domingo, 10 de abril de 2011

Turnê

“Turnê”- “Tournée”, França, 2010 Direção : Mathieu Amalric

“Turnê”- “Tournée”, França, 2010

Direção : Mathieu Amalric



É um filme agridoce. Tem momentos de comédia, outros de drama. Como a vida.

Entre plumas já meio gastas, boás que precisam de remendos e paetês que ainda brilham, apresentam-se as artistas do neo-burlesco americano para o público francês.

Elas não são o tipo que a gente se acostumou a ver fazendo “strip-tease”. Mas recebem aplausos calorosos do público feminino e masculino que entende o que elas querem comunicar: alegria e sensualidade.

Apesar das gordurinhas e das rugas ou, ao contrário, até por causa delas, essas mulheres enfrentam o palco com coragem, vontade de agradar e humor. Principalmente humor.

O diretor do filme que é conhecido como ator, Mathieu Amalric, e que faz o empresário do show, um tipo decadente, para quem a vida não está exatamente sorrindo, ganhou o prêmio de direção em Cannes no ano passado.

Entrevistado, ele ressaltou essa condição essencial do humor:

“- Quando se tem humor e se encara até as dificuldades como parte de toda a experiência, nada pode ser tão ruim”.

Com seus cabelos vermelhos, rosa, louro oxigenado e perucas extravagantes, cinco americanas com nomes de “guerra” hilários como Kitten on the Keys, Dirty Martini, Evie Lovelle, que não são atrizes profissionais, são as meninas que Joachim Zand, o empresário do show, faz desfilar com espantosas bijuterias, estrelas e pompons colados nos mamilos e tapa-sexos de contas brilhantes em bundas enormes e seios cansados.

Elas cantam, tocam piano, dublam, sacodem os cachos e os peitos e encantam as platéias que aplaudem e assoviam porque se comovem com a beleza delas, seu talento e imaginação.

Nos trens, vans e hotéis baratos em que se hospedam durante a turnê pela França, elas são uma família. Amparam-se mutuamente, riem, choram, trocam confidências. São solidárias até com o empresário que faz com elas uma turnê interiorana e não consegue o teatro para o tão sonhado show em Paris.

Mathieu Amalric, que foi um dos escritores do roteiro, conta em entrevista em Cannes que se inspirou em um texto da famosa escritora Colette. Ela era atriz e, aos 30 anos, participou de shows nos quais representava pequenas cenas com pouca roupa, o que causava escândalo e sensação. Fruto dessa experiência, ela escreveu “L’Envers du Music Hall”.

Amalric diz que encontrou no neo-burlesco americano, a tradução atual para o que Colette escreveu. E assim nasceu o roteiro.

Aliás , foram as próprias intérpretes que inventaram a coreografia e os figurinos que vemos no filme.

“Turnê” é uma homenagem à solidariedade, à beleza fora dos cânones oficiais, à sensualidade e à vontade de viver.

Mas, acima de tudo, põe em destaque a força de mulheres que tem o poder de transformar a vida em algo que vale a pena viver, mesmo que em meio a dificuldades e desenganos.

10 comentários:

  1. A crítica da Eleonora sp me dá vontade de ver o filme e qdo eu for, escrevo o q achei, mas o que me chama atenção agora é essa morena de franja preta na foto acima.
    É de praxe ser da Eleonora, mas fiquei na dúvida quem será e o q estará fazendo com essa roupa roxa tão estranha.

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  2. Querida Sylvia,
    Que bom que vc perguntou pq eu acho qe todo mundo vai estranhar mesmo.
    Essa morena de franja sou eu com 19 aninhos. Posei para a maravilhosa fotógrafa Claudia Andujar, que na época estava envolvida com tribos indígenas. Era dela esse boá que ela colocou em volta do meu rosto e clicou.
    A foto foi publicada na revista Realidade em uma matéria sb beleza feminina comentada por homens das mais diversas profissões. A mim coube um jardineiro que falou uma frase singela. Pena que eu não me lembro mais...
    Bjs

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  3. Ô dó, que pena q não lembra o que o jardineiro disse.
    Mas o boá é indígena?
    Na foto vc parece ser tudo menos brasileira.
    Instigante.

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  4. Querida Sylvia,
    Pois é... A gente quando é criança não sabe que vai valorizar esse tipo de coisa no futuro...
    Acho que as penas eram indigenas. Pq nem sei se era boá ou um colar...Mas como ela era super ligada em indio, não deveria ser um boá de penas da 25 de março, né?
    Bjs

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  5. olá Eleonora

    A foto é deslumbrante. O cadre da foto tb.

    Assim que assistir o filme, envio o meu comentário.
    bjs,
    Sonia Clara

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  6. Sonia Clara querida,
    Leia a história da foto acima.
    Sua presença, como sp gentil. Obrigada! Aguardo o comentário.
    Bjs

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  7. Eleonora querida,

    E como disse,é uma foto tua lindíssima e a cor(purple) do boá, é uma beleza. A história é simples e bela.
    Bjos,
    Sonia Clara

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  8. Eleonora querida,

    Assisti emocionada este belo filme. É uma crítica impiedosa que o Mathieu Almeric faz do Teatre Burlesque. Atravessa o filme, a melancolia e sobretudo a decadencia. Objetivo a meu ver, principal deste filme. As locações sinalizam muitas vezes "o sem destino" de todos os personagens. Alguns "takes" manhã/ entardecer
    parecem inspirados no mestre Fellini. A sonoplastia dos bastidores, coxia e camarins deslumbrantes. O rosto da atriz Miranda Colclasure alinhava a trajetória patética dessses personagens sem rumo e a heróica resistencia desse produtor para sobreviver.O "Kitsch" se impõe com absoluta naturalidade e sua extravagancia bizarra. Seja na maquiagem,que em momento algun parece "aplicada". Soube que na vida real, esse grupo de mulheres maravilhosas, são cabaretiéres.
    A direção segura do ator Mathieu Almaric surpreende. Seu trabalho de ator tão sensível emociona.
    Mais uma vez sua sensibilidade apontou na melhor direção.
    Bjo carinhoso para vc
    Sonia Clara

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  9. Sonia Clara querida,
    Seu comentário adiciona esclarecimentos à minha coluna.Obrigada amiga!
    Bjs

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  10. Quando eu o assisti só havia uma sala na "cidade que não para " ( o para verbo perdeu o acento com a reforma ortográfica, que chato )e uma sessão à noite, tive que dar o cano na faculdade... Gostei do filme, é sempre bom ver algo diferente do circuito comercial ao qual estamos acostumados a adivinhar o que vai acontecer a seguir. Neste não,é sempre um mistério. No começo o personagem do Mathieu me pareceu um cara seco, duro, frio e egoísta que só estava se aproveitando delas mas com o decorrer do filme ele vai se transformando até chegar a uma pessoa sensível, frágil e aparentemente incompetente no amor. Aquelas mulheres dão a ele a alegria de que precisa, aliás que todos nós precisamos.

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