passado e balés surrealísticos onde tudo é dito sem palavras.
Durante todo o filme o espectador é envolvido por um clima de suspense criado por um jogo de espelhos e troca de papéis.
Tudo termina num festival dionisíaco na Patagônia, com Carmen Maura de sacerdotisa. O transe é substituído pelo conhecimento necessário.
Hoje em dia, após muitos problemas, Francis Ford Copolla sente-se um homem livre, pois financia e produz os próprios filmes com os proveitos de sua vinícola na California. Sente-se livre também porque, a esta altura de sua vida, pode fazer os filmes que quiser, desde que caibam em seu orçamento. Ele diz:
“- Quando faço filmes não busco fama nem dinheiro. O que eu quero são respostas. Esse filme foi, de certa forma, uma chance que eu tinha de aprender sobre a minha própria família. E, aos 71 anos, o cinema interessante para mim é aquele em que você pode aprender algo.”
Assista “Tetro” e aprenda com esse homem genial.
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Uma vez a Eeonora escreveu que escolhe fotos suas pra ilustrar os filmes, que ela acha que tem algo a ver com a história narrada.
ResponderExcluirAqui ela fala de uma psiquiatra que gosta de dançar e eu fiquei pensando que a escolha da foto se deveu a isso, já que ela é uma psicanalista que parece estar louca pra cair na dança na foto e que, certamente, gosta muito de viver e de escrever.
Quanto ao filme, esse eu quero assistir.
Sylvia querida,
ResponderExcluirAcertou! Você é craque e vai adorar Tetro. Talvez esse seja meu último texto do ano porque vou viajar e volto em Janeiro.
Adorei escrever aqui e, principalmente, trocar idéias com quem se aventura, como você.
Bjs de Bom Natal e feliz 2011!
Se vc tem saudades de Orson Welles, Fellini e do expressionismo de Murnau, vai se deliciar com o talento das imagens de Coppola e dos recursos utilizados nas fantasias alegoricas e nos cortes do SEU filme familiar. E se esse tema tambem ainda mais atrai vc, o filme é imperdivel. Mostrando o lado escuro das familias, sempre mantendo no porão os segredos familiares perturbando uma Vida que poderia ser mais leve se os trouxessem a superficie.
ResponderExcluirTalvez essa fosse uma das tantas coisas a "aprender com esse homem genial", como vc, Eleonora, finaliza seu texto, que ate exorcizou nesse filme seu segredo de familia. Coppola não dá moleza; tudo que é do FFC, é pesado, sizudo como ele sempre foi.
A figura mais leve e sorridente é a Psiquiatra Miranda, namorada de Teatro, que gostava de dançar.
Alem dela, tambem outra(s), sabemos que gosta(m), nao so de dançar, como de se sincronizar(em) com os movimentos da VIDA!
Querendo aliviar um pouco o clima desse filme, que mesmo nessa tematica é agradavel de ver, quem sabe, assistindo a comédia "Mine Vaganti - O Primeiro Que Disse", do turco-italiano Ferzan Ozpetek que VC recomendou.