domingo, 4 de setembro de 2011

Medianeras - Buenos Aires na Era do Amor Virtual




“Medianeras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual” –
“Medianeras”, Argentina/Espanha/Alemanha, 2011

Direção: Gustavo Taretto





Perfis de edifícios na noite. De dia, prédios e mais prédios escondendo o horizonte. Uma cidade que poderia ser São Paulo mas é Buenos Aires.

Ouvimos a narração em “off ”:

“Buenos Aires cresce descontrolada e imperfeita. Sem nenhum critério constroem-se milhares de edifícios. Estilos diferentes convivem lado a lado.”

A voz acrescenta uma reflexão:

“Essas irregularidades estéticas nos refletem. Porque nossa vida é assim. Irregularidades estéticas e éticas.”

E pergunta: “O que esperar de uma cidade que dá as costas ao rio?”

Ao longo de três capítulos (Outono Curto, Inverno Longo e Finalmente Primavera), o filme “Medianeras” vai contar, com humor e leveza, através das banais pequenas tragédias quotidianas, as histórias de Martin (Javier Drolas) e Mariana (a bela espanhola Pilar Lopez de Yala). Os dois tem menos de 30 anos, são solteiros, belos e moram na mesma avenida. Esbarram um no outro mas se desencontram o tempo todo.

Ele vive na internet, desenha “sites” e quase não sai de casa. Quando isso acontece, leva uma pesada mochila nas costas, como se fosse passar perigo de vida numa selva. Luta contra a insônia. O único ser vivo que lhe faz companhia é Susú, a cadelinha da noiva que foi embora e não voltou.

Ela é arquiteta mas nunca construiu nada. Virou vitrinista e não consegue arrumar o apartamento para onde se mudou. À sua volta, em vinte e sete caixas de papelão, está embalada toda a sua vida. Acabou um relacionamento de quatro anos. Tem medo de elevador. O livro preferido é “Onde está Wally?”. Ela já achou todos, menos o da cidade. Procura com lupa e se desespera. Chora quase todo o dia.

Esses dois tem muito em comum: são solitários, moram em “caixas de sapato”(kitinetes), procuram alguém para amar e seus corações estão feridos por amores que não deram certo

E são vizinhos. Mas são como o sol e a lua. Um encontro impossível? Ou previsível?

Tudo começa a mudar quando ambos abrem janelinhas na “medianera” de seus edifícios. Naquela parede lateral que é usada para colocar anúncios imensos.

Gustavo Taretto, 45, faz sua estréia com esse longa. O filme já foi sucesso no Festival de Berlim, o que garantiu sua distribuição pelo mundo todo. Em Gramado levou três prêmios: melhor longa estrangeiro, melhor diretor e melhor filme pelo júri popular.

“Medianeras”agrada porque é sutil, engraçado sem apelações, triste sem ser pesado e fala de amor.

A inspiração do diretor e roteirista em Woody Allen é explícita. Vemos uma passagem de “Manhattan” nas TVs dos vizinhos, cada um em seu canto. Um jovem Woody Allen se encanta com Mariel Hemingway, ainda uma ninfeta.

E a gente fica torcendo por Mariana e Martin.

“Medianeras”mostra que seres humanos sempre buscam a mesma coisa. A diferença em nossos dias é que a internet pode ajudar ou atrapalhar.

Encontrar o que se procura vai depender da sorte e do talento de cada um. Não é verdade?

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