quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret



“A Invenção de Hugo Cabret”- “Hugo”, Estados Unidos 2011

Direção: Martin Scorsese



Sobrevoamos Paris toda branca, sob um manto de neve. A Torre Eiffel reluz na manhã.

Lá embaixo, a Gare Montparnasse, uma grande estação de trens, fervilha de vida. Mergulhamos.

Gente que entra e sai dos trens, a florista com seu carrinho colorido de buquês, o café cheio de clientes, a orquestra que toca, casais dançam, a loja que conserta brinquedos, a livraria, o inspetor de polícia que passa com seu doberman, os vendedores ambulantes.

É todo um mundo que vamos conhecendo em detalhes mas muito rápidamente, respirando o ritmo apressado desse lugar.

Por uma fresta do grande relógio da estação, um menino de olhos azuis, observa o movimento do mundo lá fora.

Mundo proibido para o órfão que vive escondido em meio às engrenagens dos relógios. Ele conhece como ninguém aquelas entranhas escuras, suas escadas em caracol, torres, corredores, tubulações, entradas e saídas por entre os gradis de ferro ao rés do chão.

Desde que seu tio beberrão desapareceu, faz o trabalho dele, cuidando dos relógios.

Vive só, naquele lugar escuro, tendo como companhia o boneco autômato que herdou de seu pai quando ele morreu. Seu ideal é consertá-lo, seguindo as instruções de um velho caderno, e fazê-lo comunicar a mensagem que, acredita, seu pai deixou ali para ele.

O autômato guarda um segredo. Em seu interior, uma fechadura em forma de coração. E Hugo se pergunta:

“- Mas onde estará a chave? “

Tudo isso nos é mostrado em cores e formas que lembram as ilustrações de antigos livros infantis.

Nossos olhos maravilhados são atraídos pela ilusão de profundidade do 3D, usado de uma maneira espetacular, como nunca se viu antes.

Martin Scorsese, mestre de cinema, 69 anos, em seu 30º filme, “A Invenção de Hugo Cabret”, nos faz penetrar num mudo de pura magia.

Sem fôlego, corremos com o menino e vivemos suas aventuras.

Mas o filme tem uma segunda intenção.

Logo, Hugo (Asa Butterfield, do “Menino do Pijama Listado”) encontra Isabelle (Chloe Grace Moretz, de “500 Dias com Ela”), filha adotiva do severo homem que conserta brinquedos (Ben Kingsley, de “Gandhi”) e a leva para uma nova aventura: uma sala de cinema, onde penetram escondidos e assistem deliciados a filmes mudos.

E essa é a deixa para Scorsese envolver-nos em sua paixão. Vamos ver trechos de filmes dos inícios do cinema, puras preciosidades.

Há uma defesa calorosa da 7ª arte, aquela que, usando todas as outras, está alí nas salas de cinema nos bairros de cada um de nós.

Popular, mas nem por isso menos sofisticada, a arte do cinema encanta gerações, nos ensina Scorsese, desde que os irmãos Lumière a inventaram em 1895.

Scorsese homenageia, principalmente, Georges Meliès (1861-1938) que, através de seus mais de 500 filmes, levou o grande público ao cinema.

Mas o que fazer com quem não se emociona mais com nada? Estão “quebrados”, diria Hugo Cabret que achava os homens parecidos com as máquinas.

Quando perdemos a capacidade de nos encantar, é porque estamos cegos pela tristeza e depressão ou nossos olhos estão baixos porque pensamos não ter valor, nossa auto-estima está baixa.

Tem conserto?

Scorsese aponta para a chave que cura esse males: alimentar o amor, a imaginação e os sentimentos vivos que moram no nosso coração.

Vá ver esse filme com a mente e os olhos abertos e deixe-se levar por essa obra de arte magnífica.




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