terça-feira, 18 de janeiro de 2011
Dieta Mediterrânea
“Dieta Mediterrânea”- “Dieta Mediterránea”, Espanha, 2009
Direção: Joaquim Oristelli
Esse é um daqueles filmes que você saboreia. Pertence a uma linha de cinema que faz sucesso explorando o tema da culinária: “A Festa de Babette”(1987), “Vatel, o Cozinheiro do Rei”(2000), “Estômago”(2007), “Julie e Julia”(2009), ”Comer Rezar Amar”(2010), para citar só alguns.
E parece certo que tais filmes são apreciados porque falam de uma arte necessária à vida prazeirosa. A cozinha, quando regida por pessoas dotadas, torna-se um lugar de descobertas, de transformações, onde sabores e cores são usados para deliciar nossos olhos e estômago.
Acrescente-se a isso uma bela pitada de sexo e temos “Dieta Mediterrânea”, um filme espanhol dirigido por Joaquim Oristelli.
“Salerosa”, Olivia Molina, a “chef” Sofia, ao redor de quem gira o filme, é uma morena atrevida, mandona e jeitosa. Encarna o eterno feminino, com tudo o que tem de matriarcado, num flexível corpo esguio e belos seios.
Ela é esposa, amante, mãe, filha e “chef” de cozinha. Segue a carreira do pai, para desgosto da mãe, Carmen Balagué, maravilhosa atriz de “Tudo sobre minha mãe” de Pedro Almodóvar.
E Sofia consegue fazer com que o seu talento seja reconhecido pelos grandes “chefs” europeus, entre os quais Ferran Adrià, que aparece em pessoa no filme.
Para quem não sabe, Adrià é o “chef” de um dos mais famosos restaurantes do mundo, El Bulli, que fica em Roses, na Costa Brava, Catalunha, ao norte de Barcelona. Usando novas tecnologias e buscando sabores inesperados aliados a texturas elaboradas, ele desenvolveu uma cozinha criativa que dá o que falar. Tem gente que faz reserva para conseguir mesa só um ano depois. El Bulli é famoso por seu menú degustação de 30 pratos, que convida as pessoas a provar sem saber o que estão comendo. Tudo pela descoberta de paladares adormecidos pelo quotidiano.
Mas o detalhe apimentado do filme é que Sofia é uma versão espanhola de nossa dona Flor, criação de Jorge Amado, vivida por uma inesquecível Sonia Braga nas telas.
As duas cozinham como deusas, são sensuais até a ponta dos dedinhos nas panelas e dão conta de dois homens.
Sofia escolhe esse destino, ao contrário de dona Flor, que parece sujeitar-se ao que acontece com ela, levemente constrangida, mas, secretamente adorando tudo aquilo.
A cena de Vadinho, o marido fantasma, nu pelas ruas de
Salvador abraçando dona Flor gingando ao lado do marido vivo, fecha o filme de Bruno Barreto de uma maneira magistral.
Em “Dieta Mediterrânea”, Sofia na cama, aprecia seus dois homens nus, em frente a ela, de costas para a platéia. A inspiração no filme brasileiro fica bem clara. Eu diria que é uma homenagem.
Mais que em “Jules e Jim” (1961) de François Truffaut, que é citado no filme, “Dieta Mediterrânea” se parece com “Dona Flor e seus dois Maridos” (1976). A diferença maior é que a “chef” Sofia, nascida em 1968, no dia do assassinato de Bob Kennedy, é mais contemporânea que a gentil professora de culinária dona Flor.
Mas longe de qualquer ousadia maior, “Dieta Mediterrânea” é um filme comportado que mais sugere do que mostra, em matéria de cama. Seu local predileto é a cozinha onde Sofia é a sacerdotisa a serviço do ritual de preparar a comida, a ser servida e apreciada.
O filme é contado através de um “flashback” que vai desde o nascimento de Sofia até o nascimento da narradora do filme, sua filha, que tem um nome muito peculiar.
Se vocês forem ver “Dieta Mediterrânea”, vão rir dessa última graça do roteiro de um filme gostoso de ver.
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Os trailles voltaram.
ResponderExcluirQuerida Sylvia,
ResponderExcluirO mais importante foi que VOCÊ voltou!Bjs
estimulado pelas suas citações de filmes, ELEONORA, não resisti em acrescer a sua lista,
ResponderExcluirA COMILANÇA (la grande bouffe, frança/itália,73), onde Marco Ferreri leva o prazer da comida aos extremos, - VIDA & MORTE - talvez o mesmo ponto da mesma origem, c/ a monumental interpretação de Mastroiani/ Piccoli/Noiret; lembrei tbém, se me permite, de uma cena só, do filme “O Primeiro que disse”, qdo a avó se “despede” com o prazer de seu "lauto proibido".
Tanto roteiro, qto a linguagem, parecem vídeo caseiro, felizmente manejado pelo profissionalíssimo Joaquim Oristelli.
Diversão & “Instigação”, tais como...
1) algum crítico, desculpe não lembrar, mas deixo aqui o crédito, observou que o filme é um comercial da culinária catalã. Pegando o “gancho”, diria que mais do que a comida, maior ainda é a propaganda da "alma catalã, tan caliente" que não se satisfaz com os hábitos “testosteronais” normais, precisando de um tempero a mais para lhe fazer companhia ou cumprir sua dieta .... Se é que me entendem!! Repararam que tudo isso se dá exatamente com a personagem feminina, cuja presença jamais seria admitida na cozinha de um restaurante, no caso catalão?!
O desafio de Sofia é que se pode chamar realmente de revolução feminista!
Já pensaram se endócrinos e nutricionistas aderirem e começarem a prescrever a dieta mediterrânea?!
2)e o “LUNES/off” do casal de 3(tres) ,
lembra alguma moda dos idos final 70, início de 80?! Não?! Certeza?!........
Não vão me dizer que não se lembram do DAY OFF?
Aliás ainda hoje, perfeitamente válido e útil.
Não sejam maliciosos,... atiçei a memória de vcs, não a imaginação!!!
Só estranhei o pudor em falar da relação entre os dois homens do trio.Eles se beijam "por acidente" ficam encaixados um no outro para acariciá-la, mas não se beijam de verdade em nenhum momento.
ResponderExcluirAcredito que a sexualidade humana temm um pouco a ver com condicionamento além da genética, e para um trio funcionaras três partes devem gostar um do outro, o que era o caso.
E acho difícil acreditar que depois de tanto tempo de afeto e de dividir a cama os dois homens ainda tivessem tantas reservas um com o outro.O filme ao mesmo tempo que tenta parecer moderninho é bem tradicional, para não chocar tanto.